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OPINIÃO ECONÔMICA
Arapuca eleitoral
BENJAMIN STEINBRUCH
A Folha do último dia 15
trouxe a informação de que o
governo deverá manter a meta de
inflação para 2006 em 4,5% e,
além disso, fixar também a meta
para 2007 nesse mesmo percentual.
Essa decisão, que hoje parece ter
a aprovação da maioria da cúpula do governo, poderá ser ratificada pelo Conselho Monetário Nacional em sua reunião de junho.
Ela se fundamenta na idéia de que
uma eventual flexibilização da
meta daria munição à oposição
para acusar o governo de afrouxar
a política de combate à inflação
para fazer gastos com objetivos
eleitorais -em 2006, haverá eleições para presidente da República,
para governadores, para parte dos
senadores e para deputados federais e estaduais.
Considero tal idéia equivocada.
Isso porque um eventual ajuste na
meta de inflação, para 6% em
2006 e 5,5% em 2007, por exemplo,
não mudaria praticamente nada
na atual política, mantendo-se a
necessidade de rigoroso controle
monetário e fiscal. Outra opção seria alargar o prazo para obtenção
da meta, sem mexer na taxa de
4,5%.
Uma pregação oposicionista voltada para desacreditar a firmeza
do governo na política antiinflacionária por causa desses pequenos ajustes dificilmente terá apoio
das áreas técnicas que vierem a
analisar a questão sem o viés político-eleitoral. Ou seja, será fácil refutar tecnicamente eventuais críticas eleitoreiras de políticos envolvidos na disputa de 2006.
Não é razoável tentar manter
metas tão ambiciosas nem à luz
da história inflacionária do país
-o Brasil só conseguiu índices de
inflação anuais inferiores a 4,5%
duas vezes em sua história, uma
em 1946 e outra em 1998- nem
levando em conta as experiências
internacionais nessa matéria.
O exemplo do Chile tem sido
muito citado para comprovar a tese dos que defendem um tratamento mais gradual na política de
redução da inflação. Quando o
Chile adotou o sistema de metas,
em 1989, tinha uma inflação
anual de 26%. Com sua política
gradualista, levou oito anos para
reduzir a taxa para 6,1%. Esse tratamento permitiu ao país desfrutar de altos índices de crescimento,
que atingiram 8,2% em média no
período encerrado em 1998. A partir daquele ano, o Chile continuou
aplicando políticas monetária e
fiscal fortemente contracionistas,
conseguiu reduzir ainda mais a
inflação, para 2,5% em 2003, mas
seu crescimento médio anual caiu
bastante.
O caso do Chile e os de outras
economias em desenvolvimento
têm confirmado evidências de que
os picos de crescimento em países
emergentes se dão em períodos de
inflação oscilante entre 5% e 10%
ao ano. Sempre que os índices ultrapassam esses limites, tanto para baixo como para cima, há prejuízos para a expansão econômica.
Se continuar perseguindo a meta de 4,5% em 2006, o Banco Central, que já é excessivamente conservador, não terá espaço para reduzir as espantosas taxas de juros
atualmente em vigor.
O governo Lula, portanto, está
caindo em uma arapuca eleitoral.
Quer manter a meta ambiciosa e
irrealista porque está preocupado
em escapar das críticas à falta de
firmeza na política de austeridade
monetária e fiscal. Com isso, poderá dar munição eleitoral ainda
mais pesada à oposição na campanha de 2006. O efeito dessa dose
exagerada de austeridade sobre a
economia fatalmente será a redução das taxas de crescimento da
produção e do emprego. Isso, sim,
será desastroso em termos eleitorais.
Se fugir dessa arapuca, o governo Lula estará, ao mesmo tempo,
melhorando o ambiente brasileiro
para investimentos nacionais e estrangeiros. É um equívoco achar
que os credores e investidores externos se preocupam unicamente
com a austeridade monetária e
fiscal. Isso não vale nada se a economia não estiver em expansão. A
principal razão que leva qualquer
empresa a investir é a perspectiva
de crescimento do mercado.
Tudo isso mostra quão importante é a discussão da meta da inflação. Não se pode aceitar como
líquida e certa a manutenção dos
índices de 4,5% para 2006 e 2007.
A flexibilização da meta não macula a política de austeridade, ajuda a reduzir os juros e terá efeito
positivo na atividade econômica e
no emprego.
Benjamin Steinbruch, 51, empresário,
é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho
de administração da empresa e primeiro
vice-presidente da Fiesp (Federação das
Indústrias do Estado de São Paulo).
E-mail - bvictoria@psi.com.br
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