São Paulo, segunda-feira, 24 de agosto de 2009

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Investidor prefere corretora independente

Das dez maiores corretoras do ranking Bovespa no varejo via "home broker", apenas duas são de grandes bancos

Para analistas, investidor de ações via internet busca mais agilidade e encontra estrutura mais adequada a seu perfil em corretora independente

Alex Almeida - 5.out.08/Folha Imagem
Investidores veem painel da Bovespa; corretora independente
predomina entre "home brokers"


MARIA CRISTINA FRIAS
DA REPORTAGEM LOCAL

Entre as dez primeiras corretoras do ranking Bovespa por volume no varejo via "home broker" (sistema de negociação de ações pela internet), oito são independentes e duas são de grandes bancos.
A líder do ranking, a Ágora, foi comprada pelo Bradesco em 2007, mas permanece como operação separada do banco.
Mesmo excluindo a Ágora, o volume somado das sete independentes no varejo é superior ao de corretoras dos dois bancos.
Já no ranking geral (que inclui varejo, clientes institucionais e mesa de operações), o quadro é diferente. Destacam- -se as corretoras ligadas a grupos estrangeiros e grandes bancos, que produzem pesquisa para os gestores de investimento e fundos de pensão, os mais atuantes nesse mercado.
Por que o investidor de fundos fica preso aos grandes bancos, em que tem conta-corrente, enquanto investidores de ações procuram mais as corretoras independentes?
Para Eduardo Ippolito, diretor da corretora Banif, o investidor de "home broker" é mais sofisticado, vai atrás das melhores taxas e de produtos com mais tecnologia, de corretoras mais ágeis.
"Os clientes nesse mercado reclamam, são ativos, querem informação", afirma Wlademir Bidoy, superintendente-executivo da Bradesco Corretora, única corretora de banco entre as primeiras do ranking de varejo. Bidoy diz que algumas corretoras incrementam seus volumes ao trabalhar com autônomos, que giram carteiras próprias, além das ordens de clientes, o que não ocorre na Bradesco Corretora.
Nas líderes do ranking, a taxa de corretagem é cobrada por ordem executada: R$ 20, na Ágora, e R$ 5, na TOV. Na Bradesco Corretora, terceira colocada, a cobrança pela corretagem se dá conforme o valor operado. Vai de 0,25% até a quantia de R$ 50 mil, e cai para a menor taxa, de 0,10%, para valores a partir de R$ 1 milhão.
"Para quem opera muito, a corretagem fixa, às vezes, sai mais cara do que a cobrada pelo percentual", diz Bidoy.
Para William Eid Júnior, coordenador do Centro de Estudos em Finanças da FGV, como o investidor em ações busca mais informações, as corretoras são "imbatíveis, têm estrutura mais próxima do investidor do que os grandes bancos".
"Estrutura de banco engessa a corretora em termos operacionais. Torcemos para que o Bradesco incorpore de vez a Ágora", diz Carlos Fraga, diretor da TOV. "Para um banco, a corretora é forte concorrente para a "asset" [administradora de recursos] dele."
"Com o aumento do número de clientes, as taxas de corretagem cairão mais. As corretoras brasileiras passarão a interessar às grandes estrangeiras. Em cinco anos, haverá muita consolidação no setor", prevê Fraga.
Para Eid Júnior, ao aplicar em fundos, o cliente prefere o seu banco, independentemente da taxa de administração, principalmente porque busca segurança. "O grande banco transmite a impressão de maior segurança, que, claro, é fictícia, porque fundos são só geridos, e não possuídos pelo gestor."
Ao investir em ações, o cliente se permite correr mais riscos e buscar alternativas. Além disso, o grande banco tende a ser mais conservador ao aconselhar porque mexe com muitos clientes, acredita Eid Júnior.
Para Marcelo Guterman, professor do Insper, o grande problema da taxa de administração de fundos é a falta de concorrência. "O investidor fica preso ao banco em que tem conta. É difícil investir em outro banco sem ter de abrir conta, com aquela enxurrada de taxas."
O ideal, para o professor, seria haver "lojas" independentes em que o investidor pudesse comparar fundos de diversas casas em um mesmo lugar e consultores independentes de investimento, pagos pelo serviço que prestam.
"Imagine se a consulta do médico fosse de graça e ele recebesse dos laboratórios pelos remédios que prescrevesse (...). Pois é o que acontece com os bancos hoje." A publicidade das taxas ajuda, segundo Guterman, mas não o suficiente.
"Basta ver o que acontece com as taxas dos serviços dos bancos. São relativamente transparentes, mas não conheço ninguém que tenha mudado de banco por uma taxa menor."
Para Eid Júnior, não falta concorrência, mas sobra acomodação do investidor, que não se esforça para ter conhecimento sobre onde investe. "O sujeito gasta um tempão vendo novelas, mas é incapaz de dedicar uma hora por mês -e já seria mais do que suficiente- para analisar suas finanças."


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