São Paulo, quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

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CRISE NOS MERCADOS

Socorro a seguradoras anima Bolsa de NY

Bolsa reverte baixa e fecha em alta de 2,5%; Bovespa e mercado europeu fecham antes da notícia e amargam perdas

Reunião de bancos dos EUA com autoridades pode garantir injeção de US$ 15 bi para seguradoras de crédito, cujas ações subiram até 72%

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

Os mercados internacionais viveram ontem mais um dia de pessimismo, com forte instabilidade e comportamento errático nas principais Bolsas. O alívio só veio no final da tarde após uma reunião em Nova York chamada às pressas para discutir uma injeção de capital para seguradoras de créditos como a Ambac e a MBIA, empresas fortemente expostas ao risco de empréstimos no país.
Patrocinada pelas autoridades reguladoras do setor de seguros de Nova York, a reunião contou com a participação dos principais bancos americanos, vários deles clientes dessas seguradoras. Eles teriam concordado em fazer uma capitalização de US$ 15 bilhões.
A Ambac perdeu neste mês o selo AAA [melhor avaliação de risco possível] da agência Fitch de classificação de riscos e o mesmo pode acontecer com a MBIA. Capitalizadas, elas poderão manter o rating [nota] AAA, o que diminuirá a necessidade tanto delas quanto dos clientes -bancos e financeiras- de aumentarem o nível de provisionamento para créditos ruins, um dinheiro mantido em separado para cobrir eventuais prejuízos com inadimplência.
O resultado pode ser um efeito em cadeia de diminuição de provisões no sistema financeiro, sobrando mais dinheiro para financiar o consumo. As ações da Ambac subiram ontem 72%, e as da MBIA, 33%.
Mais do que o corte histórico nos juros anteontem, de 0,75 ponto, a possibilidade de socorro às seguradoras levou os mercados ao azul a pouco menos de uma hora do fechamento dos negócios. Após cair até 2,7% pela manhã, o índice Dow Jones fechou com alta de 2,5% em Nova York.
A recuperação nos EUA aconteceu após o fechamento da Bovespa, que amargou perdas de 3,32% e voltou aos 54.234 pontos. Se o quadro se sustentar hoje, a Bovespa pode ter recuperação.
A Bovespa foi influenciada ontem pelo pessimismo disseminado na Europa após o presidente do BCE (Banco Central Europeu), Jean-Claude Trichet, ter sinalizado que não deverá seguir a receita do Fed de corte agressivo nos juros. A Bolsa de Londres recuou 2,28%, e a de Paris, 4,25%. Em Frankfurt, a baixa foi de 4,88%.
A maioria dos analistas crê que os preços de ações, dívidas e commodities passarão por um período provavelmente longo de correção, típico de épocas de contração nos mercados como o observado após o estouro da bolha da internet, em 2001. "Vimos isso acontecer com a Nasdaq em 2001. O que está acontecendo agora é aquilo que todos temem quando investem na Bolsa. Em algum momento, todo mundo vai perder. Chega o momento em que é preciso uma reorganização do mercado. É um período perigoso e de vulnerabilidade", disse Otto Nogami, do Ibmec-SP.
Para João Sicsú, diretor de Pesquisa Macroeconômica do Ipea, a volatilidade nos mercados só diminuirá quando acabarem as incertezas em relação ao futuro da economia. Ele afirma que isso só acontecerá após uma ação do governo americano e do Fed: "É um momento de incerteza muito grande e os mercados estão extremamente voláteis. Volatilidade é explicada por uma coisa básica, que é incerteza em relação ao futuro. Os agentes econômicos têm incerteza em relação a qual vai ser o desfecho [da crise]. O que reduz a volatilidade é a ação do Estado, tentando conformar uma certeza no futuro da economia. O governo americano não vai deixar a economia quebrar e não vai esperar os mercados reagirem sozinhos."
"Essa volatilidade é assustadora. Os agentes vão tirar o máximo proveito nos mercados. Não me surpreenderia se tivermos duas ou três semanas de calmaria, seguida por outra turbulência", disse Marcio Holland, economista da FGV (Fundação Getulio Vargas).
Para Ricardo Almeida, do Ibmec-SP, com a redução dos juros o Fed deu um recado ao mercado de que existe um porto seguro na renda fixa americana, mas que esse investimento terá retorno baixo. "Essa queda dos juros está querendo dizer [aos investidores] que não adianta vir para o governo [comprando título público], porque eu [governo] não vou te pagar bem. A economia vai continuar procurando risco, mas o recado é: avalie melhor o seu risco", disse Almeida.
"Não dá para dizer que a economia está fora de risco. O que vai ser determinante para a definição de tendência é o poder de convencimento [do Fed e do governo americano]", disse Alex Agostini, da Austin Rating.


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