São Paulo, quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

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CRISE NOS MERCADOS/ ANÁLISE

Tese do descolamento tem enterro de luxo em Davos

Maioria dos analistas acha que emergentes terão perdas fortes com crise dos ricos

Presidente da Petrobras e economista americano, mais otimistas, são vozes dissonantes nas previsões de contaminação da AL

DO ENVIADO ESPECIAL A DAVOS

A aposta de que os mercados emergentes se descolaram do mundo rico e, portanto, não seriam afetados pela crise nos Estados Unidos ganhou um enterro de luxo no encontro 2008 do Fórum Econômico Mundial, mas recebeu apoio de um economista de peso, chamado Fred Bergsten (ex-Instituto para a Economia Internacional, onde nasceu o chamado "Consenso de Washington", hoje no Instituto Peterson para a Economia Internacional).
Bergsten acha que, em vez de "decoupling" (a expressão em inglês para descolamento), o que pode acontecer é um casamento ao revés. "O resto do mundo é que vai impulsionar os Estados Unidos e evitar o pior", aposta o economista.
Ninguém comprou sua teoria, ao menos não em público. Nem a versão mais branda, a do mero descolamento.
"Falar em descolamento é excessivo", diz, por exemplo, James Wolfensohn, do alto da experiência de presidente do Banco Mundial durante dez anos, até que, em 2005, preferiu criar sua própria empresa.
Até representantes da China, em tese o país que puxaria a economia global em lugar dos EUA, rejeitam o descolamento.
"A China depende tremendamente da demanda externa. As exportações respondem por 8,6% de nossa economia", diz Yu Yongding, diretor do Instituto de Política e Economia Mundial da Academia de Ciências da China.
Stephen Roach, chefe para a Ásia do grupo financeiro Morgan Stanley, prefere ser mais brutal, como é de seu estilo: "A teoria do descolamento vai se revelar uma fantasia".
Reforça Guillermo Ortiz, presidente do Banco Central do México: "O descolamento não faz nenhum sentido".
Já o argentino Félix Peña prefere criar sua própria teoria sobre o "decoupling". Para ele, não se trata de "descolar" do mundo rico, mas do próprio passado da América Latina, coalhado de crises. "Parece a síndrome do tsunami. Quem o sofreu vê uma pequena onda e acha que virá outro tsunami."
Nouriel Roubini, outro eterno pessimista, prefere dizer que, em vez de descolamento, o que está havendo é uma maior dependência da Ásia (e, portanto, da China e da Índia) do mercado norte-americano. Cita até estudo do Banco de Desenvolvimento da Ásia, que revela maior dependência do que "há cinco ou dez anos".

Petrobras
Para não deixar Bergsten falando sozinho, o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, diz: "Sou partidário do descolamento, sim. Está havendo uma superestimação de movimentos de curto prazo".
Gabrielli conversava com os jornalistas brasileiros pouco antes do almoço, em Davos, quando os mercados estavam fechados no Brasil. Um pouco mais tarde, os "movimentos de curto prazo" na Bolsa brasileira tornavam-se frenéticos.
Frenéticos o suficiente para que Ortiz, do BC mexicano, dissesse: "Até há poucos dias, o contágio havia sido limitado. Agora, o contágio financeiro se está vendo mais claramente".
(CLÓVIS ROSSI)


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