São Paulo, terça-feira, 23 de dezembro de 2008

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Diagnósticos do BC expõem o descompasso dentro do governo

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Não é apenas na projeção de crescimento para 2009 ou na discussão sobre o nível da taxa que o descompasso dentro da equipe econômica fica evidente. A divulgação do relatório trimestral de inflação, ontem, deixou claro que o diagnóstico do impacto da crise financeira internacional na economia brasileira do Banco Central diverge do resto do governo.
Enquanto o presidente Lula e o ministro Mantega estimulam o consumo das famílias que não estão endividadas, o BC tem o consumo excessivo como uma das fontes de preocupação para o controle da inflação.
Em 2009, o crédito continuará crescendo a "uma taxa de dois dígitos", segundo o diretor de Política Econômica do BC, Mário Mesquita. Isso sustentará o consumo num nível mais baixo, mas, ainda assim, exigirá atenção especial do BC por causa da repercussão na inflação.
Questionado se a recomendação do BC era para consumir, como pediu Lula, ou para a população segurar um pouco as compras, ele se esquivou: "Não cabe a mim dizer o que as famílias têm que fazer". Mas explicou tecnicamente que, "quanto menor for a demanda agregada, menor será o nível de atividade". Na prática, ele quis dizer que como o crescimento econômico é um componente importante para trajetória da inflação, o BC o considera na hora em que vai fixar a taxa de juros. Assim, consumo acelerado, como vem defendendo o presidente, faz a economia crescer, elevando os riscos de inflação.
Outro ponto de descompasso do BC em relação ao resto do governo é na área agrícola. Mesquita destacou, ontem, que a safra agrícola menor em 2009 aumenta a chance de pressão nos índices de inflação.
No entanto, as avaliações do Ministério da Agricultura são de que poderá haver uma superoferta em 2009, como reflexo da crise. Isso porque, os produtores não venderam antecipadamente parte da safra, como fazem usualmente. Com isso, a partir de março, período de comercialização do que foi produzido, poderá haver uma oferta excessiva no mercado, derrubando os preços.


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