São Paulo, segunda-feira, 24 de junho de 2002

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FINANÇAS

Investidores venderam ativos maciçamente nos últimos dias para tentar estancar os prejuízos, segundo analistas

Mercado espera fim de liquidação de ações

MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois de mais uma semana de forte nervosismo e de depressão de todos os ativos, não apenas da Bolsa, o mercado reabre ansioso por saber quando os investidores suspenderão as ordens maciças de vendas de ações para preservar o patrimônio.
O rebaixamento da perspectiva de classificação de risco da dívida do Brasil de estável para negativa pela agência Moody's e do nível BB- para B+ pela Fitch, na quinta-feira, agravou a tensão do mercado, que já estava em pânico.
Na sexta, foi a vez de o secretário do Tesouro dos EUA, Paul O'Neill, acelerar as perdas na Bolsa, com a declaração de que se opõe a nova ajuda do FMI (Fundo Monetário Internacional) ao Brasil.
"O mercado internacional está fechado para o Brasil, falta crédito", diz Pedro Thomazoni, diretor do Lloyds TSB.
As grandes empresas não estariam conseguindo rolar suas dívidas no exterior e, para pagá-las, estariam comprando dólares -o que pressiona mais o câmbio.
"A alta do dólar alimenta a crise, que está muito em cima de expectativas", diz Júlio Green, da corretora Geração Futuro.
Inseguros, investidores estão disseminando ordens de liquidação total para estancar o prejuízo, segundo gestores.
"Mas chega um ponto em que a perda é tão grande que eles param de vender", diz Thomazoni.
Analistas alinham entre os fatores que poderiam jogar água fria no mercado a percepção generalizada de que houve exagero na disparada do dólar e do risco-país, além do tombo sofrido pela Bolsa.
A arrancada de José Serra nas pesquisas continua a ser lembrada por analistas "como calmante essencial", embora o mercado tenha dado só um dia de trégua após a divulgação da sondagem que isolou o candidato governista no segundo lugar.
Analistas e investidores estarão ainda mais atentos às Bolsas norte-americanas nos próximos dias.
O desempenho negativo dos mercados internacionais generaliza o pessimismo. Nos Estados Unidos, a insegurança dos investidores aprofunda as perdas nas Bolsas pela quinta semana consecutiva e derruba a cotação do dólar em relação a outras moedas.
Diante do iene (moeda japonesa), o dólar registra sua pior cotação nos últimos sete meses; sobre o euro, a cotação é a mais baixa desde janeiro de 2000.
Analistas temem uma espiral de queda, com reflexos no mercado brasileiro, em que a desvalorização do dólar derrube ainda mais o preço das ações. Isso levaria investidores estrangeiros a vender ativos americanos, aumentando a pressão sobre aquela moeda.
O índice Dow Jones caiu 2,3% na semana e a Nasdaq (Bolsa eletrônica das ações de alta tecnologia) despencou 4,2% no período. Os dois barômetros do mercado atingiram suas maiores baixas no ano no fechamento de sexta-feira.
As Bolsas européias também registraram novas quedas na última semana. O índice londrino FTSE-100 caiu 9,44% no mês.
O índice Merval de Buenos Aires chegou a registrar na quinta-feira passada alta de 19,8% na semana, mas acabou caindo 2,39% no fechamento de sexta-feira.

Giro
O volume de negócios na Bovespa, que vinha sendo de aproximadamente R$ 500 milhões, subiu para R$ 709 milhões na sexta-feira passada.
As razões para esse aumento do giro dividem os analistas. "O crescimento no volume financeiro pode significar que o fim da baixa se aproxima. Por outro lado, é sinal de que também entrou compra", afirma Thomazoni.
Aos 10.397 pontos, a Bovespa está, em dólar, em 3.660 pontos.


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