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ANÁLISE
Concorrência poderá mitigar novas altas de juros
FERNANDO SAMPAIO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Depois de um janeiro mais
"morno", em fevereiro o mercado de crédito voltou a se
aquecer. Essa é a impressão
mais geral suscitada pelos números divulgados ontem pelo
Banco Central -embora o saldo das operações de crédito tenha crescido apenas 0,8%, ritmo ligeiramente inferior à inflação do mês e similar ao de janeiro (0,7%).
É comum que essa informação sobre a evolução do estoque
de dívidas das famílias e das
empresas junto ao sistema financeiro nacional receba
maior atenção. Outra informação, no entanto, costuma fornecer uma ideia mais clara sobre o desempenho do mercado
de crédito: o volume de concessões contratadas naquele mês,
e em particular as concessões
feitas com os chamados recursos livres (isto é, a parcela da
captação de recursos dos bancos que não tem de ser direcionada a empréstimos a setores
específicos, como a agricultura
e a construção residencial).
Descontando as flutuações
típicas de cada mês, o fechamento de negócios nessa
modalidade de crédito (que
responde por dois terços do total das operações) parece ter
acelerado de janeiro para fevereiro.
A aceleração foi mais nítida,
em fevereiro, no crédito às empresas do que nas operações
com pessoas físicas. Mas de
maneira geral o mercado de
crédito às empresas se encontra menos aquecido: o volume
de concessões mensais ainda é
claramente menor do que antes do agravamento da crise
global (nos meses finais de
2008). Mas a inadimplência
das empresas voltou a diminuir
ligeiramente, pelo quarto mês
consecutivo, o que deverá facilitar a continuidade da retomada dos negócios.
Já o mercado de crédito às famílias sofreu menos durante a
crise, começou a recuperar-se
mais cedo e desde meados de
2009 exibe um volume mensal
de concessões superior ao nível
pré-crise e com tendência crescente. A inadimplência das pessoas físicas vem recuando desde abril de 2009 e em fevereiro
teve queda mais pronunciada.
Essa diminuição da inadimplência é um dos fatores que levaram a que o custo médio do
crédito às pessoas físicas atingisse, em fevereiro, o nível mais
baixo apurado pelo Banco Central (desde julho de 1994, quando teve início a apuração sob a
atual metodologia). "Mais baixo", evidentemente, não significa "baixo": a taxa média
(41,9% ao ano) é, ainda, das
mais altas do mundo. E é provável que, sob a influência de decisões do BC -que recentemente reduziu os recursos à
disposição dos bancos para emprestar e praticamente pré-anunciou que começará, em
abril, a aumentar a taxa de juros básica-, ela volte a subir.
Ao menos o ritmo de alta poderá ser mitigado pela menor inadimplência e pela maior concorrência: os bancos privados
já voltaram à disputa pelos tomadores de crédito, tanto que
em fevereiro a participação dos
bancos públicos no estoque de
empréstimos, que vinha crescendo rapidamente desde fins
de 2008, manteve-se estável
pelo terceiro mês consecutivo.
FERNANDO SAMPAIO , economista,
é sócio-diretor da LCA Consultores.
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