São Paulo, terça-feira, 23 de dezembro de 2008

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BENJAMIN STEINBRUCH

Força para 2009


O país tem boas condições de retomar seu ritmo de crescimento desde que tenha juízo e cumpra regras básicas

A ECONOMIA costuma pregar surpresas. O PIB do terceiro trimestre, por exemplo, surpreendeu a todos pelo ritmo acelerado de crescimento, de 6,8% sobre o mesmo período de 2007. Mas isso já é passado. Ninguém pode prever com exatidão o que vai ocorrer no mundo em 2009. A crise é severa e os governos têm reagido de forma fulminante, com injeções de recursos nunca antes vistas para estimular a retomada. A nova realidade da economia mundial vai surgir desse conflito entre o desalento e o anabolizante.
Nesse contexto, qualquer prognóstico para o Brasil é chute. Não dá para dizer se haverá recessão e, muito menos, se ela será longa ou breve. A única certeza é que vivemos momentos de incerteza. Então, o melhor que temos a fazer às vésperas do Natal, é cuidar de dois aspectos que podem ser determinantes para os meses que vêm por aí.
O primeiro aspecto diz respeito ao nível de emprego, fator-chave para a definição da temperatura da economia nos próximos meses. A taxa de desemprego ainda é uma das mais baixas da história do país -7,6% da força de trabalho- e seria muito importante impedir que ela subisse rapidamente. Nenhum empresário consciente pode assegurar hoje que não vai dispensar mão-de-obra. Fazer essa promessa seria uma irresponsabilidade, porque a realidade poderá exigir redução parcial de custos para não colocar em risco o negócio. A recíproca também é verdadeira: a decisão de demitir somente pode ser tomada quando há clareza cristalina sobre a inevitabilidade dessa providência. Demissões deprimem o consumo e, para a empresa, implicam elevados custos sociais e financeiros.
O segundo aspecto é o investimento. Os números do terceiro trimestre também surpreenderam no item investimento, que cresceu 19,7% em um ano, recorde desde que o IBGE passou a divulgar esses dados, em 1996. Com esse resultado, a taxa de investimento, que os economistas chamam de FBCF (Formação Bruta de Capital Fixo), atingiu 20,4%.
Esse número é um dos mais importantes da economia, mais até do que o do PIB. Quando a taxa de investimento chega a esse nível -razoável em termos internacionais, mas muito bom para o Brasil-, significa que o parque produtivo do país terá capacidade para aumentar sua produção nos próximos anos sem provocar inflação. Ou seja, o país está preparado para retomar em breve o crescimento caso tenhamos um desaquecimento em 2009 ou mesmo uma recessão.
É com esse ânimo de recuperação que se deve olhar 2009. O país tem boas condições de retomar seu ritmo, que era quase chinês no terceiro trimestre, desde que tenha juízo e cumpra algumas regras básicas: manter investimentos públicos, principalmente em infra-estrutura; cortar gastos correntes dos governos nos três níveis; garantir crédito para investimento e consumo; baixar taxas de juros; e continuar com os programas de transferência de renda para as classes mais pobres. No lado empresarial, a receita é ter critério e tomar sempre decisões que não coloquem em risco o negócio para garantir o maior número possível de empregos.
Tirando o exorbitante custo financeiro, não há nada de errado com o Brasil. O país foi atingido pela tempestade da crise internacional em cheio, mas gozando de muita saúde e no rumo certo. Feitos os ajustes e passada a tormenta global, pode voltar a crescer com segurança e estabilidade. Feliz Natal a todos.


BENJAMIN STEINBRUCH , 55, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

bvictoria@psi.com.br


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