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CRISE NOS MERCADOS/ ANÁLISE
Tese do descolamento tem enterro de luxo em Davos
Maioria dos analistas acha que emergentes terão perdas fortes com crise dos ricos
Presidente da Petrobras e economista americano, mais otimistas, são vozes dissonantes nas previsões de contaminação da AL
DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS
A aposta de que os mercados
emergentes se descolaram do
mundo rico e, portanto, não seriam afetados pela crise nos Estados Unidos ganhou um enterro de luxo no encontro 2008
do Fórum Econômico Mundial, mas recebeu apoio de um
economista de peso, chamado
Fred Bergsten (ex-Instituto para a Economia Internacional,
onde nasceu o chamado "Consenso de Washington", hoje no
Instituto Peterson para a Economia Internacional).
Bergsten acha que, em vez de
"decoupling" (a expressão em
inglês para descolamento), o
que pode acontecer é um casamento ao revés. "O resto do
mundo é que vai impulsionar
os Estados Unidos e evitar o
pior", aposta o economista.
Ninguém comprou sua teoria, ao menos não em público.
Nem a versão mais branda, a do
mero descolamento.
"Falar em descolamento é
excessivo", diz, por exemplo,
James Wolfensohn, do alto da
experiência de presidente do
Banco Mundial durante dez
anos, até que, em 2005, preferiu criar sua própria empresa.
Até representantes da China,
em tese o país que puxaria a
economia global em lugar dos
EUA, rejeitam o descolamento.
"A China depende tremendamente da demanda externa. As
exportações respondem por
8,6% de nossa economia", diz
Yu Yongding, diretor do Instituto de Política e Economia
Mundial da Academia de Ciências da China.
Stephen Roach, chefe para a
Ásia do grupo financeiro Morgan Stanley, prefere ser mais
brutal, como é de seu estilo: "A
teoria do descolamento vai se
revelar uma fantasia".
Reforça Guillermo Ortiz,
presidente do Banco Central do
México: "O descolamento não
faz nenhum sentido".
Já o argentino Félix Peña
prefere criar sua própria teoria
sobre o "decoupling". Para ele,
não se trata de "descolar" do
mundo rico, mas do próprio
passado da América Latina,
coalhado de crises. "Parece a
síndrome do tsunami. Quem o
sofreu vê uma pequena onda e
acha que virá outro tsunami."
Nouriel Roubini, outro eterno pessimista, prefere dizer
que, em vez de descolamento, o
que está havendo é uma maior
dependência da Ásia (e, portanto, da China e da Índia) do mercado norte-americano. Cita até
estudo do Banco de Desenvolvimento da Ásia, que revela
maior dependência do que "há
cinco ou dez anos".
Petrobras
Para não deixar Bergsten falando sozinho, o presidente da
Petrobras, José Sergio Gabrielli, diz: "Sou partidário do descolamento, sim. Está havendo
uma superestimação de movimentos de curto prazo".
Gabrielli conversava com os
jornalistas brasileiros pouco
antes do almoço, em Davos,
quando os mercados estavam
fechados no Brasil. Um pouco
mais tarde, os "movimentos de
curto prazo" na Bolsa brasileira
tornavam-se frenéticos.
Frenéticos o suficiente para
que Ortiz, do BC mexicano, dissesse: "Até há poucos dias, o
contágio havia sido limitado.
Agora, o contágio financeiro se
está vendo mais claramente".
(CLÓVIS ROSSI)
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