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BENJAMIN STEINBRUCH
Sucesso, professor!
Luciano Coutinho é um notório desenvolvimentista, estudioso e conhecedor das carências da indústria
É ÚTIL REVER A história da economia brasileira e consultar
velhas leis, ainda em vigor,
que, ao contrário de milhares de outras inócuas, fizeram muito bem ao
país.
Em 20 de junho de 1952, o presidente Getúlio Vargas e o então ministro da Fazenda, Horácio Lafer,
assinaram a lei de número 1.628, que
criou o BNDE (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico), depois renomeado por decreto, em
1982, com a inclusão do Social e com
a sigla de BNDES.
Esse banco estatal, pela letra da
lei, surgiu com o objetivo explícito
de atuar como agente do governo
em operações financeiras para o
"reaparelhamento e o fomento da
economia nacional". Por "reaparelhamento" os legisladores entendiam especificamente obras em
portos, sistemas de transportes, armazenamento, frigoríficos e matadouros, usinas de energia elétrica,
indústrias em geral e agricultura.
Passados quase 55 anos, aí está o
BNDES, que emprestou R$ 52 bilhões no ano passado (na boa gestão
de Demian Fiocca) e tem mais R$ 61
bilhões para emprestar em 2007 a
empresas nacionais e estrangeiras.
É difícil imaginar como teria sido o
país nesses anos todos sem os recursos do banco de desenvolvimento.
Um dos maiores equívocos de
anos recentes foi a tentativa de algumas correntes ideológicas, felizmente sem sucesso, de redirecionar
o BNDES para funcionar como um
simples banco de investimento. Alguns grupos chegaram a propor até
mesmo a sua privatização.
Aos olhos da lei e das intenções
originais, a nomeação do professor
Luciano Coutinho para o cargo de
presidente do banco neste segundo
mandato de Lula é um acerto. Tanto
quanto em 1952, a economia brasileira clama hoje por "reaparelhamento" urgente de sua infra-estrutura e por medidas que facilitem a
capitalização de suas empresas de
todos os tamanhos.
O economista Coutinho é um notório desenvolvimentista, estudioso
e conhecedor das carências da indústria e das mazelas que impedem
neste momento o crescimento de
setores básicos da economia.
É bom para o governo e bom para
o país ter no BNDES uma cabeça diferenciada daquelas que pensam,
por exemplo, a política administrada pelo Banco Central. Em artigo recente, Coutinho lamentou que o BC
tenha deixado apreciar demasiadamente a taxa de câmbio, que estimula as importações e segura o crescimento do PIB. "Seria sensato trazê-la [a taxa de câmbio] suavemente
para uma trajetória neutra e mais
competitiva, com queda mais rápida
dos juros e com um volume maior de
intervenção cambial", escreveu.
Não seria bom para o país se, por
ingerências políticas, o BNDES viesse a ser dirigido por alguém muito ligado ao mercado financeiro que, por
convicção ou cacoete, afastasse o
banco de sua missão primordial de
promover desenvolvimento, definida na lei assinada por Vargas.
Em 1952, o governo se propôs a
dar garantia para investimentos de
US$ 750 milhões, por meio do recém-criado BNDES. Não é preciso
pesquisar muito para descobrir os
efeitos extraordinariamente benéficos que esses recursos proporcionaram aos setores básicos da economia e à industrialização do país nos
anos seguintes. Além do BNDES,
nesse período foram criadas a Petrobras, a Vale do Rio Doce, a Companhia Hidrelétrica de São Francisco e
a própria Companhia Siderúrgica
Nacional, privatizada em 1993 e que
hoje tenho a honra de presidir. É impossível saber que rumo teria tomado o Brasil nas últimas cinco décadas sem essas empresas voltadas para setores básicos. Elas sustentaram
todo o processo de industrialização
acelerado que ocorreu durante quase três décadas.
Agora, com o PAC (Programa de
Aceleração do Crescimento), a meta
é investir com recursos públicos
quase US$ 250 bilhões em quatro
anos e, ao mesmo tempo, estimular
investimentos privados de US$ 800
bilhões.
Não se trata de uma tarefa fácil e
que possa ser realizada sem que os
agentes econômicos tenham a convicção de que desenvolvimento não
é só fruto das contingências do mercado. Como escreveu o próprio Coutinho, essa tarefa exige mais do que
vontade e competência do governo.
Exige também a geração de confiança e a mobilização do setor privado e
da sociedade para que sejam criadas
as condições de investimento na escala desejada. Sucesso, professor!
BENJAMIN STEINBRUCH, 53, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do
conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de
São Paulo).
bvictoria@psi.com.br
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