São Paulo, domingo, 24 de março de 2002

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CONJUNTURA

Indicadores mostram que país está mais preparado para crescer; superávit se consolida e produção industrial sobe

Brasil está menos vulnerável às crises

FÁTIMA FERNANDES
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil está mais preparado para crescer e enfrentar eventuais crises externas do que há um ano. É o que mostram pelo menos alguns indicadores do desempenho da economia brasileira.
A inflação está sob controle, as taxas de juros em queda, a previsão é de maior superávit comercial, não há pressão cambial, a indústria está em recuperação, o racionamento de energia acabou, a Argentina já não incomoda tanto e os EUA voltaram a crescer.
Como quase sempre existe um porém, o do Brasil é o seu déficit em conta corrente -isto é, a diferença entre o dinheiro que ele recebe e o que ele envia para fora.
Apesar de ter caído em 2001 na comparação com 2000, o déficit em conta corrente do país ainda é alto, de US$ 23 bilhões. Isso o torna dependente de dinheiro externo. Para se safar do desequilíbrio entre entrada e saída de dólares, o Brasil tem de atrair investimentos estrangeiros, recorrer a empréstimos externos (o que faz em último caso) ou exportar mais.
E está nesse caminho, ainda que no início. As vendas externas não deslancharam o quanto o governo previa, mas o desempenho da balança comercial -saldo entre exportações e importações- já passou a ser positivo.
Em 2001, o país registrou superávit de US$ 2,6 bilhões. No primeiro bimestre deste ano, o saldo foi positivo, de US$ 434 milhões (em igual período do ano passado houve déficit de US$ 403 milhões). A estimativa de economistas ouvidos pela Folha é que o superávit pode chegar perto de US$ 5 bilhões neste ano.
"Apesar de parte do superávit comercial ser reflexo da queda nas importações do que do aumento expressivo das exportações, o Brasil tem grandes chances de expandir sua participação no mercado internacional. A safra agrícola vai ser boa, o preço das commodities está em recuperação e os EUA estão voltando a crescer", diz Fábio Silveira, economista da MB Associados.
A maioria dos indicadores que medem a vulnerabilidade externa do país (o quanto ele é suscetível a crises) também melhorou. De 11 usados pelo BC para avaliar a piora ou a melhora do endividamento externo, sete melhoraram, três pioraram e um ficou estável na comparação entre setembro de 2001 e o final de 2000.
São contas que mostram, por exemplo, qual parcela das exportações está comprometida com a dívida externa, quanto os gastos da dívida externa representam do PIB, qual parcela das exportações está comprometida com gastos com juros e quanto a dívida externa corresponde do PIB.
A parcela das exportações que está comprometida com os gastos da dívida externa brasileira caiu de 94,6%, em dezembro de 2000, para 82,3% em setembro do ano passado. E o prazo necessário para pagar a dívida reduziu de 4,3 anos para 3,7 anos, por exemplo.
O que piorou foi a participação dos gastos da dívida externa sobre o PIB, de 8,8% para 9%, no período. Há uma explicação: "A participação dos gastos da dívida sobre o PIB cresceu porque o PIB em dólar caiu com a desvalorização do real. Não houve deterioração da dívida", diz Monica Baer, economista da MB Associados.
Este deve ser um ano sem sobressaltos também no mercado interno, prevêem os economistas. Com o fim do racionamento neste mês, a expectativa é que as indústrias expandam mais a produção, que começou a mostrar sinais de recuperação já no final do ano passado. De novembro de 2001 a fevereiro deste ano, a produção vem crescendo entre 1,1% e 1,5% ao mês sobre o mês anterior.
A previsão dos economistas é que a produção industrial deve crescer 2,7%, em média, neste ano sobre 2001. Na comparação ponta a ponta (um trimestre deste ano em relação a igual período do ano passado, por exemplo), pode chegar a crescer 5,5%.
Se esse crescimento se mantiver, como esperam economistas e empresários, a taxa de desemprego, que hoje é de 6,6%, em média, entre seis capitais do país, deve terminar o ano em torno de 6,2%.
"Ainda não chegaremos a ter a taxa do início de 2001, que era de 5,7%, mas a taxa de desemprego vai começar a cair", afirma Antônio Luís Licha, diretor do Instituto de Economia da UFRJ. O rendimento médio do trabalhador, diz, que caiu 4,3% em 2001 sobre 2000, deve voltar a se recuperar a partir do segundo semestre deste ano.



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