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"Réu colaborador", Toninho da Barcelona não delata clientela
Doleiro, no entanto, compensa a ausência de nomes com aulas detalhadas sobre o mercado paralelo de câmbio
Toninho da Barcelona foi para Curitiba após passar por cadeia que abriga membros do PCC e ser submetido a regime diferenciado
DA REPORTAGEM LOCAL
A clientela que comprava dólares de Antônio Oliveira Claramunt, apelidado Toninho da
Barcelona porque sua casa de
câmbio chamava-se Barcelona
Turismo, pode respirar sossegada. Ele não entregou ninguém para a Polícia Federal e o
Ministério Público Federal nos
três meses em que passou em
Curitiba como "réu colaborador" -eufemismo usado para
designar os que delatam crimes
que conheceram em troca de
redução da pena.
A pena de Toninho foi reduzida em cinco meses pelo TRF
da 4ª Região por conta de sua
"colaboração" com a Força Tarefa CC5, grupo de policiais e
procuradores que investiga doleiros, mas ele não revelou os
nomes daqueles que recorriam
aos serviços de sua casa de câmbio na avenida São Luís, na região central de São Paulo, segundo a Folha apurou.
Foi uma decepção para os
que integram a Força Tarefa
CC5, mas Toninho compensou
a ausência de nomes com aulas
detalhadas sobre o funcionamento do mercado paralelo de
dólar. Foi por isso que procuradores defenderam a redução de
pena diante do Tribunal Regional Federal da 4ª Região.
Um dos principais métodos
de investigação da Força Tarefa CC5 é a delação premiada,
mas Toninho não fez parte do
programa. Foi para Curitiba
em situação de desespero depois de conhecer os horrores
de um preso comum.
PCC
O doleiro foi acusado de organizar uma rebelião no presídio Adriano Marrey, em Guarulhos, e, como punição, foi
transferido para uma prisão em
Tremembé que abriga membros do PCC (Primeiro Comando da Capital) e submetido ao
RDD (Regime Disciplinar Diferenciado). Sob esse regime, o
preso é isolado e tem direito a
uma hora de sol diário.
Em Tremembé, Toninho ficou numa cela isolado por um
ano, segundo o advogado Ricardo Sayeg. Após a rebelião em
Guarulhos, teve a cabeça raspada e "apanhou muito", segundo
um familiar do doleiro que não
quis ser identificado.
"O Toninho sofreu tortura física e psicológica e foi tratado
como um preso comum, mesmo sendo bacharel em direito.
Nunca vi tanta ilegalidade", diz
seu advogado.
Sayeg diz que só não encaminhou uma denúncia à Anistia
Internacional porque o Ministério Público Federal interveio
e sanou o "tratamento ilegal" a
que ele era submetido.
Clientela famosa
A Força Tarefa CC5 tinha
muita expectativa sobre a
clientela de Toninho porque os
nomes já conhecidos tão todos
explosivos. O doleiro fez negócios com Law Kin Chong, acusado de ser um dos maiores
contrabandistas do Brasil, com
o juiz federal João Carlos da
Rocha Mattos, condenado por
venda de sentenças, e com Ari
Natalino, apontado como um
maiores adulteradores de combustível de São Paulo.
Toninho chegou a citar, em
entrevista à revista "Veja", que
havia feito remessas de dólares
para o ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça), mas depois recuou da acusação. Em
depoimento informal à CPI dos
Correios, disse que "Dario
Messer era o principal doleiro
do PT", mas não ter como apresentar provas. Messer é apontado pela Polícia Federal como
um dos maiores doleiros do
país, mas seus amigos dizem
que ele retirou-se dos negócios
para se dedicar à ioga.
Policiais acreditavam que ele
delataria políticos e empresários para sair rapidamente da
prisão, mas prevaleceu a lei do
silêncio dos que parecem saber
demais.
(MARIO CESAR CARVALHO)
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