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São Paulo, domingo, 23 de novembro de 2003

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Expectativa é que salários subam até 3% em 2004 com previsão de inflação menor e expansão da economia

Renda deve crescer após sete anos em queda

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

Após sete anos em queda, a renda do trabalhador deve voltar a subir em 2004 -entre 2% e 3% em relação à deste ano-, segundo economistas. Esse crescimento, porém, ainda está longe de repor a perda real dos salários desde 1997, que foi da ordem de 20%.
Para seis economistas consultados pela Folha, a renda do trabalhador vai melhorar porque:
1) A inflação prevista para o ano que vem -da ordem de 6%- será menor do que a deste ano, estimada em 9%. Isso significa que a corrosão nos salários será, portanto, menor do que a de 2003.
2) A maioria das categorias de trabalhadores com maior poder de negociação conseguiu, neste segundo semestre, zerar a inflação passada e obter um ganho real -ainda que pequeno.
3) Essas categorias profissionais servem de parâmetro para as negociações salariais -isto é, a previsão é que uma massa importante de trabalhadores consiga repor a inflação neste ano.
"É como se a renda do trabalhador estivesse, ao longo deste ano, correndo atrás da inflação. No ano que vem, é o salário que estará à frente da inflação. Por isso, a renda média do trabalhador em 2004 será maior do que a de 2003", diz Francisco Pessoa Faria, economista da LCA Consultores.
Pelas suas projeções, a renda média do trabalhador deve subir ao redor de 2% em 2004. Para chegar a esse número, ele considera que a maioria dos trabalhadores vai repor neste ano pelo menos 50% da inflação passada.
Quem não conseguir repor esse percentual -uma parcela pequena de trabalhadores, segundo seus cálculos- vai enfrentar mais um ano de queda na renda em 2004. "Na média, a renda cresce. Mas alguns trabalhadores vão ver a renda crescer mais do que a média. Outros vão ver a renda cair ainda mais", afirma.
Para mostrar o crescimento na renda, Pessoa Faria cita um exemplo. Um trabalhador que ganhava R$ 1.000 em outubro de 2002 chegou em setembro deste ano com um salário equivalente a R$ 864, considerando que a inflação no período foi de 15,7%. O seu salário médio real no período foi equivalente a R$ 905.
Se esse trabalhador conseguiu repor a inflação, o seu salário subiu para R$ 1.161 em outubro deste ano. Considerando que a inflação nos 12 meses seguintes deve bater em 6,5%, o salário cairia para o equivalente a R$ 939 em setembro de 2004. Na média do período, o salário real seria equivalente a R$ 971 -ou 7,3% maior do que o do ano anterior. Nos seus cálculos, mesmo se esse trabalhador conseguisse repor somente 65% da inflação no seu salário, teria um ganho real de 2,1% em 2004.
A queda da inflação não é o único fator considerado pelos economistas para prever aumento da renda em 2004. A redução das taxas de juros, dizem, deve dar novo gás ao consumo, como já se verifica em alguns setores. Se o consumo cresce, a produção aumenta, e as chances de o salário subir são ainda maiores.

Virada
"O ano de 2004 tem tudo para dar uma virada no mercado de trabalho", afirma Lauro Ramos, economista do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada). Um dado identificado pelo instituto que indica melhora na renda e no emprego é que já houve algum aumento da jornada de trabalho. "Hora extra é o primeiro passo do empresário antes de aumentar a produção." Ramos também prevê aumento de 2% na renda em 2004.
Na estimativa de José Márcio Camargo, professor do Departamento de Economia da PUC-RJ, a renda média do trabalhador deve crescer 3% no ano que vem. Além de a inflação ser menor em 2004, diz, já existe um clima mais favorável para as negociações salariais, que devem se intensificar.
Camargo também prevê aumento da renda por conta de um crescimento esperado entre 4% e 4,5% do PIB (Produto Interno Bruto), da retomada da economia internacional e da expectativa de que o governo irá tomar medidas que, indiretamente, promoverão investimentos em infra-estrutura. Entre essas medidas estariam a manutenção de uma política fiscal austera e aprovação da Lei de Falências.
Adriano Pitoli, da consultoria Tendências, prevê crescimento de 2,5% na renda em 2004. "A recuperação no emprego e na renda ocorre de três a seis meses após a retomada da atividade econômica, que acontece agora", diz.
Fábio Silveira, economista da F Silveira Consultoria, que prevê aumento de 3% na renda em 2004, diz que a recuperação da renda vai dar fôlego à economia. Para Edgard Pereira, economista da Unicamp, a expectativa é que a renda cresça, mas é cedo para fazer estimativas. José Silvestre Prado, economista do Dieese, tem a mesma avaliação.



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