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Após desaceleração na crise, crédito privado se recupera
Dívida pública cresce, mas analistas descartam que voltará a superar a privada
Enquanto a crise derrubou a receita e elevou os gastos do governo, o lado privado da economia reagiu, com maior oferta de crédito
TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL
A crise ameaçou reverter o
novo quadro da divida brasileira, que desde o ano passado
passou a ter no setor privado
um volume superior ao do setor
publico. Isso porque a retração
da economia secou as captações das empresas e desacelerou o crescimento do credito
privado. No setor publico, derrubou a arrecadação do governo, motivou o aumento de gastos com salários e contratações
e colocou novamente em trajetória ascendente o endividamento do governo.
Mas o lado privado da economia deu sinais fortes de reação
no credito, que voltou a crescer.
De acordo com estudo da Fundação Ibmec, a dívida privada
atingiu o pico de R$ 1,532 trilhão (51,9% do PIB) em dezembro, antes de retroceder sucessivamente em janeiro e em fevereiro, alternar meses bons e
fracos, até atingir o recorde de
R$ 1,549 trilhão (52,9% do PIB)
em junho passado.
Já a dívida pública, cujo volume recuava desde 2002, tem
crescimento desde julho de
2008, quando estava em R$
1,244 trilhão (43,2% do PIB).
Em junho, atingiu R$ 1,32 trilhão (45%), patamar em que oscilava em meados de 2006.
Para o economista Carlos
Rocca, da Fundação Ibmec, dificilmente o endividamento
público voltará a ficar maior do
que a dívida privada, como
acontecia até o início de 2008.
"A arrecadação caiu e há um aumento preocupante da dívida
pública no Brasil e no mundo.
Mas nada indica que essa tendência [de mais crédito privado] vá se inverter novamente,
principalmente com a volta da
normalidade no mercado."
O economista Edmar Bacha,
consultor sênior do Itaú BBA,
avalia que pode demorar algum
tempo para o país retomar o
ritmo anterior de expansão do
crédito privado e de redução da
dívida pública. "Essa transição
foi interrompida. É cedo para
dizer que aquele processo será
retomado. Acho que sim."
Especialista em contas públicas, o economista Raul Velloso
é mais otimista. Ele acredita na
recuperação do crédito privado
e afirma que mesmo a dívida do
governo voltará a cair assim
que a arrecadação aumentar.
"Quando estoura a crise, os
governos do mundo inteiro ganharam licença para aumentar
sua dívida. O Brasil, que vinha
reduzindo, achou que tinha ganhado também essa licença de
não cortar gasto para compensar a redução da demanda e da
arrecadação. Mas, com o fim da
crise, tudo voltará ao normal."
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