São Paulo, domingo, 24 de março de 2002

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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS

Tecnologia pode fortalecer novas redes sociais globais

GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA

O leitor mais fiel desta coluna terá percebido o surgimento de comentários sobre um tema ou tendência no sistema internacional: a formação de redes e o impacto das tecnologias de informação e comunicação, como a internet, nesse processo global.
As pesquisas sobre redes sociais combinam antropologia, sociologia, história, filosofia, psicologia social, ciência política, geografia, biologia, economia e ciências da comunicação.
A explosão recente das novas tecnologias de informação e comunicação, no entanto, ampliou as possibilidades teóricas e práticas de desenvolvimento dessas redes.
Destacaram-se recentemente idéias como as de Manuel Castells, falando de sociedades em rede, Pierre Levy, tratando do surgimento de uma inteligência coletiva, ou Nicholas Negroponte, abordando a vida digital.
Em todo o mundo se buscam novos modelos de organização da economia e da sociedade em que redes passam a ter mais relevância que certos padrões de funcionamento dos mercados e da legislação herdados do capitalismo industrial.
Na USP, o Instituto de Estudos Avançados abriu há dois anos um concurso público para pesquisadores interessados em explorar esse universo.
Assim nasceu o projeto de construção de uma rede global de comunicação e cooperação entre estudantes e trabalhadores, a Cidade do Conhecimento, sob a direção acadêmica deste escriba.
As inscrições em projetos cooperativos da Cidade para alunos e professores do ensino médio e para trabalhadores vão até o dia 31 e podem ser feitas pelo site www.cidade.usp.br.
O objetivo dos cidadãos que se conectarem a essa rede é construir modelos de produção compartilhada, cooperativa ou solidária de conhecimento. A melhor universidade do país abre-se mais à sociedade civil organizada em redes.
Escolas de ensino médio, organizações governamentais e não-governamentais, empresas privadas e instituições de ensino e pesquisa estão aderido a projetos cooperativos estruturados em redes de informação e comunicação certificadas pela USP.
A Cidade do Conhecimento já nasce global, introduzindo novas práticas pedagógicas na pós-graduação com a cooperação de órgãos como o IPT, no Brasil, e o "Media Lab", do MIT.
Há alguns meses, aliás, o MIT, meca da tecnologia global, em especial das tecnologias de informação e comunicação, anunciou que vai colocar, em dez anos, todo o conteúdo de seus cursos gratuitamente na internet. Mas quem quiser interagir com alunos e professores do MIT vai ter de pagar as suas taxas e mensalidades.
O conteúdo produzido na Cidade do Conhecimento será público e gratuito. Mas as oportunidades de interação da sociedade com alunos, professores, funcionários e pesquisadores da USP serão gratuitas também (para quem pertença a organizações do setor público ou esteja em situação de exclusão social).
Alunos do ensino médio, da graduação e da pós vão interagir com profissionais de todas as áreas, empregados, desempregados ou aposentados.
O conhecimento assim produzido poderá gerar novas tecnologias e riqueza que também serão compartilhadas pelos cidadãos conectados à rede da USP.
Surge assim um mecanismo de distribuição de renda e oportunidades de emprego diretamente ligado à democratização do sistema de produção de conhecimento, ciência, tecnologia e cultura.



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