São Paulo, quarta-feira, 24 de março de 2010

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ANÁLISE

Concorrência poderá mitigar novas altas de juros

FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA

Depois de um janeiro mais "morno", em fevereiro o mercado de crédito voltou a se aquecer. Essa é a impressão mais geral suscitada pelos números divulgados ontem pelo Banco Central -embora o saldo das operações de crédito tenha crescido apenas 0,8%, ritmo ligeiramente inferior à inflação do mês e similar ao de janeiro (0,7%).
É comum que essa informação sobre a evolução do estoque de dívidas das famílias e das empresas junto ao sistema financeiro nacional receba maior atenção. Outra informação, no entanto, costuma fornecer uma ideia mais clara sobre o desempenho do mercado de crédito: o volume de concessões contratadas naquele mês, e em particular as concessões feitas com os chamados recursos livres (isto é, a parcela da captação de recursos dos bancos que não tem de ser direcionada a empréstimos a setores específicos, como a agricultura e a construção residencial).
Descontando as flutuações típicas de cada mês, o fechamento de negócios nessa modalidade de crédito (que responde por dois terços do total das operações) parece ter acelerado de janeiro para fevereiro.
A aceleração foi mais nítida, em fevereiro, no crédito às empresas do que nas operações com pessoas físicas. Mas de maneira geral o mercado de crédito às empresas se encontra menos aquecido: o volume de concessões mensais ainda é claramente menor do que antes do agravamento da crise global (nos meses finais de 2008). Mas a inadimplência das empresas voltou a diminuir ligeiramente, pelo quarto mês consecutivo, o que deverá facilitar a continuidade da retomada dos negócios.
Já o mercado de crédito às famílias sofreu menos durante a crise, começou a recuperar-se mais cedo e desde meados de 2009 exibe um volume mensal de concessões superior ao nível pré-crise e com tendência crescente. A inadimplência das pessoas físicas vem recuando desde abril de 2009 e em fevereiro teve queda mais pronunciada.
Essa diminuição da inadimplência é um dos fatores que levaram a que o custo médio do crédito às pessoas físicas atingisse, em fevereiro, o nível mais baixo apurado pelo Banco Central (desde julho de 1994, quando teve início a apuração sob a atual metodologia). "Mais baixo", evidentemente, não significa "baixo": a taxa média (41,9% ao ano) é, ainda, das mais altas do mundo. E é provável que, sob a influência de decisões do BC -que recentemente reduziu os recursos à disposição dos bancos para emprestar e praticamente pré-anunciou que começará, em abril, a aumentar a taxa de juros básica-, ela volte a subir.
Ao menos o ritmo de alta poderá ser mitigado pela menor inadimplência e pela maior concorrência: os bancos privados já voltaram à disputa pelos tomadores de crédito, tanto que em fevereiro a participação dos bancos públicos no estoque de empréstimos, que vinha crescendo rapidamente desde fins de 2008, manteve-se estável pelo terceiro mês consecutivo.


FERNANDO SAMPAIO , economista, é sócio-diretor da LCA Consultores.


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