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COLAPSO DA ARGENTINA
Alta de 72% do dinheiro em circulação (desde janeiro) e saques diários de até 100 milhões de pesos derretem a moeda
Argentina à beira de ataque especulativo
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Sangria de recursos dos bancos
e excesso de dinheiro emitido pelo Banco Central para cobrir o
rombo nas contas do governo argentino. Essas foram as principais
causas da recente derrocada da
moeda argentina, que colocaram
o país à beira de um ataque especulativo na última sexta-feira.
Em apenas um dia, a moeda argentina sofreu desvalorização de
16%. O dólar fechou a semana
custando 3,10 pesos. Desde que a
conversibilidade foi abandonada,
no início de janeiro, a moeda argentina perdeu 68% do seu valor
em relação ao dólar. Pouco adiantou o BC já ter gasto entre US$ 1,2
bilhão e US$ 1,5 bilhão, desde o
início do ano, na tentativa de conter a derrocada do peso.
O ataque contra o peso foi possível porque há uma explosão de
dinheiro em circulação na economia argentina. A combinação entre saques nos bancos e impressão
de papel-moeda pelo BC a fim de
cobrir os déficits fiscais do governo já levou a uma expansão de
72% na base monetária do país.
Esse é o principal indicador usado
para medir a quantidade de moeda em circulação na economia.
Curralzinho
Decisões judiciais que favorecem os argentinos cujos recursos
estão congelados pelo curralzinho
têm levado, segundo estimativas
de analistas, a uma saída diária de
50 milhões a 100 milhões de pesos
por dia dos bancos.
Descrentes no governo e temendo que o peso continue perdendo
valor, os argentinos estão correndo para comprar dólares, o que
tem levado à disparada no valor
da moeda americana.
O refúgio no dólar também é
explicado pela falta de instrumentos financeiros no mercado.
"Com a completa paralisação
do sistema financeiro, aqueles
que conseguem liberar seus recursos não têm alternativa para
proteger o valor da sua moeda a
não ser comprar dólares", disse
Bernardo Kosakoff, economista
da Cepal em Buenos Aires.
Segundo Kosakoff, o excesso de
dinheiro em circulação não está
sequer contribuindo para a retomada da atividade econômica.
"Tem muito dinheiro em circulação, mas a maior parte está indo
para as mãos de pessoas físicas e
não está chegando aos setores
produtivos", afirmou Kosakoff.
Com isso, explica o economista,
o maior benefício que o país poderia ter com a desvalorização -
que é o aumento de competitividade da economia- está sendo
aproveitado de forma limitada.
As exportações até devem ter
crescimento expressivo, que deverá garantir um superávit comercial de US$ 15 bilhões em
2002. Mas, segundo Kosakoff, esse resultado poderia ser melhor se
as amarras do setor financeiro
fossem soltas de forma planejada
e as empresas tivesse acesso a recursos, hoje bloqueados.
Impasses
Para evitar que continuem vazando recursos dos bancos, o governo argentino tem duas saídas.
A primeira alternativa é política,
difícil de ser alcançada e representa um dos maiores desafios do
presidente Eduardo Duhalde.
Trata-se de conseguir convencer a
Justiça de que, se a população
continuar tendo acesso a seus pesos congelados, a pressão cambial
vai provocar um agravamento da
crise econômica.
"É difícil conseguir acordo com
a Justiça, pois a pressão da população é muito grande", diz Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central do Brasil e economista
da consultoria Tendências.
A outra solução para estancar a
sangria de recursos dos bancos
seria um acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional). Um
entendimento com o Fundo, no
entanto, parece tão distante quanto um acordo com a Justiça.
"O FMI está fazendo exigências,
como a proibição de emissão de
mais papel-moeda, praticamente
impossíveis de serem alcançadas
agora", diz a economista Monica
Baer, da MB Associados.
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