São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2008

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OMC mantém impasse mesmo com novo formato

Reunião muda e diretor-geral inicia conversas reservadas com sete ministros

Estratégia é considerada mau prenúncio por não haver avanço com relação às principais divergências que travam a Rodada Doha

MARCELO NINIO
DE GENEBRA

Eram quase 23h30 em Genebra quando o chanceler brasileiro, Celso Amorim, deixou ontem a sede da OMC (Organização Mundial do Comércio) sem fazer comentários, após mais de oito horas de discussões para tentar romper o impasse nas negociações da Rodada Doha.
Era apenas uma pausa: o terceiro dia de reuniões em Genebra foi de duras negociações e progressos modestos, e os ministros decidiram entrar pela madrugada para salvar a Rodada. No dia anterior, diante da dificuldade em obter avanços num fórum com representantes de mais de 30 países, o diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, havia mudado o formato da reunião, reduzindo as discussões a sete ministros.
Mas depois de horas trancados ontem, Brasil, Índia, Estados Unidos, União Européia, China, Austrália e Japão ainda não haviam avançado o suficiente, forçando Lamy a interromper a reunião. Teve início então o que é conhecido como "confessionário", no jargão da OMC, com conversas reservadas do diretor-geral com cada um dos ministros.
A iniciativa de Lamy de implantar o confessionário foi interpretada como um mau prenúncio. "Nas divergências principais não houve avanço", disse à Folha um negociador.
"Cada um está mantendo suas posições e está difícil ir adiante". Por outro lado, a disposição de todos os sete ministros de continuar negociando foi considerada um bom sinal. "Todos acham que um acordo é possível", disse o negociador.
Ao longo do dia, os sinais haviam sido difusos quanto às chances de aproximar as posições. Ausente dos dois primeiros dias da reunião para acompanhar a votação no Parlamento que quase derrubou seu governo, o ministro indiano do Comércio, Kamal Nath, voltou ontem a Genebra jogando a responsabilidade pelo sucesso da Rodada nos países ricos.
"Não estou aqui para distribuir amostras grátis sem receber algo em troca", disse Nath, que disse ter voltado com motivação renovada após a vitória do partido de seu governo no Parlamento indiano. Mas alertou de que um acordo em Genebra dependia de uma concessão maior dos países ricos.
"Esta é uma Rodada em que os países desenvolvidos devem colocar algo sobre a mesa, não procurar nos bolsos dos países em desenvolvimento."
Os principais temas em discussão continuam sem apresentar progressos. Um deles é o nível de subsídios agrícolas concedidos pelos EUA. A proposta de reduzir para US$ 15 bilhões anuais feita pela representante do Comércio dos EUA, Susan Schwab, continua sendo considerada insuficiente por Brasil e Índia. No encontro de ontem Schwab continuou resistindo a melhorar a oferta.
Brasil e Índia, por sua vez, continuam a resistir à pressão de Estados Unidos e União Européia em reduzir suas tarifas industriais. Um interlocutor do ministro Celso Amorim disse à Folha que os europeus haviam acenado com concessões no acesso a seus mercados agrícolas, o que foi considerado um sinal de que as discussões podem seguir adiante.
Horas antes, num encontro bilateral, Amorim e Nath, também demonstraram ter divergências. O chanceler brasileiro pediu ao indiano que moderasse sua exigência por salvaguardas para limitar a importação agrícola. Nath quis saber também como está a discussão sobre o álcool. O chanceler brasileiro disse que o Brasil não abre mão de um acordo que lhe permita ganhar mercado para o combustível, com a queda de barreiras nos EUA e na UE.


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