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CRISE NOS MERCADOS/ EFEITOS NO BRASIL
Turbulência aumenta custos do Tesouro
Desde dezembro de 2006, governo não paga juros tão altos em leilão de títulos prefixados como no início deste ano
Tesouro fez nesta semana quatro leilões, com juros de 13%; em junho, antes
do começo da crise nos EUA, taxa ficou em 10,61%
JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O agravamento da turbulência financeira nos EUA obrigou
o Tesouro Nacional a pagar juros mais altos pelos títulos públicos neste início de ano. O resultado no futuro será o aumento do custo da dívida pública, num momento não só de
crise mundial mas depois de o
governo perder a receita com a
CPMF, que estava estimada em
R$ 38 bilhões neste ano.
Nesta semana, o Tesouro fez
quatro leilões de títulos prefixados, com juros de 13%. Desde
dezembro de 2006, o país não
pagava tanto pelos papéis da dívida. Em junho do ano passado,
antes de a crise dos créditos
imobiliários de alto risco ser
deflagrada nos EUA, o Tesouro
pagou 10,61% nos títulos com a
mesma característica, com prazo de vencimento em 25 meses.
Em agosto, no início da turbulência financeira, os juros já tinham subido para 11,3%.
A taxa dos papéis emitidos
nesta semana superou o custo
médio da dívida pública, que
estava em 11,6% em novembro,
último dado divulgado pelo Tesouro. O custo médio da dívida
interna era de 12,8%.
Homero Guizzo, economista
da MCM Consultores, calcula
que o aumento da taxa fez com
que o custo da dívida ficasse R$
840 mil mais alto só com os primeiros leilões deste ano, se
comparado com os juros que o
Tesouro pagava em junho. Ele
afirma que é uma variação pequena em relação à dívida pública total, de R$ 1,128 trilhão.
O secretário-adjunto do Tesouro, Paulo Valle, admite que
o nervosismo do mercado financeiro obrigou o Tesouro a
pagar mais pelos títulos. Ele
minimizou, porém, o impacto
dessa alta no custo da dívida
pública. Segundo Valle, o Tesouro reduziu o volume de títulos ofertados exatamente para
evitar encarecer a dívida. Mas
não chegou a suspender nenhum leilão.
Em agosto do ano passado,
no início da crise financeira, o
Tesouro deixou de fazer leilões
de títulos públicos para não pagar as altas taxas pedidas pelo
mercado financeiro. Naquele
mês, as taxas mais altas ficaram
em torno de 11,5% nos papéis
com vencimento em 2010.
Quanto mais longo o prazo de
vencimento, mais cara é a taxa
paga pelo governo.
Valle nega preocupação com
o pagamento dos títulos que
vencem neste ano. A programação é de vencimento de R$
330,5 bilhões em 2008. Ou seja,
a cada trimestre, o Tesouro é
obrigado a desembolsar cerca
de R$ 100 bilhões com vencimentos. "Temos mais do que
isso em caixa, entre três e cinco
meses de folga", afirmou Valle.
O economista-chefe da Unibanco Asset Management, Alexandre Mathias, lembra que a
cada vencimento de títulos públicos, em que o Tesouro é obrigado a emitir novos papéis com
taxas mais altas, aumenta o
custo de administração da dívida pública. "O ritmo de aumento das despesas do governo é
maior que o crescimento do
PIB, e isso é insustentável."
Mathias diz que a crise financeira não foi o único motivo para o mercado financeiro exigir
juros mais altos. O aumento da
inflação, uma surpresa no final
do ano passado, e a possibilidade de alta da taxa básica de juros também estão incluídos
nessa taxa mais alta.
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