São Paulo, segunda-feira, 24 de agosto de 2009

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Após desaceleração na crise, crédito privado se recupera

Dívida pública cresce, mas analistas descartam que voltará a superar a privada

Enquanto a crise derrubou a receita e elevou os gastos do governo, o lado privado da economia reagiu, com maior oferta de crédito

TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

A crise ameaçou reverter o novo quadro da divida brasileira, que desde o ano passado passou a ter no setor privado um volume superior ao do setor publico. Isso porque a retração da economia secou as captações das empresas e desacelerou o crescimento do credito privado. No setor publico, derrubou a arrecadação do governo, motivou o aumento de gastos com salários e contratações e colocou novamente em trajetória ascendente o endividamento do governo.
Mas o lado privado da economia deu sinais fortes de reação no credito, que voltou a crescer. De acordo com estudo da Fundação Ibmec, a dívida privada atingiu o pico de R$ 1,532 trilhão (51,9% do PIB) em dezembro, antes de retroceder sucessivamente em janeiro e em fevereiro, alternar meses bons e fracos, até atingir o recorde de R$ 1,549 trilhão (52,9% do PIB) em junho passado.
Já a dívida pública, cujo volume recuava desde 2002, tem crescimento desde julho de 2008, quando estava em R$ 1,244 trilhão (43,2% do PIB). Em junho, atingiu R$ 1,32 trilhão (45%), patamar em que oscilava em meados de 2006.
Para o economista Carlos Rocca, da Fundação Ibmec, dificilmente o endividamento público voltará a ficar maior do que a dívida privada, como acontecia até o início de 2008. "A arrecadação caiu e há um aumento preocupante da dívida pública no Brasil e no mundo. Mas nada indica que essa tendência [de mais crédito privado] vá se inverter novamente, principalmente com a volta da normalidade no mercado."
O economista Edmar Bacha, consultor sênior do Itaú BBA, avalia que pode demorar algum tempo para o país retomar o ritmo anterior de expansão do crédito privado e de redução da dívida pública. "Essa transição foi interrompida. É cedo para dizer que aquele processo será retomado. Acho que sim."
Especialista em contas públicas, o economista Raul Velloso é mais otimista. Ele acredita na recuperação do crédito privado e afirma que mesmo a dívida do governo voltará a cair assim que a arrecadação aumentar.
"Quando estoura a crise, os governos do mundo inteiro ganharam licença para aumentar sua dívida. O Brasil, que vinha reduzindo, achou que tinha ganhado também essa licença de não cortar gasto para compensar a redução da demanda e da arrecadação. Mas, com o fim da crise, tudo voltará ao normal."


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