São Paulo, quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

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CRISE NOS MERCADOS/ EFEITOS NO BRASIL

Turbulência aumenta custos do Tesouro

Desde dezembro de 2006, governo não paga juros tão altos em leilão de títulos prefixados como no início deste ano

Tesouro fez nesta semana quatro leilões, com juros de 13%; em junho, antes do começo da crise nos EUA, taxa ficou em 10,61%

JULIANA ROCHA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O agravamento da turbulência financeira nos EUA obrigou o Tesouro Nacional a pagar juros mais altos pelos títulos públicos neste início de ano. O resultado no futuro será o aumento do custo da dívida pública, num momento não só de crise mundial mas depois de o governo perder a receita com a CPMF, que estava estimada em R$ 38 bilhões neste ano.
Nesta semana, o Tesouro fez quatro leilões de títulos prefixados, com juros de 13%. Desde dezembro de 2006, o país não pagava tanto pelos papéis da dívida. Em junho do ano passado, antes de a crise dos créditos imobiliários de alto risco ser deflagrada nos EUA, o Tesouro pagou 10,61% nos títulos com a mesma característica, com prazo de vencimento em 25 meses. Em agosto, no início da turbulência financeira, os juros já tinham subido para 11,3%.
A taxa dos papéis emitidos nesta semana superou o custo médio da dívida pública, que estava em 11,6% em novembro, último dado divulgado pelo Tesouro. O custo médio da dívida interna era de 12,8%.
Homero Guizzo, economista da MCM Consultores, calcula que o aumento da taxa fez com que o custo da dívida ficasse R$ 840 mil mais alto só com os primeiros leilões deste ano, se comparado com os juros que o Tesouro pagava em junho. Ele afirma que é uma variação pequena em relação à dívida pública total, de R$ 1,128 trilhão.
O secretário-adjunto do Tesouro, Paulo Valle, admite que o nervosismo do mercado financeiro obrigou o Tesouro a pagar mais pelos títulos. Ele minimizou, porém, o impacto dessa alta no custo da dívida pública. Segundo Valle, o Tesouro reduziu o volume de títulos ofertados exatamente para evitar encarecer a dívida. Mas não chegou a suspender nenhum leilão.
Em agosto do ano passado, no início da crise financeira, o Tesouro deixou de fazer leilões de títulos públicos para não pagar as altas taxas pedidas pelo mercado financeiro. Naquele mês, as taxas mais altas ficaram em torno de 11,5% nos papéis com vencimento em 2010. Quanto mais longo o prazo de vencimento, mais cara é a taxa paga pelo governo.
Valle nega preocupação com o pagamento dos títulos que vencem neste ano. A programação é de vencimento de R$ 330,5 bilhões em 2008. Ou seja, a cada trimestre, o Tesouro é obrigado a desembolsar cerca de R$ 100 bilhões com vencimentos. "Temos mais do que isso em caixa, entre três e cinco meses de folga", afirmou Valle.
O economista-chefe da Unibanco Asset Management, Alexandre Mathias, lembra que a cada vencimento de títulos públicos, em que o Tesouro é obrigado a emitir novos papéis com taxas mais altas, aumenta o custo de administração da dívida pública. "O ritmo de aumento das despesas do governo é maior que o crescimento do PIB, e isso é insustentável."
Mathias diz que a crise financeira não foi o único motivo para o mercado financeiro exigir juros mais altos. O aumento da inflação, uma surpresa no final do ano passado, e a possibilidade de alta da taxa básica de juros também estão incluídos nessa taxa mais alta.


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