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COMÉRCIO EXTERIOR
Apesar de pressão de ricos, nova proposta brasileira não traz avanço; país diz que mudança só com negociação
Brasil mantém na OMC limites a serviços
CLÁUDIA DIANNI
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O Brasil entrega até o fim do
mês sua oferta de liberalização do
setor de serviços para as negociações da Rodada Doha, da OMC
(Organização Mundial do Comércio). Estarão fora da oferta os
segmentos de educação, saúde,
serviços sanitários e audiovisual.
Entram na oferta, entre outros,
o setor financeiro e o de telecomunicações, dois dos principais
filões do mercado brasileiro, que
o governo pretende trocar por
mais acesso aos produtos agrícolas nos países desenvolvidos.
Por uma questão de estratégia, o
governo não divulga publicamente o conteúdo da oferta até que as
trocas de ofertas sejam iniciadas.
Mas a Folha apurou que a nova
oferta não melhora o acesso, para
nenhum setor, com relação ao
atual ambiente de negócios, apesar da pressão dos países ricos por
uma maior abertura.
Os avanços, se houver, se darão
nas negociações. Se não houver
mudanças, a oferta real será a garantia de que não haverá alteração
no futuro, já que o nível de abertura estará registrado na OMC.
O Brasil é considerado um país
com um grau de abertura para o
capital estrangeiro relativamente
avançado no setor de serviços.
Mas atualmente essa abertura não
está formalizada na OMC. Uma
vez consolidada a oferta, ao fim da
Rodada Doha, o país não poderá
mais voltar atrás, sob pena de ter
que oferecer compensações aos
membros da OMC cada vez que
quiser reduzir o acesso ao capital
estrangeiro nas áreas liberadas.
É por isso que educação, saúde,
serviços sanitários e audiovisuais
estão fora da oferta. De acordo
com o chanceler Celso Amorim,
não entrarão nas negociações setores que o governo quer reservar
para aplicar suas próprias políticas públicas. "Se o governo quiser
adotar uma política de educação
que exige que as escolas ensinem
um determinado idioma, por
exemplo, poderá fazer suas próprias regras, a qualquer momento", disse Amorim na Câmara dos
Deputados na semana passada.
O mesmo raciocínio ocorre
com o audiovisual. O governo
brasileiro divide com a França a
defesa de limites à transmissão de
programas e filmes estrangeiros,
para manter a prerrogativa de
adotar leis do tipo "cotas de tela",
que reserva tempo de exibição para filmes nacionais nos cinemas.
Os EUA, donos da maior indústria mundial de entretenimento,
pressionam para que os países façam ofertas nessa área. No caso
dos serviços sanitários, são os
franceses e os britânicos que miram o mercado brasileiro.
"A oferta não é definitiva. O governo ainda poderá mudá-la até
que as negociações sejam concluídas. As negociações se dão justamente no cruzamento e melhora
das ofertas, mas é preciso que todos os países apresentem suas
ofertas iniciais para que o encontro ministerial de Hong Kong,
marcado para dezembro, tenha
substância", disse o embaixador
Clodoaldo Hugueney, subsecretário de Assuntos Econômicos e
Tecnológicos do Itamaraty.
Há empresas estrangeiras em
vários dos 11 setores que serão negociados na OMC, inclusive
atuando em telecomunicações e
serviços financeiros. Existem 65
grupos estrangeiros no sistema financeiro brasileiro, de acordo
com o Banco Central. No entanto,
para um banco entrar no Brasil
hoje é preciso que o presidente da
República assine um decreto que
autorize o investimento. Os países
ricos querem que a abertura do
mercado não dependa de cada
governo. O governo, porém, pretende manter o decreto. Pelo menos por enquanto, a regulamentação serve como uma carta na
manga para negociar acesso a outras áreas de interesse do Brasil
em setores como a agricultura.
A Rodada Doha de liberalização
comercial foi lançada em setembro de 2001. O objetivo era concluir as negociações até o fim deste ano, mas desentendimentos
entre países pobres e ricos têm
atrasado a rodada.
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