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Queda do petróleo ameaça Orçamento da Venezuela
FABIANO MAISONNAVE
DE CARACAS
A queda brusca do preço do
petróleo e o contínuo aumento
dos gastos públicos têm provocado na Venezuela alertas sobre a debilidade da economia
diante da dependência quase
total e crescente do produto.
As previsões pessimistas têm
sido rechaçadas diariamente
pelo presidente Hugo Chávez,
segundo o qual o país se preparou para o "fim do capitalismo".
O preço do barril do petróleo
venezuelano (mais baixo por
ter qualidade inferior) despencou no fim da última semana a
US$ 68, uma queda de 16%
(US$ 13) em apenas sete dias,
depois de passar a maior parte
do ano acima dos US$ 100.
Ainda assim, o preço atual é
superior ao do ano passado,
com uma média de US$ 64,74.
E muito maior do que quando
Chávez chegou à Presidência,
no início de 1999 -só US$ 8.
Apesar da gordura aparente,
um estudo divulgado na semana passada pelo Deutsche Bank
afirma que a Venezuela precisa
de que o preço do barril fique,
em média, a US$ 95 para evitar
uma crise no Orçamento.
A exploração do petróleo é a
única atividade econômica relevante da Venezuela, responsável por 94% das exportações
e por cerca de metade da arrecadação fiscal. O principal comprador são os EUA, epicentro
da crise e arquiinimigo do governo Chávez, com quase 45%
das exportações.
É sobretudo com os dólares
norte-americanos que o governo financia a expansão do gasto
público por meio, entre outros
gastos, de suas dezenas de programas sociais, das nacionalizações de setores como energia
e siderúrgica e da importação
de alimentos -80% do que comem os venezuelanos vêm do
exterior.
"A situação na Venezuela pode ficar bastante difícil porque
o gasto público é muito alto, e
não será politicamente fácil
ajustá-lo a uma menor renda
petroleira", disse o economista-chefe do Banco Mundial para a América Latina, Augusto
de la Torre, ao "Miami Herald".
Crítico de Chávez, o ex-diretor do Banco Central, Domingo
Maza Zavala, disse à Folha que
a Venezuela chegou ao fim de
mais uma bonança petroleira
repetindo os erros do passado.
"Não criamos uma economia
produtiva, e o Estado se expandiu de maneira extraordinária:
2,2 milhões de pessoas vivem
dele, o dobro do necessário. Esse encargo oculta o desemprego e não contribui para o aumento do PIB", argumentou.
Para o economista José
Guerra, também ex-BC, o governo venezuelano deveria se
precaver da inevitável redução
na arrecadação cortando os
gastos com compras de armamentos militares, reduzindo a
ajuda internacional a países como Cuba e revertendo as estatizações do Banco Venezuela
[do grupo Santander] e da cimenteira mexicana Cemex.
Em resposta às análises sombrias, Chávez, em plena campanha para as eleições regionais de 23 de novembro, afirmou ontem que, "se o preço do
petróleo voltar como em 2006,
quando terminou em US$ 55 o
barril, tenham a plena segurança de que a crise mundial não
afetará a Venezuela".
Em aparente demonstração
de que a queda do preço não
preocupa, o ministro das Finanças, Alí Rodríguez, apresentou anteontem o Orçamento de 2009, em que há um incremento nominal de 22% e
um aumento de 37,6% para
46,5% de recursos petroleiros
no total de arrecadação em
comparação a este ano.
Para o presidente da Comissão de Finanças da Assembléia,
o deputado chavista Ricardo
Sanguino, o governo dispõe de
reservas de US$ 40 bilhões, suficientes para "resolver todo o
ano de 2009 e o primeiro semestre de 2010".
Em entrevista à Folha, Sanguino desestimou as análises
internacionais sobre a Venezuela ("se estão tão certos, por
que não previram essa crise?").
Na sua avaliação, o rígido controle de câmbio, que limita a
chegada de capitais especulativos e a saída de divisas, protegeu o país da crise financeira
internacional, ao contrário, diz
ele, de Brasil e Chile.
De acordo com Sanguino, o
aumento do gasto público foi
necessário devido à imensa pobreza da população há dez
anos, mas que essa fase está no
fim. "Inicialmente tivemos de
aplicar políticas assistencialistas, porém isso está sendo superado. Vamos agora à etapa
produtiva", assegura.
Comércio com o Brasil
Se a crise afetar o poder de
compra da Venezuela, o Brasil
será um dos mais prejudicados.
Sob Chávez, o país caribenho se
transformou um dos mais importantes mercados para produtos brasileiros, com um saldo
comercial favorável de US$ 3,2
bilhões somente nos primeiros
nove meses deste ano.
Esse montante representa
16,4% do superávit da balança
comercial brasileira no período, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento.
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