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CRISE NOS MERCADOS
Socorro a seguradoras anima Bolsa de NY
Bolsa reverte baixa e fecha em alta de 2,5%; Bovespa e mercado europeu fecham antes da notícia e amargam perdas
Reunião de bancos dos EUA com autoridades pode garantir injeção de US$ 15 bi para seguradoras de crédito, cujas ações subiram até 72%
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
Os mercados internacionais
viveram ontem mais um dia de
pessimismo, com forte instabilidade e comportamento errático nas principais Bolsas. O alívio só veio no final da tarde
após uma reunião em Nova
York chamada às pressas para
discutir uma injeção de capital
para seguradoras de créditos
como a Ambac e a MBIA, empresas fortemente expostas ao
risco de empréstimos no país.
Patrocinada pelas autoridades reguladoras do setor de seguros de Nova York, a reunião
contou com a participação dos
principais bancos americanos,
vários deles clientes dessas seguradoras. Eles teriam concordado em fazer uma capitalização de US$ 15 bilhões.
A Ambac perdeu neste mês o
selo AAA [melhor avaliação de
risco possível] da agência Fitch
de classificação de riscos e o
mesmo pode acontecer com a
MBIA. Capitalizadas, elas poderão manter o rating [nota]
AAA, o que diminuirá a necessidade tanto delas quanto dos
clientes -bancos e financeiras- de aumentarem o nível de
provisionamento para créditos
ruins, um dinheiro mantido em
separado para cobrir eventuais
prejuízos com inadimplência.
O resultado pode ser um efeito em cadeia de diminuição de
provisões no sistema financeiro, sobrando mais dinheiro para financiar o consumo. As
ações da Ambac subiram ontem 72%, e as da MBIA, 33%.
Mais do que o corte histórico
nos juros anteontem, de 0,75
ponto, a possibilidade de socorro às seguradoras levou os mercados ao azul a pouco menos de
uma hora do fechamento dos
negócios. Após cair até 2,7% pela manhã, o índice Dow Jones
fechou com alta de 2,5% em
Nova York.
A recuperação nos EUA
aconteceu após o fechamento
da Bovespa, que amargou perdas de 3,32% e voltou aos
54.234 pontos. Se o quadro se
sustentar hoje, a Bovespa pode
ter recuperação.
A Bovespa foi influenciada
ontem pelo pessimismo disseminado na Europa após o presidente do BCE (Banco Central
Europeu), Jean-Claude Trichet, ter sinalizado que não deverá seguir a receita do Fed de
corte agressivo nos juros. A
Bolsa de Londres recuou
2,28%, e a de Paris, 4,25%. Em
Frankfurt, a baixa foi de 4,88%.
A maioria dos analistas crê
que os preços de ações, dívidas
e commodities passarão por
um período provavelmente
longo de correção, típico de
épocas de contração nos mercados como o observado após o
estouro da bolha da internet,
em 2001. "Vimos isso acontecer com a Nasdaq em 2001. O
que está acontecendo agora é
aquilo que todos temem quando investem na Bolsa. Em algum momento, todo mundo vai
perder. Chega o momento em
que é preciso uma reorganização do mercado. É um período
perigoso e de vulnerabilidade",
disse Otto Nogami, do Ibmec-SP.
Para João Sicsú, diretor de
Pesquisa Macroeconômica do
Ipea, a volatilidade nos mercados só diminuirá quando acabarem as incertezas em relação
ao futuro da economia. Ele afirma que isso só acontecerá após
uma ação do governo americano e do Fed: "É um momento
de incerteza muito grande e os
mercados estão extremamente
voláteis. Volatilidade é explicada por uma coisa básica, que é
incerteza em relação ao futuro.
Os agentes econômicos têm incerteza em relação a qual vai
ser o desfecho [da crise]. O que
reduz a volatilidade é a ação do
Estado, tentando conformar
uma certeza no futuro da economia. O governo americano
não vai deixar a economia quebrar e não vai esperar os mercados reagirem sozinhos."
"Essa volatilidade é assustadora. Os agentes vão tirar o máximo proveito nos mercados.
Não me surpreenderia se tivermos duas ou três semanas de
calmaria, seguida por outra
turbulência", disse Marcio Holland, economista da FGV
(Fundação Getulio Vargas).
Para Ricardo Almeida, do Ibmec-SP, com a redução dos juros o Fed deu um recado ao
mercado de que existe um porto seguro na renda fixa americana, mas que esse investimento terá retorno baixo. "Essa
queda dos juros está querendo
dizer [aos investidores] que
não adianta vir para o governo
[comprando título público],
porque eu [governo] não vou te
pagar bem. A economia vai continuar procurando risco, mas o
recado é: avalie melhor o seu
risco", disse Almeida.
"Não dá para dizer que a economia está fora de risco. O que
vai ser determinante para a definição de tendência é o poder
de convencimento [do Fed e do
governo americano]", disse
Alex Agostini, da Austin Rating.
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