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Cade não tem quorum para julgar suspeita de cartel da laranja
Presidente do órgão e outros dois conselheiros estão impedidos de votar no caso porque já tiveram envolvimento com o setor
Cade diz que problema não
atrasa apreciação porque
ainda nem recebeu processo
da SDE; secretaria afirma que
Justiça protela investigação
FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL
A suposta prática de cartel da
indústria de suco de laranja,
que está sendo investigada pela
SDE (Secretaria de Direito
Econômico) desde 2006, não
poderá ser julgada pelo Cade
(Conselho Administrativo de
Defesa Econômica), ao menos
até agosto do ano que vem.
Isso porque o presidente do
Cade, Arthur Badin, e dois dos
cinco conselheiros da instituição (Carlos Emmanuel Joppert
Ragazzo e César Costa Alves de
Mattos) estão impedidos de votar nesse caso por já terem tido
algum envolvimento com o setor de citricultura. Isso quer dizer que não há quorum para o
julgamento -três do total de
seis pessoas não poderão votar.
Em agosto de 2010, termina
o primeiro mandato de Ragazzo. Três meses depois, acaba o
primeiro mandato de Badin e o
de Mattos. Eles podem ficar
nos cargos por mais dois anos.
Flávio Viegas, presidente da
Associtrus (Associação Brasileira de Citricultores), diz que
os produtores ficaram decepcionados quando souberam, na
última quarta-feira, da falta de
quorum para julgamento do
processo, que pode se estender
até 2012, se os mandatos dos
conselheiros e do presidente do
Cade forem renovados.
"Essa situação é absurda. A
informação que temos é que, se
não pode haver julgamento, a
investigação, uma das mais importantes da SDE, para."
Badin confirma a falta de
quorum, mas diz que essa situação não afeta o andamento
da investigação na SDE. "Esse
processo, muito provavelmente, não seria julgado antes de
agosto do ano que vem", afirma.
Para Mariana Tavarez de
Araújo, secretária de Direito
Econômico, o que está atrasando o andamento das investigações é o fato de os fabricantes
de suco de laranja terem conseguido na Justiça o impedimento do deslacre de documentos
apreendidos em seus escritórios em janeiro de 2006.
Na época, foram cumpridos
pela SDE seis mandados de
busca e apreensão de documentos na Coinbra-Frutesp, na
Cutrale, na Montecitrus, na Citrovita, na sede da Abecitrus
(associação dos exportadores
de suco) e na residência de diretor de uma das empresas.
A SDE conseguiu autorização judicial para o deslacre de
boa parte da documentação
apreendida -na semana passada, foi a vez da Citrovita. Procurada, a Citrovita não quis comentar o assunto. Mas há outras pendências judiciais. No
caso de documentos da Cutrale, há dúvidas se os papéis podem ou não ser mostrados a outras empresas, o que, na avaliação da SDE, trava o prosseguimento das investigações.
"Desde que passamos a construir nossas investigações de
cartel com base em provas diretas, como as obtidas por meio
de buscas e apreensões e acordos de leniência, as discussões
deixaram de ser objetivas. As
empresas não vêm mais à SDE
alegar que não praticaram cartel. A discussão é se extrapolamos o escopo dos mandados de
busca e apreensão e se garantimos ampla defesa às empresas", diz Mariana Araújo.
Viegas, da Associtrus, insiste
em dizer que os fabricantes de
suco de laranja mantêm a prática de cartel. O custo de produção de uma caixa de 40,8 kg de
laranja está na faixa de R$ 15 a
R$ 17, e a indústria paga de R$
3,5 a R$ 6,5. "Esse preço é todo
combinado entre eles."
Christian Lohbauer, presidente da Citrus Br, associação
de quatro exportadores de suco
de laranja, diz que o caso está
nas mãos da Justiça.
"Qualquer processo desse tipo não se avalia em três meses e
tem de cumprir o ritual jurídico. Por isso a investigação é
mais demorada."
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