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Bancos em liquidação levam R$ 200 mi
Apesar de terem dívidas bilionárias com o governo federal, instituições financeiras recebem juros de fundo da habitação
Bancos aguardam avaliação
de mais R$ 82,2 bilhões que
podem gerar créditos que,
mesmo não sendo pagos,
são incorporados aos ativos
SHEILA D'AMORIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
Os juros pagos pelo Tesouro
Nacional vêm reforçando o caixa de bancos que estão em liquidação há mais de uma década e devem bilhões de reais ao
próprio governo.
Detentores de créditos do
FCVS -(Fundo de Compensação das Variações Salariais),
criado em 1967 com o objetivo
de cobrir eventuais saldos devedores de financiamentos habitacionais do SFH (Sistema
Financeiro de Habitação)-,
instituições como Nacional,
Econômico e Mercantil de Pernambuco ficaram, juntas, com
cerca de R$ 200 milhões do R$
1,4 bilhão desembolsado pela
União em 2007 como despesa
de juros desses créditos.
A situação inusitada tende a
aumentar ainda mais à medida
que as liquidações se arrastam,
os créditos se valorizam no
mercado e a parcela que ainda
não está reconhecida oficialmente, mas consta da contabilidade desses bancos, vai se
transformando em ativo de fato
das massas falidas.
Segundo os dados do próprio
governo, o Tesouro já reconheceu e emitiu títulos correspondentes à dívida num montante
de R$ 20 bilhões. Hoje, esse valor equivale a R$ 69,3 bilhões.
É sobre essa parcela de títulos, conhecidos como CVS, que,
desde 2005, o governo desembolsa juros semestrais e, a partir do ano que vem, começará a
pagar o principal da dívida.
Nacional, Econômico e Mercantil têm pouco mais de R$ 2,7
bilhões em CVS emitidos. Entre os maiores detentores desses papéis, estão também a Caixa Econômica Federal, com R$
6,7 bilhões, e a Emgea (empresa
constituída em 2002 no programa de saneamento dos bancos federais e que herdou os
créditos ruins da Caixa Econômica), com R$ 900 milhões.
Mas ainda restam R$ 82,2 bilhões em créditos em poder dos
bancos que estão em processo
de avaliação para serem transformados em títulos. O valor
corresponde à diferença entre
o valor pago pelos mutuários
que tomaram empréstimos habitacionais na década de 80 e o
saldo devedor remanescente
no final dos contratos, em razão de descasamento entre o
reajuste da prestação e a correção do valor financiado.
A validação é lenta e, no processo, parte pode ser cancelada
por não atender às exigências
da legislação do FCVS, como a
determinação de que cada mutuário tivesse direito ao benefício em apenas um contrato.
A emissão dos títulos segue a
conveniência do governo por
causa do impacto que isso acarreta na dívida líquida do setor
público e, como conseqüência,
no esforço fiscal. Em 2005, as
emissões de CVS foram de R$
17 milhões. No ano seguinte,
subiram para R$ 1,2 bilhão, e,
em 2007, para R$ 4,5 bilhões.
Dos R$ 82,2 bilhões na fila
para serem oficializados, R$
22,1 bilhões estão com a massa
falida do Nacional, R$ 5,5 bilhões com o Econômico e R$
100 milhões com o Mercantil
de Pernambuco, de acordo com
as próprias instituições. A Caixa registra no balanço créditos
a receber de R$ 21,227 bilhões,
e a Emgea, de R$ 9,3 bilhões.
Independentemente da data
em que forem reconhecidos,
esses créditos asseguram aos
detentores direito a juros retroativos a 2005. A demora em
oficializá-los está gerando um
novo esqueleto para o governo
que vai estourar no futuro.
Considerando que todos os
créditos sejam confirmados e a
taxa média dessa carteira fornecida pelos próprios bancos, o
Nacional teria direito a receber
juros anuais de cerca de R$ 1,8
bilhão, o Econômico, aproximadamente R$ 550 milhões, e
o Mercantil, R$ 15 milhões. A
Caixa receberia R$ 2,1 bilhões,
e a Emgea, R$ 613 milhões.
Os valores não estão sendo
integralmente quitados pela
União, mas a diferença é incorporada aos ativos (bens) dos
bancos e servirá para quitar a
dívida que eles têm com o governo. De acordo com o Banco
Central, o Nacional deve aos
cofres públicos R$ 20,8 bilhões,
o Econômico, R$ 17,7 bilhões, e
o Mercantil, R$ 1,4 bilhão.
A maior parte dos créditos
está com as massas falidas porque foram dados em garantia
ao empréstimo do Proer, o programa de socorro aos bancos
quebrados, em 1995.
Na época, os créditos e os
CVS tinham pouco valor no
mercado. Mas, depois do prazo
de carência para pagamento de
juros, e com a proximidade de
início das amortizações em
2009, os títulos que vencem em
2027 têm se valorizado.
Segundo registros das negociações desses papéis na Cetip
(Câmara de Custódia e Liquidação), os deságios dos títulos,
que já chegaram a mais de 50%,
caíram significativamente. No
mês passado, uma operação de
R$ 13,5 milhões registrou deságio de 13%. A tendência daqui
para a frente, asseguram especialistas, é a de valorização.
Dívida
O governo criou o fundo para
poder reajustar as prestações
dos contratos do SFH abaixo
das taxas previstas nos empréstimos originais e garantir que
os bancos receberiam o previsto nos contratos. O saldo devedor acumulado foi para o FCVS.
"A assunção desses compromissos [dos subsídios] ocorreu
sem a cobertura de recursos orçamentários. O FCVS (...) passou a assumir responsabilidades crescentes, incompatíveis
com seu patrimônio e seu fluxo
de caixa, acarretando o acúmulo da dívida", explica documento do Tesouro na internet.
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