São Paulo, sexta-feira, 24 de abril de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Para FMI, crise está longe do fim e "ativos tóxicos" são prioridade

Crédito não voltará ao normal sem limpeza nos balanços dos bancos, diz Fundo

FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON

O diretor-gerente do FMI, Dominique Strauss-Kahn, afirmou ontem que a maior crise desde os anos 1930 "ainda está longe do seu fim". Disse também que não haverá recuperação enquanto EUA e outros países avançados não resolverem o problema dos chamados "ativos tóxicos", responsáveis pelo travamento do crédito.
Strauss-Kahn alertou ainda para o risco de descontrole na dívida pública nos países que estão despejando bilhões de dólares em suas economias para recuperar a atividade. Esses gastos, disse, são necessários agora, mas terão de ser "atacados" no médio prazo.
"Estamos ainda muito longe de onde deveríamos estar. Fiquei muito impressionado na reunião do G20 em Londres (no início do mês) com o comprometimento de todos sobre a necessidade de limpar os balanços dos bancos. Ótimo. Voltando para casa, é difícil de implementar, suponho que por razões políticas. E técnicas."
"Mas gostaria de dizer isso com certa gravidade: todas as experiências com crises passadas, e temos muitas nesta instituição, mostram que nunca há recuperação antes que os balanços dos bancos sejam limpos. Por isso, qualquer recuperação a partir de 2010 depende do que for feito nessa área."
O FMI estima que apenas os bancos norte-americanos tenham cerca de US$ 2,8 trilhões (mais de duas vezes o PIB do Brasil) em "ativos tóxicos" nas suas carteiras de crédito. O valor subiria a US$ 4 trilhões somando os de outros países.
Os "ativos tóxicos" são resultado de empréstimos realizados no passado sem garantias suficientes e lastreados, em grande parte, por títulos relacionados ao mercado imobiliário. Quando a "bolha imobiliária" explodiu a partir de 2007, esses ativos perderam valor rapidamente, abrindo rombos imensos nos bancos.
Os bancos têm relutado em emprestar mais dinheiro para empresas e consumidores temendo levar calotes. Isso alimenta o ciclo vicioso desta recessão: os bancos não emprestam, as pessoas não consomem, a recessão se agrava.
Para o médio prazo, Strauss-Kahn recomendou "atenção" com o aumento do endividamento dos países que tentam agora estimular suas economias. Segundo as projeções do FMI, entre os países do G20, o endividamento tende a subir do equivalente a 80% do PIB dessas economias em 2008 para cerca de 120% do PIB em 2011 (no pior cenário).

Mais empréstimos
O diretor-gerente do Fundo afirmou que até domingo, quando termina a reunião conjunta do FMI e Banco Mundial, espera ter contabilizado cerca de US$ 500 bilhões em novos recursos. Hoje, o Fundo tem cerca de US$ 250 bilhões.
Entre linhas já anunciadas ou em negociação, o Fundo tem US$ 147 bilhões comprometidos até este mês. Cerca da metade do valor será emprestada por meio da nova Linha de Crédito Flexível, que não exige condicionalidades tradicionais de outros programas do Fundo.
Até agora, apenas o México teve um empréstimo aprovado nesses termos, de US$ 47 bilhões. Mas Polônia (US$ 20 bilhões) e Colômbia (US$ 10 bilhões) já recorreram à aprovação de créditos nesse molde.
O FMI anunciou que duplicará o limite de empréstimos que podem ser concedidos a seus países-membros mais pobres, um total de 78 nações.
Esses países integram o chamado Programa de Redução de Pobreza e Auxílio ao Crescimento do Fundo. Eles agora poderão tomar emprestado duas vezes mais dinheiro em relação ao que têm direito relativamente à sua participação no capital do FMI.
Também ontem, o presidente do Banco Mundial, Robert Zoellick, exortou os países a evitar medidas protecionistas.
Segundo Zoellick, houve ao menos 23 novas barreiras impostas por seis países e pela União Europeia desde a reunião do G20, em Londres. Os EUA impuseram 10 medidas. O Brasil, 4. A UE, 6.


Texto Anterior: Crise compromete avanço da inovação nas economias
Próximo Texto: Lula pede que não se fale mais de crise
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.