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São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2003

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SISTEMA FINANCEIRO

Custos operacionais diminuíram nos últimos três anos, mas ainda estão longe de padrões internacionais

Banco local melhora, mas ainda é ineficiente

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os grandes bancos brasileiros conseguiram se tornar mais eficientes nos últimos três anos, mas ainda estão longe de atingir padrões internacionais.
Nesse período, os custos operacionais passaram de 7,1% sobre o total de ativos para 6,2%. Quanto menor esse índice, maior a eficiência na gestão bancária -o que ajuda a encorpar os lucros.
Segundo pesquisa da EFC (Engenheiros Financeiros e Consultores), o custo de gerenciamento dos dez maiores bancos brasileiros é três vezes superior ao dos grandes europeus e quase duas vezes o dos americanos. Nos EUA o custo operacional dos grandes bancos em relação aos ativos é de 3,85%, e na Europa, de 2,01%.
Carlos Daniel Coradi, presidente da EFC, diz que a diferença entre os índices de eficiência local e internacionais é determinada, principalmente, pelo volume de ativos. "Os bancos locais são pequenos diante dos americanos e europeus e, para melhorar esse indicador, precisam ganhar escala", afirma Coradi.

Guinada
Para tentar alcançar o padrão internacional, o setor prepara uma guinada para expandir sua base de ativos. Os ativos dos 50 maiores bancos são compostos por R$ 310 bilhões aplicados em títulos e valores mobiliários e R$ 292,7 bilhões da carteira de crédito, segundo o Banco Central.
Com o processo de queda da taxa básica de juros da economia, a tendência é os bancos reduzirem as carteiras de títulos e expandirem as de crédito. Segundo analistas, os grandes bancos projetam aumentar entre 20% e 25% suas operações de crédito em 2004.
"Ao agregar maior volume de tomadores de recursos às suas carteiras, os bancos ganham escala e diluem seus custos fixos", diz Alberto Borges Matias, presidente da ABM Consulting.
Neste ano, os grandes bancos iniciaram um processo de aquisição de financeiras voltadas ao crédito popular, preparando-se para ganhar escala pela via do crédito.
O Bradesco comprou, em maio, a Finasa e, neste mês, adquiriu o banco Zogbi, saltando para o segundo lugar no ranking das financeiras. Em outubro, o HSBC comprou a Losango, e o Unibanco, líder com a Fininvest, comprou a Creditec na semana passada. "Para ganhar escala, é inescapável abordar o segmento de baixa renda por meio do crédito ao consumidor", diz Joaquim Francisco de Castro Neto, presidente da área de varejo do Unibanco.
Para manter os lucros do setor, vale a aposta no crédito ao consumidor: o "spread" nesse segmento é de 52,13%, segundo o BC. Nos empréstimos às empresas, o "spread" é de 14,34%. "Spread" é a diferença entre o que os bancos pagam para captar dinheiro e o que cobram para emprestar.
A lógica dos ganhos de escala foi perseguida nos últimos anos pelos grandes conglomerados financeiros, com a compra de outros bancos. Isso permitiu às instituições inflar os ativos, mas elevou os custos operacionais.
A ABM Consulting analisou os balanços dos dez maiores bancos do país e concluiu que o Bradesco elevou em 50,5% seus ativos entre 2000 e 2002. Mas o maior banco privado do país não reduziu custos administrativos e de pessoal.
Pelo contrário: os custos administrativos cresceram 88,5%, e os gastos com pessoal, 31%. Seu ganho de eficiência -o índice caiu de 6,4% em 2000 para 5,7% em 2002- ocorreu pela diluição dos custos num ativo maior.
O Banespa fez o caminho inverso: cortou pela metade os custos de pessoal e manteve praticamente o mesmo volume de ativos e obteve a melhor evolução no índice de eficiência pesquisado pela EFC. Seus custos operacionais, que em 2000 equivaliam a 10% do total de ativos, chegaram a 6,9% no final de 2002.
Segundo Carlos Alberto Gatti, sócio da consultoria KPMG, a partir do ano que vem o setor deve buscar reduzir seus custos operacionais, para melhorar seu índice de eficiência. Na sua opinião, os bancos podem terceirizar serviços, aglutinar funções para servir várias áreas e investir mais na informatização dos serviços internos, o chamado "backoffice".
"Os próximos dois anos serão importantes em termos de mudança da estrutura dos bancos: eles devem buscar aumentar suas receitas com a concessão de crédito e a prestação de serviços e enxugar custos", afirma Gatti.



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