São Paulo, segunda-feira, 24 de setembro de 2007

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Renda na Grande SP cresce abaixo da média do Brasil

Rendimento do trabalho avança 1,8% na região em 2006, ante 6,8% na média do país

Grande SP se beneficia menos do aumento do mínimo por concentrar os maiores salários, afirmam especialistas

PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO

O mercado de trabalho na Grande São Paulo viveu um 2006 pior do que o restante do Estado e do país e apresentou indicadores de rendimento abaixo da média, revelam dados da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) obtidos pela Folha.
A renda do trabalho cresceu, em média, 4,5% no conjunto do Estado mais rico do país e era estimada em R$ 1.139. O desempenho foi melhor do que na região metropolitana, onde a remuneração subiu 1,8% (em média, R$ 1.235) em 2006.
Em ambos os casos, a renda cresceu numa velocidade menos intensa do que a média nacional -alta de 6,8% em 2006. No entanto, o valor da renda média em São Paulo ainda está bastante acima da média do país, de R$ 888.
Pelos dados do IBGE, foram criados, em 2006, 725.674 empregos em todo o Estado. A alta ficou em 3,8% ante o ano anterior 2005 -acima da variação média nacional, de 2,4%.
Mais uma vez, a região metropolitana teve um desempenho mais modesto: o emprego aumentou 2,7% ante 2005, próximo à média do país. De 2005 a 2006, a Grande São Paulo registrou um acréscimo de 246.436 postos de trabalho.
Em todo o Brasil, foram criados, em 2006, 2,1 milhões de empregos -8,7 milhões no acumulado do primeiro governo Lula (2003-2006).
Especialista em mercado de trabalho, Claudio Dedecca, professor do Instituto de Economia da Unicamp, diz que, diferentemente de regiões de renda menor, São Paulo não se beneficiou na mesma proporção dos ganhos reais do salário mínimo no período.
É que no Estado, diz, o impacto do reajuste real de 13,3% em 2006 foi limitado em razão do perfil de rendimento mais alto, especialmente da região metropolitana, que concentra os mais altos salários do país e o maior nível de produtividade.
Em outras palavras, relativamente, existem menos pessoas que se beneficiam do reajuste do mínimo em São Paulo do que em outras regiões.
"Sem dúvida, o aumento do salário mínimo, em escala nacional, foi o principal fator de aumento da renda, especialmente nas camadas mais pobres. E vemos que a maior parte dos empregos gerados é com salários mais baixos, que guardam uma relação com o mínimo", diz a economista Lena Lavinas, da UFRJ.

Negociações
Segundo o Dedecca, dois outros fatores, porém, são historicamente decisivos para ampliar a renda em São Paulo: o crescimento econômico e as negociações de reajuste salariais das categorias profissionais -que, em geral, não acompanham o aumento do salário mínimo. Os dissídios na Grande São Paulo subiram, em média, 1% acima da inflação, uma proporção muito menor à correção do mínimo.
"Para o emprego e o rendimento crescerem com mais força em São Paulo, é preciso uma expansão mais duradoura da economia. Como a renda já é mais alta, há uma elasticidade menor para crescer na região metropolitana", diz Dedecca.
Há ainda um fator estrutural: o emprego na região metropolitana migra cada vez mais para o setor de serviços. Além disso, atividades de maior dinamismo também se concentram mais fora da Grande São Paulo, a exemplo do que ocorre com a indústria do açúcar e do álcool.
Essa perda relativa de empregos e a concentração em serviços de alto valor são uma tendência histórica já vivida em outras grandes metrópoles, como Nova York e Londres, afirma Dedecca.
A expansão da oferta de trabalho no Estado de São Paulo assegurou uma queda da taxa de desemprego -de 11,5% em 2005 para 10% em 2006. Ainda assim, era a terceira mais alta do país, atrás apenas do Rio de Janeiro (11,8%) e do Distrito Federal (11,5%).


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