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FMI diz que deve "ouvir e aprender"
FERNANDO CANZIAN
ENVIADO ESPACIAL A DUBAI
O diretor-gerente do FMI (Fundo Monetário Internacional),
Horst Köhler, fez ontem uma autocrítica da instituição e disse que
a ajuda dos países ricos aos mais
pobres "não é apenas insuficiente,
mas é descoordenada e imprevisível".
Köhler afirmou que o FMI deve
aprofundar a "cultura de ouvir e
aprender" e sugeriu que os países
ricos procurem fazer concessões
na área comercial em favor dos
mais pobres.
"Devemos promover um amplo
diálogo inclusivo e assegurar que
a visão de todos os países seja levada em conta de maneira adequada", disse.
O número um do Fundo afirmou ainda que a sua instituição
"precisa prestar mais atenção" às
conexões entre países e regiões
para prevenir crises.
O discurso de Köhler foi realizado na abertura formal do encontro de representantes de 184 países na reunião anual do FMI em
Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
A declaração foi uma resposta
retórica às demandas apresentadas nos últimos dias em Dubai
pelos países em desenvolvimento,
que cobraram maior peso nas decisões do Fundo e no acesso aos
mercados desenvolvidos.
Durante todo o encontro em
Dubai, o FMI tem procurado demostrar mudanças de atitude em
relação ao discurso recente.
A nova "heterodoxia" do Fundo
atingiu seu ápice com a aprovação
de acordo com a Argentina, no sábado, considerado ""frouxo demais" por banqueiros e investidores.
Essa nova postura vem ganhando corpo desde que o Fundo passou a reconhecer que cometeu
deslizes no gerenciamento de crises em alguns países.
Em seu pronunciamento, Köhler frisou os "benefícios" do trabalho e das críticas à própria instituição feitas nos últimos meses
pelo IEO (Independent Evaluation Office), órgão do FMI criado
para reavaliar de maneira independente os seus programas.
Recentemente, o IEO divulgou
avaliações negativas sobre a atuação do Fundo no Brasil durante a
crise da desvalorização do real, no
início de 1999, e do papel desempenhado pelo FMI na Argentina.
"Os resultados [mostrados pelo
IEO] reforçam a necessidade das
mudanças que estamos tentando
promover", disse Köhler.
O discurso "inclusivo", no entanto, não agradou a todos.
Logo após o pronunciamento, o
delegado alemão no Fundo, Ernst
Welteke, foi no sentido inverso e
afirmou claramente que uma mudança na sistemática de decisões e
normas do Fundo poderia comprometer o seu "bom funcionamento".
Fracasso em Cancún
Köhler também lamentou o fracasso das negociações comerciais
em Cancún (México) há duas semanas e afirmou que os países envolvidos precisam "de vontade
política para superar os problemas e voltar o quanto antes às negociações".
"Mais do que nunca, dependerá
dos países desenvolvidos destravar o impasse na área agrícola",
disse o diretor-gerente do Fundo,
sugerindo que as nações mais ricas façam concessões ao pedido
de acesso dos mais pobres a seus
mercados agrícolas.
Nesse ponto, Köhler teve a concordância do seu compatriota alemão Welteke, que afirmou ser
"inapropriado que os países industriais gastem centenas de bilhões de dólares para proteger
seus produtos, tornando difícil
explorar os benefícios da globalização".
Na mesma linha, o representante do Canadá, John Manley, disse
que os acordos comerciais "deveriam assegurar benefícios aos países mais pobres".
Ao contrário do alemão e do canadense, Jean-Claude Trichet, represente da França, um dos países
que mais oferecem subsídios ao
setor, ignorou as críticas dos países em desenvolvimento.
"O fracasso das negociações em
Cancún são lamentáveis", disse
Trichet em tom lacônico.
Já o secretário norte-americano
do Tesouro, John Snow, adotou
uma posição intermediária e disse
que "os Estados Unidos apóiam a
posição do FMI de que ajustes são
necessários para que a liberalização do comércio ocorra".
Os subsídios norte-americanos
a seus agricultores somam hoje
cerca de US$ 50 bilhões ao ano, e
os dos europeus, US$ 100 bilhões.
Em Cancún, as negociações não
avançaram e opuseram EUA, Japão e União Européia aos países
em desenvolvimento reunidos no
G21, liderados por Brasil e Índia.
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