São Paulo, terça-feira, 24 de junho de 2008

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Desigualdade só muda de patamar em 2016

Para Ipea, só em 8 anos Brasil deixará de ser um país "primitivo" na desconcentração de renda do mercado de trabalho

País deixará de ter a realidade "primitiva" quando índice de Gini ficar abaixo de 0,45, diz Marcio Pochmann; hoje, indicador está em 0,505


EDUARDO SCOLESE
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Mantidos os atuais ritmos de crescimento da economia, de recuperação do salário mínimo e ações de transferência de renda, somente em 2016 o Brasil deixará de ser um país "primitivo" na distribuição de renda do mercado de trabalho.
Na prática, em oito anos, diminuirá a diferença (hoje em 23,5 vezes) entre a média salarial dos mais pobres e dos mais ricos, segundo projeção feita a pedido da Folha pelo presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Marcio Pochmann.
A estimativa de Pochmann tem como base o índice de Gini, que mede a concentração de renda do trabalho nas seis principais regiões metropolitanas do país (Recife, Salvador, São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte e Rio de Janeiro).
De acordo com estudo do Ipea, divulgado ontem e feito com base em dados do IBGE, o índice passou de 0,541 no primeiro trimestre de 2003 para 0,505 no mesmo período de 2008, o que representa uma desconcentração de renda de 6,65%.
Usado para medir a desigualdade, o índice varia de zero a um. No caso, quanto mais perto de um, maior a desigualdade, e, quanto mais perto de zero, menor será a desigualdade.
Segundo Pochmann, um país deixa de ter a realidade "selvagem" e "primitiva" quando esse índice fica abaixo de 0,45. Ele disse à Folha que esse nível pode ser atingido em 2016, contando com um cenário de baixa inflação e de estabilidade nas taxas de crescimento.
O índice tem como base a renda dos ocupados, que inclui os salários, mas também aposentadorias e benefícios de programas de transferência de renda. Juros, lucros e renda da terra, por exemplo, não entram nessa conta.
Apesar de recentes quedas anuais, nos últimos dois trimestres avançou o índice que mede a concentração de renda. Passou de 0,502 no terceiro trimestre de 2007 para 0,505 no primeiro trimestre deste ano. Segundo Pochmann, novos investimentos, que exigem a contratação de trabalhadores mais qualificados, ou seja, com salários mais altos, ajudam a explicar o avanço da concentração de renda -também registrada em alguns trimestres dos anos anteriores.
Segundo o estudo, o que também chama a atenção é a forte recuperação de renda nas camadas mais pobres da população. Entre 2003 e 2007, a renda dos 20% mais pobres cresceu 25,9%, contra 5,6% dos 20% mais ricos.
Impulsionada pelo crescimento do PIB e pela redução do desemprego, a diferença é ainda maior se comparados apenas os dois extremos. No mesmo intervalo, os 10% mais pobres tiveram ganho de renda de 22%, ante 4,9% dos 10% mais ricos, diferença de 448%.

Carga tributária
Para o professor Jorge Pinho, do Departamento de Administração da UnB (Universidade de Brasília), a elevada carga tributária trava a desconcentração da renda. "O país virou uma república fiscal. Essa voracidade tributária não faz bem nem para a empresa, nem à pessoa física, nem à massa salarial. O governo não faz nada para impedir", afirma.
Segundo ele, a tendência é que as pessoas de baixa renda, por conta da baixa formação, continuem nessa mesma escala. "Hoje tem mais gente recebendo [salário ou benefícios], mas também mais gente recebendo menos. A tendência é que essas pessoas continuem recebendo menos."


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