São Paulo, domingo, 24 de maio de 2009

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ROGER AGNELLI

Vamos nos aproximar da China



É fundamental entender que, na relação comercial entre Brasil e China, o jogo deve ser de ganha-ganha
A VISITA do presidente Lula à China na semana passada foi emblemática. Mais do que protocolar, a presença do chefe de Estado do Brasil em terras chinesas, pela segunda vez em menos de cinco anos, demonstra a importância que a relação entre os dois países atingiu.
Em dois dias, foram assinados 13 acordos, que resultaram em US$ 12 bilhões em financiamentos e na liberação da importação de carne de frango brasileira. Brasil e China são economias complementares. Temos recursos naturais e alimentos em quantidade e de qualidade para atender às necessidades dos chineses, que dispõem de recursos financeiros, tecnologia e mercado, que em muito ajudariam no desenvolvimento brasileiro. O comércio bilateral sino-brasileiro passou de US$ 3,2 bilhões em 2001 para US$ 36,4 bilhões em 2008. O ritmo acelerado de expansão do fluxo comercial com a China é ainda mais expressivo se comparado com o que aconteceu com o resto do mundo. Entre 2001 e 2008, a corrente de comércio do Brasil com o mundo aumentou 226%, mas com a China cresceu 1.028%. Somente nos três primeiros meses de 2009, a corrente de comércio atingiu US$ 7 bilhões, com nossas exportações chegando a US$ 3,3 bilhões. O salto nas exportações brasileiras para a China no trimestre (762%) ocorreu devido às volumosas vendas de commodities, sobretudo de minério de ferro, o principal produto das nossas exportações para lá.
Os chineses são duros negociadores. Eles defendem seu mercado fervorosamente e trabalham para que suas empresas se tornem globais. Temos de fazer o mesmo. A sociedade brasileira precisa entender o poder da alavancagem que nossos recursos naturais propiciam, como eles podem maximizar nossos ganhos, com preços que respeitem as regras de mercado, sem artificialismos e, principalmente, sem a interferência governamental.
Essa visita à China foi importantíssima, porque o povo chinês dá muita atenção a gestos. A ida do presidente Lula é um gesto que, sem dúvida nenhuma, traz consequências claras e cria um ambiente extraordinariamente construtivo. Seu valor, muito maior que os efeitos práticos de curto prazo, é a abertura e a manutenção do potencial de cooperação de longo prazo. Apesar de algumas vozes alardearem os riscos vindos do Oriente, não há motivos para temer a China. O mundo inteiro está atento a países continentais, por conta de grandes mercados internos ainda pouco explorados. A verdade é que a China talvez seja o país em desenvolvimento que, de forma mais clara e evidente, e muito competente, esteja transformando esse potencial em realidade.
É fundamental entender que nessa relação entre Brasil e China, o jogo deve ser de ganha-ganha. Tanto nós como os chineses temos de aproveitar ao máximo as oportunidades que esse relacionamento pode gerar. Para isso, o clima deve ser de cooperação, para que os resultados sejam positivos para os dois lados. Em tempos de crise, um antigo ditado pode resumir as oportunidades que surgem para os dois países: a soma das partes deve ser maior do que o todo.


ROGER AGNELLI, 50, economista e diretor-presidente da Vale, escreve neste espaço a cada quatro semanas.


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