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LUÍS NASSIF
O know-how político de FHC
Os problemas enfrentados pelo governo Lula decorrem de uma sucessão de erros. Copiou-se Fernando Henrique Cardoso no que tinha de
pior -a política econômica- e
não se aprendeu o que tinha de
melhor -a tecnologia de governabilidade.
O primeiro problema foi não
ter contido a soldadesca quando
a cidadela inimiga caiu. Qualquer general prudente trataria
de impedir o porre da vitória,
porque a ressaca vem em dobro.
Embora o caso Waldomiro tenha se tornado emblemático, o
maior problema do PT foi a desenvoltura com que se comportou seu tesoureiro Delúbio Soares, na fase de fausto e deslumbramento com o poder. Visitas a
setores que, em seguida, eram
contemplados com decisões favoráveis de política industrial
-como o caso dos estaleiros-
foram episódios fatais, agravados pelas explicações de Delúbio
em diversas entrevistas. Foi como se houvesse uma autorização para matar. Daí à multiplicação de escândalos foi um pulo.
O segundo ponto foi a maneira como se montaram as alianças partidárias. FHC tinha dois
grandes aliados -o PFL e o
PMDB- e uma constelação de
partidos menores. O PT tratou
de inchar partidos menores, para esvaziar seus adversários. Em
vez de migalhas, eles passaram
a disputar lugar no banquete.
No governo FHC, o PTB de Roberto Jefferson não tinha a menor relevância -nem a menor
capacidade de gerar uma crise
política. Em lugar de um tostão,
os partidos pequenos passaram
a cobrar 1 milhão.
Aí entra o terceiro ponto, que
foi a falta de monitoramento
das ações dos indicados. No governo FHC, o porto de Santos foi
loteado. Mas havia um olheiro
-o atual secretário dos Transportes da Prefeitura de São Paulo, Frederico Bussinger- alertando para abusos maiores.
O quarto ponto foi essa ação
continuada de montagem de
caixinha política -aliás, justificada por Delúbio nas entrevistas que concedeu no início do
governo e que hoje se transformaram em clássicos do amadorismo político. A lógica de FHC é
a de que tesoureiro de partido é
invisível e só deve atuar em período de eleição. Havendo possibilidade de vitória, não faltará
dinheiro.
Agora, está-se em uma sinuca
de bico. Sendo aprovada, a CPI
dos Correios não derrubará governos. Mas, com a crise se avizinhando, reduzirá ainda mais
qualquer disposição de Lula de
efetuar as mudanças necessárias nas políticas monetária e
cambial.
Besteirol
O último refrão dos cabeças de
planilha é essa história de que a
inflação é conseqüência da
"gastança" do governo. É evidente a necessidade de aprimorar os gastos do governo. Só que
inflação é variação de preços. E
não houve nenhum aumento
notável no volume ou na qualidade dos gastos públicos. Utilizar a "gastança" para justificar
os juros altos é tentar curar um
porre com outro.
IEA-USP
Agradeço ao reitor da USP
(Universidade de São Paulo),
Adolpho José Melfi, pelo convite
para ocupar vaga no Conselho
do Instituto de Estudos Avançados da USP, aberta com a saída
de d. Paulo Evaristo Arns. Na
verdade, trata-se de nova vaga,
porque d. Paulo é insubstituível.
E-mail - Luisnassif@uol.com.br
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