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Empresa de ônibus vê risco de colapso
Associação diz que há sistema de subsídio cruzado no setor e que
maior parte das linhas não é rentável e deixaria de operar após
leilão
De acordo com entidade,
empresas realizaram
investimentos considerando
que poderiam continuar a
operar suas linhas até 2023
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Para as empresas de transporte rodoviário de passageiros, o leilão das linhas de ônibus interestaduais e internacionais poderá levar a um colapso no sistema. Segundo avaliação da Abrati (Associação
Brasileiras das Empresas de
Transporte Terrestre de Passageiros), a maior parte das linhas
não é rentável e deixaria de
operar após o leilão. A entidade
defende a manutenção da situação atual até 2023.
"Essa proposta [leilão em outubro] é inviável do ponto de
vista prático. Se for levada a ferro e fogo, como uma posição
política, a conseqüência será
desastrosa para o sistema", diz
Sérgio Augusto de Almeida
Braga, presidente da Abrati.
De acordo com o executivo,
atualmente existe um sistema
de subsídio cruzado no setor,
dentro das próprias empresas.
Dessa forma, uma mesma empresa opera linhas rentáveis e
não-rentáveis, com equilíbrio
econômico-financeiro. "As empresas que não tinham condição foram incorporadas por outras", afirma.
Na avaliação da entidade,
aproximadamente 35% das linhas dão prejuízo, 35% estão
equilibradas e 30% dão lucro. A
Abrati concorda parcialmente
com o governo em relação a
eventual queda no valor da tarifa das linhas mais competitivas,
como Rio-São Paulo. "Em algumas ligações, você pode ter redução de preço, sim. Mas o que
vai acontecer com as outras?
Vão ficar desassistidas", disse.
Braga afirma que as empresas fizeram investimentos considerando que poderiam continuar operando suas linhas até 2023. Até lá, segundo ele, haveria tempo para que os investimentos pudessem ser amortizados e o governo pudesse estudar uma forma melhor de fazer a licitação.
Justiça
Na avaliação da Abrati, caso
não haja acordo com o governo,
a questão deverá ser resolvida
na Justiça. "Se não houver racionalidade, se o bom senso não
prevalecer, isso vai acontecer",
afirma. "Uma medida impensada, para atender uma interpretação jurídica que não é líquida
e certa, pode resultar numa
convulsão no sistema. Quem
vai pagar é o consumidor final,
que vai deixar de ter um serviço
na qualificação e no preço que
tem hoje", diz.
As empresas amparam sua
posição no decreto 952/1993,
editado pelo então presidente
Itamar Franco (1992-1994).
Esse decreto legitimou as empresas que estavam operando
linhas sem concessão, estabeleceu licitação para as novas e determinou que os contratos tinham validade de 15 anos, prorrogáveis por igual período.
Em 1998, o presidente Fernando Henrique Cardoso
(1995-2002) editou o decreto
2.521, determinando licitação
para todas as linhas (novas e
antigas) e fixando o prazo do
contrato em 15 anos, sem prorrogação. Esse decreto é considerado pelas empresas do setor
um "equívoco".
Jardineiras
O setor de transporte rodoviário de passageiros é dominado por empresas familiares, fechadas e antigas. Em alguns casos, os donos atuais começaram o negócio dirigindo eles
mesmos os ônibus, ou "jardineiras" (espécie de ônibus antigo, montado com bancos instalados em carrocerias de caminhões). As três maiores empresas do setor, em faturamento,
são Itapemirim, Gontijo e São
Geraldo. Juntas, movimentam
aproximadamente 28% do faturamento do setor.
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