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São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2003

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Compulsório aumenta custos, afirma Febraban

DA REPORTAGEM LOCAL

A obrigatoriedade de imobilizar recursos no Banco Central e de conceder crédito para determinados setores dificulta o ganho de escala por parte dos bancos e a consequente redução dos custos, afirma Roberto Troster, economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
"Os bancos só podem dispor de 20% do total de recursos que administram para aplicar livremente. Na realidade, 80% dos recursos são absorvidos pelo compulsório e pelo direcionamento obrigatório para o crédito rural e para microcrédito", diz Troster.
Hoje 45% dos depósitos à vista ficam retidos no BC. Considerando-se também o compulsório sobre depósitos a prazo, são mais de R$ 100 bilhões que não podem ser emprestados pelos bancos. "Até o final de 2004 esperamos uma redução de dez pontos percentuais, ou pouco mais, no compulsório", diz Octavio de Barros, economista-chefe do Bradesco.
Troster considera pouco uma redução de dez pontos percentuais. Segundo ele, poderia haver elevação considerável do crédito se esses recursos fossem liberados. Troster defende ainda a redução da carga tributária.
A diminuição do compulsório, dizem os economistas, permitiria o aumento da oferta de crédito em um ano no qual se prevê crescimento de 3,5% do PIB.

Mudanças estruturais
O sistema bancário nacional deverá passar por mudanças estruturais no ano que vem, com expansão dos negócios, nova rodada de aquisições e aumento da rentabilidade, segundo analistas do setor ouvidos pela Folha.
A principal mudança estrutural, na avaliação do economista-chefe do Bradesco, será a expansão das operações de crédito dos bancos. "A carteira total de crédito do setor deverá crescer 22% no ano que vem", diz Barros.
Se comparada à variação projetada para o CDI (Certificado de Depósito Interbancário), de 15,5% em 2004, o volume de crédito deverá ter crescimento real. O CDI é a taxa de juros negociada entre os bancos e, segundo Barros, é "o melhor deflator para avaliar a expansão do crédito".
Segundo suas projeções, as operações de crédito, que hoje representam 25,3% do PIB (Produto Interno Bruto), deverão crescer um ponto percentual em 2004. "Comparado a outros países do continente, como o Chile, onde o crédito representa 64,6% do PIB, o crédito bancário é ainda muito restrito no país", diz Barros.
Para ele, a maior oferta de crédito deverá se dar sem aumento da inadimplência. Além disso, a nova Lei de Falências -que está para ser votada no Senado- pode melhorar a qualidade das garantias bancárias. Por essas razões, os analistas não esperam a repetição da crise de inadimplência que se seguiu à explosão do crédito e do consumo, no início do Plano Real.
O caminho que os bancos deverão trilhar para expandir sua atuação na área de crédito passa por novo processo de consolidação -leia-se compra de empresas do setor financeiro. "Ainda há algumas jóias da coroa, que estão sendo cobiçadas pelos grandes bancos", diz Carlos Alberto Gatti, sócio da consultoria KPMG.
É o caso das empresas especializadas no financiamento de bens de consumo duráveis e das administradoras de cartão de crédito independentes (vinculadas a uma rede de lojas). (SANDRA BALBI)


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