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São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 2003

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COMÉRCIO MUNDIAL

Secretário do Tesouro americano conversa com ministro Palocci; Banco Mundial pede abertura agrícola

EUA buscam sintonia com Brasil, diz Snow

Rabih Moghrabi/France Presse
Vista geral da sessão de abertura da reunião conjunta entre o FMI e o Banco Mundial, em Dubai (Emirados Árabes Unidos), ontem


LEONARDO SOUZA
ENVIADO ESPECIAL A DUBAI

Um dia após o representante comercial norte-americano, Robert Zoellick, ter feito duras críticas à posição brasileira nas negociações da OMC (Organização Mundial do Comércio), o secretário do Tesouro dos EUA, John Snow, procurou contemporizar, dizendo que o seu país tem interesse em que haja "uma sintonia importante com o Brasil" nas negociações comerciais multilaterais.
A afirmação do secretário americano foi feita ao ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda), em conversa que tiveram ontem num intervalo entre os eventos da reunião anual do FMI (Fundo Monetário Internacional), em Dubai (Emirados Árabes Unidos). "Falamos de Cancún [México, onde houve na semana passada reunião da OMC], e ele [Snow] colocou de maneira muito clara que o governo americano vai continuar com sua pauta multilateral de negociações comerciais e que têm grande interesse em que haja uma sintonia importante com o Brasil", disse Palocci.
Segundo o brasileiro, os dois não trataram de negociações comerciais bilaterais dos EUA com outros países. Os EUA deixaram claro que vão partir para negociações bilaterais, caso não haja acordo em torno da pauta da OMC.
Em artigo publicado no "Financial Times" anteontem e reproduzido ontem na Folha, Zoellick disse que a principal divisão que houve em Cancún, e que teria impedido o avanço das negociações na OMC, "foi entre os que querem negociar e os que não querem". O Brasil estaria no segundo grupo.
Para o ministro brasileiro, é natural que haja conflitos nas relações comerciais entre países, mas que isso não deve impedir o bom relacionamento entre duas nações em outras esferas.
Dois dias antes do encontro com Palocci, Snow havia citado espontaneamente, em um discurso para uma platéia de ministros de Estados e banqueiros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ministro da Fazenda brasileiro como exemplos de liderança política a serem seguidos no cenário internacional atual.
Outro tema do encontro foi a relação que o Brasil tem tido com o FMI (Fundo Monetário Internacional), a qual Palocci classificou como muito importante para o país. "Fizemos um relato de como tem sido o relacionamento com o Fundo, do quanto isso tem sido importante para o equilíbrio do Brasil, e ele mostrou uma visão muito otimista, muito positiva."
Segundo Snow, Palocci disse que o governo pensa em fechar um acordo preventivo com o Fundo, mas que a decisão ainda não foi tomada.

Banco Mundial
Outro que falou sobre a reunião da OMC foi o presidente do Banco Mundial, James Wolfensohn.
Ele exortou os países ricos a abrir seus mercados agrícolas para as nações em desenvolvimento e a aumentar o percentual de ajuda dedicado a atender as populações mais pobres. ""O muro entre pobres e ricos que muitos acreditavam existir foi destruído no dia 11 de setembro, há dois anos", disse, em referência aos atentados aos EUA em 2001.
Wolfensohn criticou o "desbalanceamento" entre os US$ 300 bilhões ao ano que os países ricos pagam em subsídios a seus agricultores e os US$ 56 bilhões anuais que oferecem em ajuda às nações em desenvolvimento.
"Em Cancún, os países em desenvolvimento demostraram sua determinação em forçar um novo equilíbrio", disse Wolfensohn.
O presidente do Banco Mundial lembrou que o total da ajuda do Primeiro Mundo aos países mais pobres equivale hoje a 0,22% do PIB (Produto Interno Bruto), contra os 0,5% alcançados no início da década de 60.
"E a riqueza dos países desenvolvidos nunca foi tão grande como hoje", disse.
No ano passado, os países mais ricos do mundo se comprometeram a aumentar a ajuda anual às nações mais pobres, com US$ 16 bilhões adicionais ao ano. O dinheiro é visto como fundamental para ajudar a atingir algumas metas de redução da pobreza e de melhorias nas áreas de saúde e educação até 2015.

Colaborou Fernando Canzian, enviado especial a Dubai

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