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Pinóquios no mundo de tigres, gatos e ratos
ALOYSIO BIONDI
Os ``tigres'' viraram gatos e
mais cedo do que se pensa voltarão a enfrentar a condição de
``ratinhos'' da economia mundial. Os famosos ``tigres asiáticos'', tão festejados como
``exemplos'' para o Brasil, estão
às voltas com gigantescos ``rombos'' em sua balança comercial,
isto é, suas importações são
imensamente maiores do que as
exportações.
A famosa Coréia do Sul, com
seus famosos carros resplandecentes, enfrenta um saldo negativo de US$ 23 bilhões, em um
ano; Hong Kong, US$ 19 bilhões, e as Filipinas, Tailândia e
Cingapura, rombos de US$ 13
bi; US$ 12 bi e US$ 7 bi, respectivamente.
Os economistas-banqueiros,
os líderes empresariais capachildos, os de-formadores de
opinião continuam a dizer, para a sociedade brasileira, que a
equipe FHC está certíssima em
``escancarar'' o mercado às importações, para ``modernizar a
economia''. Apontam os ``tigres
asiáticos'' como modelo. Não
dizem que os ex-tigres estão
afundando, viraram ``gatos''.
Exatamente como ocorreu com
o México, apontado como
``exemplo'' para o Brasil durante anos sem que os seus adoradores olhassem para as estatísticas e vissem que mais cedo ou
mais tarde o México ``quebraria''. Aí, com a maior cara de
pau. Os Pinóquios arrumaram
mil explicações cretinas para
continuar defendendo a ``abertura'' da economia dos países
menos desenvolvidos às multinacionais e aos países ricos.
Exatamente como se faz no
Brasil, onde uma equipe econômica irresponsável e lideranças
empresariais submissas estão
promovendo a destruição da indústria, a destruição de empregos e levando a economia a novas situações de beco sem saída.
Outro lado
Os antigos ``tigres'' asiáticos
acumulam ``rombos''. E os países ricos? Nadam em dólares.
Acumulam saldos fantásticos,
nesta ordem: Japão, US$ 81 bilhões; Alemanha, US$ 65 bilhões; Itália, US$ 43 bilhões;
Canadá, US$ 25 bilhões; Holanda (a minúscula Holanda...), US$ 23 bilhões; França,
US$ 19 bilhões, Suécia, US$ 17
bilhões. É só olhar os dois lados
da moeda: ``rombo'' dos países
pobres, ``saldo'' dos países ricos.
É esse o resultado da política
de ``escancaramento'' do mercado de desnacionalização,
aconselhada por FMI, EUA e
demais países ricos aos governos desfibrados do Terceiro
Mundo.
``Corredores''
Por que os ``tigres'' se metamorfoseiam em gatos ou ratos?
Porque as multinacionais,
quando o mercado é ``escancarado'' para elas, passam a importar peças, componentes e até
matérias-primas de seus países.
Quebram as indústrias (e a
agricultura) locais que antes
abasteciam o mercado. As filiais formam verdadeiros ``corredores de importação'', comprando tudo no país-matriz,
como revelado na década de 70
pelo então ministro Severo Gomes (que certamente morreria
de vergonha, se vivo fosse, ao
ver a política de país arrasado
implantada por seus antigos
amigos economistas, sociólogos,
políticos, em meio à submissão
das lideranças empresariais).
Em silêncio
Numa primeira etapa, as
multinacionais roubam o mercado das indústrias nacionais,
torram dólares do país. Aí, as
empresas locais mergulham em
problemas. Ou quebram. Ou
são vendidas às múltis, o que
-atenção- equivale a uma
``quebradeira silenciosa''.
Essa ``quebradeira'' é apresentada pelos Pinóquios como
algo maravilhoso, ou ``prova do
enorme interesse pelo Brasil no
exterior, graças ao maravilhoso
governo que temos''. Pois é.
Rombo, desnacionalização,
mais rombo, mais desnacionalização. Quando é que a sociedade brasileira vai acordar para o que está acontecendo?
Sem pudor
Em entrevista de página inteira ao jornal ``O Globo'' do
último domingo, 20 de abril, o
ministro da Fazenda, Pedro
Malan, volta a prever que as
exportações brasileiras crescerão, e a balança comercial terá
saldo positivo.
Não custa relembrar o que o
sr. Pedro Malan dizia há dois
anos, ao ``Correio Brasiliense''
de 30 de abril de 1995, quando
os ``rombos'' começaram: ``Vamos virar esse jogo... Logo, logo
(sic), teremos superávit na balança comercial... Digo isso
com base em exportações recordes...'' Foi assim que o Brasil
afundou. Com dois anos de explicações dignas de Pinóquio
por parte da equipe FHC.
Aloysio Biondi, 60, é jornalista econômico.
Foi editor de Economia da Folha e diretor de
Redação da revista ``Visão''. Escreve às quintas-feiras no caderno Dinheiro.
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