São Paulo, segunda-feira, 24 de março de 2008

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entrevista

Nestlé pulveriza venda e faz sachê para leite em pó

DA REPORTAGEM LOCAL

Quando decidiu vender produtos para a baixa renda, há três anos, Ivan Zurita, presidente da Nestlé no Brasil, enviou seus diretores de marketing para a periferia de São Paulo e decidiu contratar três novos funcionários que, naquela ocasião, viviam em favelas. Após anos de pesquisa, a baixa renda já responde por 2,5% do faturamento total da empresa. A meta é atingir 10% nos próximos dois anos.

 

FOLHA - A Nestlé sempre desenvolveu produtos para as classes mais abastadas. Houve restrições da matriz diante de sua decisão de criar uma operação voltada para as classes C, D e E no Brasil?
IVAN ZURITA -
Nossas pesquisas mostram que as classes C, D e E respondem por 72% do consumo de alimentos no Brasil. O problema é que tínhamos um modelo de negócio aquém do desejado para atender a baixa renda.

FOLHA - O que mudou?
ZURITA -
Contratar três diretores que moravam em favelas. Eles nos ensinaram sobre o cotidiano dessas comunidades. Descobrimos que o caixa das famílias dura sete dias. Se elas fizessem compras diariamente em um supermercado, gastariam 40% de sua renda em transporte porque não podem se dar ao luxo de uma compra mensal. Por outro lado, renda per capita baixa não significa renda familiar baixa. A partir daí, definimos nossa estratégia de atuação.

FOLHA - Qual é a diferença em relação ao modelo tradicional?
ZURITA -
A principal mudança está na distribuição. O modelo tradicional, voltado para as grandes redes, não atende à classe de baixa renda. Por isso, montamos uma rede própria com dez minidistribuidores. Cada um mantém forças-tarefas que levam os produtos até as mais distantes lojas do bairro. A Nestlé gerencia o estoque desse minidistribuidor, que "pulveriza" as mercadorias. Também contamos com outros 47 distribuidores para o pequeno e o médio varejistas. Além disso, temos uma rede de 5.800 mulheres que vendem de porta em porta, com carrinhos refrigerados. Elas trabalham cerca de três horas diárias na própria comunidade em que vivem. Esse time chegará a 10 mil integrantes neste ano. Antes, operávamos da fábrica para o consumidor. Agora, é o contrário.

FOLHA - As classes A e B deixam de comprar os produtos que vinham consumindo só porque a classe C passou a adquiri-los?
ZURITA -
As sandálias Havaianas têm modelos cobertos de pedras preciosas e o modelo tradicional que uma diarista utiliza para fazer uma faxina. A imagem da empresa nunca esteve em risco por causa disso. Ninguém vai deixar de consumir o leite condensado da Nestlé só porque ele também é consumido na favela. Aliás, nossa estratégia com a fábrica de Feira de Santana (BA) foi reduzir o custo e baratear os produtos. Além disso, investimos na customização dos produtos. Na próxima semana, por exemplo, a lata de leite em pó Ninho também será vendida em sachês menores. Temos de nos adaptar à realidade do nosso consumidor. Isso é o mais importante.


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