São Paulo, quarta-feira, 24 de março de 2010

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Expectativa de alta da Selic impede queda do juro ao consumidor

Custo de captação de instituições financeiras aumenta e anula efeito positivo da queda da inadimplência, afirma BC

Encarecimento do crédito, porém, não deve impedir avanço dos empréstimos, avaliam BC e economistas; expansão deve ser de 20%

EDUARDO CUCOLO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A expectativa de alta na taxa básica de juros já começou a anular o impacto positivo da queda da inadimplência sobre o mercado de crédito. Para o Banco Central, a elevação no custo de captação de recursos por parte dos bancos, verificada desde o fim do ano passado, impede a redução maior dos juros ao consumidor. A tendência, segundo economistas, é de encarecimento nos financiamentos nos próximos meses.
Em fevereiro, os juros bancários caíram para 34,3% ao ano, mesmo percentual de dezembro. Para a pessoa física, fecharam em 41,9%, a menor taxa desde o início da série histórica, em 1994. A queda se deu em todas as modalidades -como cheque especial, crédito pessoal e capital de giro para empresas- e reflete a redução do "spread" bancário, que é a parcela que embute custos, risco de inadimplência e lucros.
Dados parciais do BC para março, porém, mostram que a nova queda do "spread" foi compensada por um novo aumento no custo de captação dos bancos. Com isso, os juros pararam de cair. Esse comportamento já havia sido registrado no fim de 2009, quando o mercado financeiro passou a apostar em um aumento da taxa Selic a partir de abril.
"A expectativa é de redução da inadimplência e isso se reflete no "spread", mas estamos observando aumento no custo de captação das instituições financeiras e isso, sem dúvida, é repassado ao consumidor", disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes.
Para o economista Alexandre Andrade, da consultoria Tendências, a alta na taxa básica de juros (Selic) terá impacto sobre consumidores e empresas, mas não o suficiente para deter o avanço do crédito em 2010.
"O aumento da Selic vai produzir uma piora nas condições dos empréstimos, mas as taxas de juros estão em patamares historicamente baixos", diz.
O governo também mantém a expectativa de continuidade na recuperação do crédito. O total de empréstimos concedidos no país chegou a R$ 1,44 bilhão em fevereiro, o equivalente a 45% do PIB (soma dos bens e serviços produzidos no país em dado período). Deve chegar a 49% do PIB no fim do ano. O percentual de crescimento desses recursos passará dos 17% nos últimos 12 meses para 20% até dezembro, prevê o BC.
O banco espera que as carteiras de crédito de bancos públicos e privados nacionais avancem no mesmo ritmo (23%).
O crédito será puxado novamente pelos financiamentos direcionados, que incluem o dinheiro do BNDES, da área rural e da habitação, entre outros, e chegam ao público, principalmente, por meio de instituições estatais. Respondem por um terço dos empréstimos e devem crescer 26% no ano.
Para o chamado crédito livre, é esperado um avanço de 18%. É reflexo, principalmente, da recuperação nos financiamentos para empresas, que avançaram só 1,2% no ano passado e devem crescer 14% em 2010.


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