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Para FMI, crise está longe do fim e "ativos tóxicos" são prioridade
Crédito não voltará ao normal sem limpeza nos balanços dos bancos, diz Fundo
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPECIAL A WASHINGTON
O diretor-gerente do FMI,
Dominique Strauss-Kahn, afirmou ontem que a maior crise
desde os anos 1930 "ainda está
longe do seu fim". Disse também que não haverá recuperação enquanto EUA e outros
países avançados não resolverem o problema dos chamados
"ativos tóxicos", responsáveis
pelo travamento do crédito.
Strauss-Kahn alertou ainda
para o risco de descontrole na
dívida pública nos países que
estão despejando bilhões de
dólares em suas economias para recuperar a atividade. Esses
gastos, disse, são necessários
agora, mas terão de ser "atacados" no médio prazo.
"Estamos ainda muito longe
de onde deveríamos estar. Fiquei muito impressionado na
reunião do G20 em Londres
(no início do mês) com o comprometimento de todos sobre a
necessidade de limpar os balanços dos bancos. Ótimo. Voltando para casa, é difícil de implementar, suponho que por
razões políticas. E técnicas."
"Mas gostaria de dizer isso
com certa gravidade: todas as
experiências com crises passadas, e temos muitas nesta instituição, mostram que nunca há
recuperação antes que os balanços dos bancos sejam limpos. Por isso, qualquer recuperação a partir de 2010 depende
do que for feito nessa área."
O FMI estima que apenas os
bancos norte-americanos tenham cerca de US$ 2,8 trilhões
(mais de duas vezes o PIB do
Brasil) em "ativos tóxicos" nas
suas carteiras de crédito. O valor subiria a US$ 4 trilhões somando os de outros países.
Os "ativos tóxicos" são resultado de empréstimos realizados no passado sem garantias
suficientes e lastreados, em
grande parte, por títulos relacionados ao mercado imobiliário. Quando a "bolha imobiliária" explodiu a partir de 2007,
esses ativos perderam valor rapidamente, abrindo rombos
imensos nos bancos.
Os bancos têm relutado em
emprestar mais dinheiro para
empresas e consumidores temendo levar calotes. Isso alimenta o ciclo vicioso desta recessão: os bancos não emprestam, as pessoas não consomem,
a recessão se agrava.
Para o médio prazo, Strauss-Kahn recomendou "atenção"
com o aumento do endividamento dos países que tentam
agora estimular suas economias. Segundo as projeções do
FMI, entre os países do G20, o
endividamento tende a subir
do equivalente a 80% do PIB
dessas economias em 2008 para cerca de 120% do PIB em
2011 (no pior cenário).
Mais empréstimos
O diretor-gerente do Fundo
afirmou que até domingo,
quando termina a reunião conjunta do FMI e Banco Mundial,
espera ter contabilizado cerca
de US$ 500 bilhões em novos
recursos. Hoje, o Fundo tem
cerca de US$ 250 bilhões.
Entre linhas já anunciadas
ou em negociação, o Fundo tem
US$ 147 bilhões comprometidos até este mês. Cerca da metade do valor será emprestada
por meio da nova Linha de Crédito Flexível, que não exige
condicionalidades tradicionais
de outros programas do Fundo.
Até agora, apenas o México
teve um empréstimo aprovado
nesses termos, de US$ 47 bilhões. Mas Polônia (US$ 20 bilhões) e Colômbia (US$ 10 bilhões) já recorreram à aprovação de créditos nesse molde.
O FMI anunciou que duplicará o limite de empréstimos
que podem ser concedidos a
seus países-membros mais pobres, um total de 78 nações.
Esses países integram o chamado Programa de Redução de
Pobreza e Auxílio ao Crescimento do Fundo. Eles agora
poderão tomar emprestado
duas vezes mais dinheiro em
relação ao que têm direito relativamente à sua participação
no capital do FMI.
Também ontem, o presidente do Banco Mundial, Robert
Zoellick, exortou os países a
evitar medidas protecionistas.
Segundo Zoellick, houve ao
menos 23 novas barreiras impostas por seis países e pela
União Europeia desde a reunião do G20, em Londres. Os
EUA impuseram 10 medidas. O
Brasil, 4. A UE, 6.
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