São Paulo, quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

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bastidores

Crise eleva cacife de Meirelles com Lula

KENNEDY ALENCAR
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Com o agravamento da crise econômica nos EUA, cresceu o cacife do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo integrantes da cúpula do governo, Lula fez elogios a Meirelles nos últimos dias.
Segundo a Folha apurou, o presidente disse que ele próprio já achou o BC "medroso" em excesso, mas que a cautela da instituição teria trazido mais benefícios do que prejuízos ao Brasil durante o governo petista.
Nesse contexto, voltam a ganhar força no Planalto as avaliações de Meirelles, favorável a uma política monetária mais rigorosa. E perdem as posições do ministro da Fazenda, Guido Mantega, que considera os juros altos da gestão Meirelles um obstáculo a um crescimento mais robusto.
Há uma crônica tensão entre o BC e a Fazenda desde o fim de março de 2006, quando o "desenvolvimentista" Mantega substituiu o "monetarista" Antonio Palocci Filho no comando da pasta.
Até os sinais de que a crise dos EUA é mais grave do que se pensava, Mantega vinha conquistando espaço -embalado pela decisão de Lula de priorizar o crescimento da economia e se preocupar menos com o controle da inflação no segundo mandato.
No ano passado, por exemplo, Mantega venceu uma importante batalha contra Meirelles quando Lula optou por manter a meta de inflação de 2009 em 4,5% ao ano. Meirelles desejava reduzir esse percentual ou até mesmo o intervalo de dois pontos percentuais para mais ou para menos em relação ao centro da meta.
Em momentos de dificuldade do governo, como na crise do mensalão (2005), o conservadorismo do BC ganhou força no Planalto. Naquele ano, pouco antes da pior crise política do governo Lula, havia articulação do próprio presidente para forçar o BC a baixar os juros. Com o mensalão, o movimento foi esvaziado.
O agravamento da crise americana teve o mesmo efeito. Lula e Mantega tinham, por exemplo, expectativa de que os juros voltariam a cair em 2008. A Selic está hoje em 11,25% ao ano.
No início de janeiro, ao editar o pacote de aumento de tributos e corte de gastos para compensar a perda da CPMF, o presidente e o ministro da Fazenda avaliaram que o BC não teria motivo para elevar a Selic neste ano.
No entanto, Lula e Mantega já acreditam que ficarão no lucro político se o BC mantiver os juros no atual patamar. Reservadamente, presidente e ministro da Fazenda não descartam a chance de elevação da Selic. Achariam a medida equivocada, mas não teriam ambiente político para dinamitá-la.
Ontem, na primeira reunião ministerial do governo em 2008, Meirelles fez uma exposição sobre a situação econômica internacional. Disse que o Brasil não sofreria um impacto "grande" da crise americana. Voltou a dizer que os fundamentos econômicos do país são bons, mas falou que o governo estava atento e tomaria medidas duras se necessário.


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