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Itens para classe mais baixa dão retorno maior
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é apenas o volume de
venda para a baixa renda que
está forçando as grandes corporações a reformular sua atuação no mercado. O retorno sobre o capital investido no lançamento dos produtos destinados às classes C, D e E pode chegar a 90%, cinco vezes mais do
que pelo modelo tradicional de
negócio, que privilegia as grandes redes varejistas.
É o que revela uma pesquisa
inédita feita pela BCG (The
Boston Consulting Group). A
Folha apurou que esse é o caso
da Unilever, que apenas com a
venda de detergentes para as
classes de baixa renda obtém
retorno próximo de 90%.
À primeira vista, parece ser
um mau negócio. Afinal, a margem de lucro dos detergentes
para a baixa renda costuma ser
de 18%, contra 25% dos detergentes destinados às classes A e
B. A conta só inverte quando se
consideram os investimentos
por produto. É aí que o retorno
sobre o capital dispara em favor
da baixa renda.
Para as empresas atingirem
sucesso nesse ramo, elas precisam mais do que produtos específicos, sendo obrigadas a
implantar uma nova rede de
distribuição.
No Brasil, a Nestlé criou uma
rede com 5.800 mulheres que,
munidas de um carrinho refrigerado, vendem as mercadorias
nas ruas de seus bairros.
Cerca de 80% dos produtos
da concorrente Kraft são vendidos em lojas com, no máximo, dez caixas registradoras.
"Temos 14 distribuidores exclusivos que fracionam os produtos para os pequenos e médios varejistas", afirma Márcio
Salvadego, diretor da unidade
de negócios da Kraft.
A "repaginação" de produtos
também é uma estratégia. Os
biscoitos Trakinas, vendidos
em embalagens de 164 gramas
para as classes A e B, tiveram
uma versão de 143 gramas para
as classes C, D e E. Resultado:
em 2007, a baixa renda representou 10% das receitas da
Kraft no país, índice que era de
6% há cerca de dois anos.
O fortalecimento dos consumidores de menor poder aquisitivo levou a Consul a rever sua
estratégia, colocando nas lojas
produtos para a baixa renda
com tecnologias presentes em
produtos para a classe A e B.
"Fizemos uma geladeira com
uma saída para água potável na
porta por menos de R$ 1.000",
diz Ana Calderon, diretora de
marketing. "Também desenvolvemos uma lava-roupas automática nessa faixa de preço."
Segundo Calderon, a companhia vende 30 mil dessas lavadoras por mês, a mesma quantidade da versão tradicional,
que custa cerca de R$ 2.000.
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