São Paulo, quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

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2007 já dá saudades em brasileiros, mas analistas vêem perdas menores no país

DO ENVIADO ESPECIAL

O ano de 2008 nem completou um mês, e Almir Guilherme Barbassa, diretor financeiro da Petrobras, já suspira: "2007 será um ano do qual sentiremos saudades".
Detalhe essencial sobre o contexto: Barbassa é um otimista, que acredita piamente que o Brasil será relativamente pouco afetado pela crise global, porque "os fundamentos da economia foram preparados para enfrentar as dificuldades".
Mais otimista que ele só seu chefe, José Sergio Gabrielli, presidente da estatal: "Se a crise for suave e curta, de dois a três trimestres, não terá nenhum efeito sobre a Petrobras ou sobre o Brasil", decreta.
A queda nas ações da empresa não passou, para ele, de "um pequeno ajuste de portfólio" por parte de investidores.
De todo modo, o certo é que não se falou uma única vez de Brasil ou mesmo de América Latina nos dois debates do dia sobre a economia global, a não ser quando os debatedores eram provocados por perguntas (de brasileiros, claro).
"É uma boa notícia. Mostra que não somos parte do problema", consola-se o argentino Félix Peña, diretor do Instituto de Comércio Internacional.
Só provocado por uma pergunta da Folha é que o catastrofista Nouriel Roubini disse que o Brasil, graças às políticas sadias e à sorte, estava em melhores condições de enfrentar a crise. Nem por isso deixará de passar por "tempos duros".
A tese parece valer para o conjunto da América Latina. Guillermo Ortiz, presidente do Banco Central mexicano, diz que "a América Latina está mais preparada do que nunca para lidar com a crise", mas não conseguirá escapar de seus efeitos. "Estamos apenas no começo da crise, no assalto 1 ou 2 de uma luta em 15 assaltos."
Ángel Gurria, diretor-geral da OCDE, concorda: "Toda a América Latina é muito sensível a uma redução da atividade econômica nos Estados Unidos, pelo lado das importações, dos investimentos e do sistema financeiro". O contágio maior, no entanto, virá, diz Gurria, "por um problema de confiança bastante importante".
Já Felipe Larraín, professor de Economia da Universidade Católica do Chile, prefere esperar para ver o tamanho da desaceleração (ou recessão) nos Estados Unidos antes de fazer previsões para a América Latina. "Se for moderada, a América Latina está relativamente em boa forma", diz.
Larraín distingue entre México, países centro-americanos e andinos dos países do Cone Sul, supostamente mais protegidos. "Menos de 25% de suas exportações vão para os Estados Unidos. Então, é preciso esperar para ver o efeito da crise na China e na Índia, grandes consumidores de commodities [fator fundamental para a "boa forma" latino-americana]. Se o crescimento chinês cair para 6% ou 7%, estaremos com problemas."
O único incondicional otimista é Fred Bergsten, reputado especialista em comércio e câmbio, para quem o Brasil perderá menos de um ponto percentual de crescimento em conseqüência da crise. "Não é tão integrado à economia mundial", explica. (CR)


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