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Analistas vêem ingerência política
CLÁUDIA TREVISAN
DA REPORTAGEM LOCAL
A transferência do poder concedente dos serviços públicos das
agências reguladoras para o Poder Executivo é uma das principais falhas do modelo proposto
ontem pelo governo, na avaliação
de consultores ouvidos pela Folha. Para eles, a mudança poderá
aumentar a ingerência política
nos contratos de concessão, o que
afastaria investimentos.
Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura,
afirma que a transferência seria
"lógica" se não houvesse empresas estatais participando da disputa pelas concessões. Como há,
ele prevê o comprometimento da
isenção nos processos de licitação
e o conflito de interesses dos ministros de cada área.
O caso mais emblemático seria
o da ministra Dilma Rousseff, de
Minas e Energia, que passaria a
ser responsável pelas concessões
nas áreas de petróleo e energia,
hoje a cargo da ANP (Agência Nacional de Petróleo) e Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica).
O problema é que ela também é
presidente do Conselho de Administração da Petrobras e da Eletrobrás, duas empresas interessadas nessas eventuais disputas. "Isso eleva o risco regulatório e vai
afastar ainda mais o investidor."
Renato Guerreiro, ex-presidente da Anatel (Agência Nacional de
Telecomunicações), afirma que
as agências deveriam ter as mesmas prerrogativas do Banco Central, que tem o poder de autorizar
o funcionamento de instituições
financeiras. "O órgão regulador
tem a função de organizar determinado setor e, para isso, ele precisa ter três atribuições: regulamentar, fiscalizar e outorgar contratos de concessão", afirma.
Segundo ele, a concessão ou outorga dos serviços é um dos principais instrumentos de intervenção das agências no mercado.
David Zylbersztajn, ex-presidente da ANP, não vê problemas
na transferência do poder concedente, desde que as agências
mantenham o poder de fiscalizar
a execução dos contratos.
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