São Paulo, terça-feira, 24 de abril de 2007

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BENJAMIN STEINBRUCH

Sucesso, professor!

Luciano Coutinho é um notório desenvolvimentista, estudioso e conhecedor das carências da indústria

É ÚTIL REVER A história da economia brasileira e consultar velhas leis, ainda em vigor, que, ao contrário de milhares de outras inócuas, fizeram muito bem ao país.
Em 20 de junho de 1952, o presidente Getúlio Vargas e o então ministro da Fazenda, Horácio Lafer, assinaram a lei de número 1.628, que criou o BNDE (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico), depois renomeado por decreto, em 1982, com a inclusão do Social e com a sigla de BNDES.
Esse banco estatal, pela letra da lei, surgiu com o objetivo explícito de atuar como agente do governo em operações financeiras para o "reaparelhamento e o fomento da economia nacional". Por "reaparelhamento" os legisladores entendiam especificamente obras em portos, sistemas de transportes, armazenamento, frigoríficos e matadouros, usinas de energia elétrica, indústrias em geral e agricultura.
Passados quase 55 anos, aí está o BNDES, que emprestou R$ 52 bilhões no ano passado (na boa gestão de Demian Fiocca) e tem mais R$ 61 bilhões para emprestar em 2007 a empresas nacionais e estrangeiras. É difícil imaginar como teria sido o país nesses anos todos sem os recursos do banco de desenvolvimento.
Um dos maiores equívocos de anos recentes foi a tentativa de algumas correntes ideológicas, felizmente sem sucesso, de redirecionar o BNDES para funcionar como um simples banco de investimento. Alguns grupos chegaram a propor até mesmo a sua privatização.
Aos olhos da lei e das intenções originais, a nomeação do professor Luciano Coutinho para o cargo de presidente do banco neste segundo mandato de Lula é um acerto. Tanto quanto em 1952, a economia brasileira clama hoje por "reaparelhamento" urgente de sua infra-estrutura e por medidas que facilitem a capitalização de suas empresas de todos os tamanhos.
O economista Coutinho é um notório desenvolvimentista, estudioso e conhecedor das carências da indústria e das mazelas que impedem neste momento o crescimento de setores básicos da economia.
É bom para o governo e bom para o país ter no BNDES uma cabeça diferenciada daquelas que pensam, por exemplo, a política administrada pelo Banco Central. Em artigo recente, Coutinho lamentou que o BC tenha deixado apreciar demasiadamente a taxa de câmbio, que estimula as importações e segura o crescimento do PIB. "Seria sensato trazê-la [a taxa de câmbio] suavemente para uma trajetória neutra e mais competitiva, com queda mais rápida dos juros e com um volume maior de intervenção cambial", escreveu.
Não seria bom para o país se, por ingerências políticas, o BNDES viesse a ser dirigido por alguém muito ligado ao mercado financeiro que, por convicção ou cacoete, afastasse o banco de sua missão primordial de promover desenvolvimento, definida na lei assinada por Vargas.
Em 1952, o governo se propôs a dar garantia para investimentos de US$ 750 milhões, por meio do recém-criado BNDES. Não é preciso pesquisar muito para descobrir os efeitos extraordinariamente benéficos que esses recursos proporcionaram aos setores básicos da economia e à industrialização do país nos anos seguintes. Além do BNDES, nesse período foram criadas a Petrobras, a Vale do Rio Doce, a Companhia Hidrelétrica de São Francisco e a própria Companhia Siderúrgica Nacional, privatizada em 1993 e que hoje tenho a honra de presidir. É impossível saber que rumo teria tomado o Brasil nas últimas cinco décadas sem essas empresas voltadas para setores básicos. Elas sustentaram todo o processo de industrialização acelerado que ocorreu durante quase três décadas.
Agora, com o PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), a meta é investir com recursos públicos quase US$ 250 bilhões em quatro anos e, ao mesmo tempo, estimular investimentos privados de US$ 800 bilhões.
Não se trata de uma tarefa fácil e que possa ser realizada sem que os agentes econômicos tenham a convicção de que desenvolvimento não é só fruto das contingências do mercado. Como escreveu o próprio Coutinho, essa tarefa exige mais do que vontade e competência do governo. Exige também a geração de confiança e a mobilização do setor privado e da sociedade para que sejam criadas as condições de investimento na escala desejada. Sucesso, professor!


BENJAMIN STEINBRUCH, 53, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).

bvictoria@psi.com.br


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