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VINICIUS TORRES FREIRE
Quem descasa quer casa
Motivos, projeções e chutes sobre onde podem ficar as "casas" para quem descasou ou "descolou" do crescimento
ERA TÃO ridícula, marqueteira,
carente de bom senso e de
prudência a idéia de que "o
mundo" poderia descolar ou "descasar" da crise americana quanto o é o
decreto, ouvido nesta semana, de
que tal possibilidade em geral é nula
devido tão-somente ao pânico recente (e não se sabe se quão duradouro) nos mercados de ações.
Ontem, o banco Morgan Stanley
publicou um resumo de seu "seminário" anual sobre as perspectivas
de investimento para 2008. Trata-se
de reuniões entre estrategistas de
investimento e economistas do banco com seus clientes, investidores
importantes. No texto, ponderam a
hipótese de "descasamento".
Para tratar logo de Brasil: "Queremos comprar, embora cuidadosa e
seletivamente, mercados emergentes, os quais têm as melhores chances de "descasarem" dos EUA".
Quanto a ações: "Nós [Morgan] e
nossos clientes queremos comprar
infra-estrutura, mercados emergentes e múltis ligadas ao mercado consumidor dos emergentes". Quanto a
"commodities": vão de agrícolas e
vendem metais. Nos emergentes, a
economia "real" tende a atravessar a
crise de modo mais tranqüilo do que
os mercados financeiros.
Mais tranqüilo significa o quê?
Que a recessão americana não vai
"aleijar" os emergentes, como no
passado -é de perguntar se vamos
perder apenas uma das mãos ou os
dois pés, mas vá lá. O pessoal do
Morgan ressalta o argumento citando explicitamente Brasil e China,
que "aceleraram" no ano passado,
mesmo com o enfraquecimento
americano. Mais: dizem que, se a hipótese do "descolamento emergente" estivesse errada, o petróleo já teria caído mais (para US$ 70).
Motivos do "descasamento suave"? O crescimento emergente depende agora mais de mercado interno, os preços do comércio mundial
lhes são favoráveis, há superávits comerciais e fiscais, tais países se tornaram fonte de "poupança global".
Apesar do risco e da volatilidade historicamente maiores que os de países centrais, os grandes emergentes
tendem a expandir mais seu mercado consumidor, têm agora moedas
mais fortes e bancos mais saudáveis
que os de países avançados (sic).
O Morgan avisa que tal visão não é
uma estratégia de curto prazo, de
"vamos comprar na baixa", mas de
descobrir onde deve estar a rentabilidade depois que assentar a poeira
da volatilidade nesses dias de "derretimento" do mercado.
No curto prazo, menos de um ano,
os economistas do Morgan e seus
clientes acham que o mercado é baixista mesmo. Preferem liqüidez, dinheiro ou substitutos próximos, a
qualquer risco. Acham que, mesmo
com os presentes tombos, o preço
dos ativos ainda não incorporou
nem a possibilidade de uma suave
recessão nos EUA, "que dirá a de
uma recessão severa". Mas, no longo
prazo, acham que ações americanas
e o dólar são negócios melhores que
a Europa e seu euro. A Europa não
vai "descolar" dos EUA, dizem. Vai
"recasar" com a crise americana.
A recessão nos Estados Unidos seria suave, com a recuperação começando no final do ano, para a maioria
dos "seminaristas" do Morgan e investidores ouvidos em pesquisas
-uma minoria acredita que é possível um cenário "Japão anos 90" para
os Estados Unidos de agora.
vinit@uol.com.br
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