São Paulo, segunda-feira, 24 de junho de 2002

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MERCADO EM TRANSE

Rentabilidade diária está positiva há uma semana, mas investidor continua a fugir da renda fixa e do DI

Fundos já não perdem, mas sangria continua

SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL

Os investidores continuam fugindo dos fundos DI e de renda fixa, apesar de a rentabilidade diária dessas aplicações estar positiva há pelo menos uma semana. O total de saques nesses fundos já chega a R$ 14,3 bilhões.
Os dados são do site Fortuna e consideram a movimentação desde o dia 29 de março, quando entrou em vigor a nova regra de contabilização dessas aplicações, até a última quarta-feira.
Segundo analistas ouvidos pela Folha, os saques não estão sendo provocados pelo receio da oscilação das cotas dos fundos. As perdas acumuladas registradas nas cotas desde que mudaram as regras de contabilização das aplicações, no final de maio, estão encolhendo dia a dia. Na quarta-feira, os DI estavam com rentabilidade média de -0,18%, acumulada desde o dia 29 de maio. Já os renda fixa perdiam 0,87% no período. No dia 31 de maio, quando as perdas por causa da correção das cotas dos fundos pelas novas normas atingiram seu pico, os DI rendiam -0,76%, e os renda fixa, -1,40%.
"A saída de recursos dos fundos nos últimos dias não se deve à marcação a mercado. Os investidores não estão mais preocupados com a rentabilidade negativa, e sim com o risco de perder o principal", observa o consultor William Eid, da FGV.
O aumento do risco-país, a disparada do dólar e a incerteza gerada pelo calendário eleitoral, segundo ele, são o que tem provocado a fuga dos investidores nos últimos dias. "As pessoas estão descobrindo que deixar seu dinheiro nas mãos do governo, neste momento, não é uma boa opção. O risco de crédito do governo [de não honrar a dívida" é hoje maior do que o das empresas", diz ele.
Segundo dados do site Fortuna, desde o dia 29 de maio os saques nos fundos DI totalizam R$ 6,4 bilhões, o que corresponde a 6,19% do patrimônio desses fundos. Nos de renda fixa, saíram R$ 7,9 bilhões, ou 6,25% do patrimônio líquido. Parte desses recursos está desaguando no mercado de CDBs (Certificados de Depósito Bancário). Do dia 29 até a última quinta, o volume de depósitos em CDBs totalizava R$ 15,2 bilhões. Segundo Eid, parte do dinheiro em fuga foi para a caderneta de poupança, o dólar e imóveis.
O consultor Ricardo Humberto Rocha, do Laboratório de Finanças da USP, alerta para os riscos dessa corrida em busca de portos mais seguros que os fundos. "Se todos fugirem para os CDBs, a taxa de juros paga pelos bancos cairá", diz. Como as pessoas não entendem o que é um CDB, o risco, nesse caso, é o de começarem a buscar os bancos que pagam juros maiores, mas também oferecem mais risco de inadimplência caso a crise financeira se acirre.
Para Rocha, como o governo vem trocando as LFTs (Letras Financeiras do Tesouro) de prazos mais longos por outras de vencimento neste ano, as cotas dos fundos voltaram para o azul. A médio e longo prazo, quando o mercado se tranquilizar, as perdas serão zeradas. As LFTs são o principal papel dos fundos DI e renda fixa. Quando seu preço cai no mercado, o fundo se desvaloriza.


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