São Paulo, quarta-feira, 24 de março de 2004

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LUÍS NASSIF

Marketing e planejamento

Em vez de gastar dinheiro em campanhas publicitárias, melhor faria Luiz Gushiken -secretário de Comunicação e Planejamento Estratégico- em investir na segunda função da sua secretaria. Até para poder dispor de elementos que tornem as campanhas publicitárias convincentes.
Um guru do planejamento estratégico no Brasil dá a receita. O primeiro passo é definir uma visão para o país, que tem que ser simples e objetiva e dar direção para as pessoas seguirem.
Em sua campanha, Fernando Collor, sem querer, conseguiu sintetizar a missão quando anunciou que a intenção de seu governo seria elevar o Brasil a Primeiro Mundo.
O segundo passo é a análise de todos os fatores que interagem com o país -a chamada análise da situação externa. Quais as ameaças ao Brasil? Essa pergunta é fundamental, até para política de segurança.
Hoje em dia existem no mundo ameaças de doenças, em homens e animais, ameaças de terrorismo. O sistema de abastecimento de água no Brasil é totalmente desprotegido. Um alucinado qualquer pode entrar em uma estação de tratamento de água e envenenar uma região inteira com a maior facilidade.
Na época da crise de energia, foi feita uma verificação em 900 hospitais brasileiros, para saber quem dispunha de geradores que pudessem funcionar em caso de apagão. Apenas 40 deles tinham.
Outro exemplo. O petróleo no mundo tem 700 bilhões de barris de reservas comprovadas -ou 30 anos de consumo. Em um certo momento, vai explodir o preço. Qual será o comportamento da curva de preços e quais as alternativas viáveis ao país? Hidrogênio? Biomassa? Energia nuclear?
As universidades estão paradas, sem estímulo e sem salários. E todo o seu conhecimento não está sendo aproveitado. Gushiken deveria estar articulando todos esses centros de conhecimento -universidades, institutos, grandes empresas, Petrobras, Eletrobrás, BNDES etc.- para produzir o diagnóstico.
Só a partir do diagnóstico podem ser montadas políticas públicas consistentes. A política de ciência e tecnologia vai colocar dinheiro onde, para estudar hidrogênio, energia eólica? Depende do diagnóstico prévio para ver se é viável.
Esse processo tem que ser feito e refeito continuamente. A secretaria tem que ser o escritório de planejamento estratégico da Presidência, reforçando o papel do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) como uma agência que articule esses centros de conhecimento.
Esse é o primeiro passo, essencial não apenas para dar um rumo ao governo mas para reconstruir a governabilidade.

Fischer
Eduardo Fischer me liga para explicar sua posição no caso AmBev -com o comercial acusando Zeca Pagodinho de "traíra". No plano do marketing, da comunicação de massa, diz ele, quando subtraiu Pagodinho da Schincariol, a campanha da AmBev dizia que ele tinha voltado "por amor". A única resposta eficiente seria contar a razão principal, que foi por dinheiro. No plano dos formadores de opinião e no plano legal está lutando com todas as armas de que dispõe para denunciar a ação dos concorrentes. Retiro a "Lei de Fischer".


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