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São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 2003

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Política fiscal americana é defendida

DO ENVIADO ESPECIAL A DUBAI

O secretário do Tesouro dos Estados Unidos, John Snow, rebateu ontem as críticas sobre a condução da política fiscal norte-americana, sobretudo as que partiram de ministros de países europeus.
Disse que, se, por um lado, o corte de impostos promovido pela administração do presidente George W. Bush aumentou o déficit das contas públicas, por outro, tem contribuído para o crescimento dos Estados Unidos, que atualmente é o principal responsável pela recuperação da economia mundial.
Snow se comprometeu ainda a reduzir o déficit fiscal americano, ao longo dos próximos cinco anos, para cerca de metade do atual. O buraco nas contas públicas dos Estados Unidos está por volta de US$ 480 bilhões, o que representa aproximadamente 5% do PIB (Produto Interno Bruto, total de riquezas produzidas) norte-americano.
"Eu asseguro a vocês [...] que nós estamos comprometidos a cortar o déficit pela metade ao longo dos próximos cinco anos, para algo abaixo de 2% do PIB, o que certamente é gerenciável", afirmou o secretário do Tesouro norte-americano a ministros de Fazenda e representantes dos países no FMI (Fundo Monetário Internacional), em uma das reuniões do encontro anual conjunto que a instituição tem com o Banco Mundial.

Dependência
Snow disse que não é "saudável" para o mundo que outros países dependam dos "consumidores americanos" para sustentar o crescimento de suas economias. Segundo ele, é preciso que as outras nações também incentivem a expansão de seus respectivos mercados.
"As exportações podem ter um papel importante, mas não se pode ter uma economia mundial bem-sucedida se todo o mundo se sustenta no setor exportador. Assim, você cria desequilíbrios", afirmou o secretário americano.
Dois dias antes, Snow já havia cobrado maior flexibilidade nas políticas econômicas dos demais países industrializados, numa referência indireta aos países-membros da zona do euro e ao Japão. O governo dos Estados Unidos tem defendido que sejam feitas reformas nas leis trabalhistas e no sistema previdenciário desses países, por exemplo, de modo a tornar suas economias mais competitivas, o que teoricamente contribuiria para maior crescimento.
O Fundo projeta que a economia dos Estados Unidos irá crescer 2,6% neste ano e 3,6% em 2004, enquanto a dos países da zona do euro cresceria 0,5% e 1,9%, respectivamente. Já para o Japão, o FMI projeta um crescimento de 2% neste ano e de 1,4% em 2004.

Flexibilidade
Segundo o secretário americano, os Estados Unidos são o único país desenvolvido que está realmente adotando medidas econômicas mais flexíveis, como o corte de impostos, para estimular o crescimento econômico.
Disse também que os Estados Unidos têm registrado enormes déficits na balança comercial nos últimos meses "em parte porque países como Japão e China miram no crescente mercado de consumo americano para [vender] seus produtos".
Snow defendeu nos últimos dias, durante os eventos do encontro do FMI, que a China adote um sistema de câmbio flutuante, permitindo que os preços de seus produtos possam responder às forças de mercado.
O governo americano vem pressionando os governos chinês e japonês para que deixem suas moedas flutuar livremente. Afirma que, ao manter uma moeda artificialmente subvalorizada, os produtos chineses e japoneses chegam aos EUA muito baratos, o que prejudicaria a indústria local.
O G7 também defendeu que a China deixe o yuan (a moeda local) flutuar mais livremente.

Resposta chinesa
O ministro das Finanças da China, Jin Renqing, reconheceu a preocupação com o yuan desvalorizado, mas afirmou que o regime de câmbio rígido só será mudado na hora em que o governo julgar apropriado.
"O governo chinês sempre manteve uma postura séria e responsável sobre esse tema", disse. Segundo informações de mercado, o banco central chinês tem comprado cerca de US$ 10 bilhões por mês para manter o yuan a uma cotação virtualmente fixa de 8,28 por dólar. As reservas chinesas estão hoje em US$ 356 bilhões, as maiores em moeda forte do mundo. (LS)


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