|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Miséria diminui em menor ritmo na região
DA SUCURSAL DO RIO
Se em todo o Brasil a pobreza
caiu aos menores níveis históricos em 2006, as ações do governo e o ambiente econômico
não foram tão favoráveis para a
região metropolitana de São
Paulo, e a miséria atingia 11,8%
da população no ano passado.
O número supera o de 1995,
quando os efeitos benéficos da
estabilidade trazida pelo Real
fizeram a miséria chegar a 9,4%
-a menor marca desde 1992,
primeiro ano da série da pesquisa da FGV (Fundação Getulio Vargas) sobre pobreza. Em
2005, a proporção era de 13,1%.
No maior aglomerado metropolitano do país, a miséria também diminuiu com menos intensidade de 2005 para 2006 -2,4 pontos percentuais. Na
média do país, cedeu 3,4 pontos
-de 22,7% em 2005 para 19,3%
em 2006. Em 1995, era 28,8%.
É considerado miserável
quem vive em famílias com
renda per capita inferior a R$
125, a preços de São Paulo. Em
números absolutos, 2,32 milhões de pessoas estavam nessa
condição na Grande São Paulo
no ano passado. Em 2005, eram
2,535 milhões -ou seja, 215 mil
pessoas a menos de um ano para o outro.
Já em todo o Estado de São
Paulo, a proporção de miseráveis passou de 10,6% em 1995
para 9,9% em 2006. Em 2005, o
percentual era de 11,3%.
Os dados ilustram bem a crise do mercado de trabalho nas
metrópoles, que afetou especialmente São Paulo desde o final dos anos 90.
Áreas rurais
Sem ganhos significativos de
emprego e renda, as metrópoles viram a pobreza e a indigência crescerem, enquanto nas
áreas rurais a queda sempre foi
contínua e robusta, segundo a
economista Sônia Rocha, do
Iets (Instituto de Estudos do
Trabalho e Sociedade). No pico
da crise do emprego metropolitano, a pobreza chegou a 17,7%,
em 2003, na Grande São Paulo.
Em São Paulo, o impacto do
aumento do salário mínimo
-que tem subido sistematicamente acima da inflação nos últimos anos- sobre o mercado
de trabalho é menor, segundo
Claudio Dedecca, economista
da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
Para Rocha, as metrópoles ficaram totalmente esquecidas
pelo governo, que sempre focou suas ações para reduzir a
miséria no campo. O resultado
é a crescente percepção da miséria nos grandes centros, onde
as pessoas precisam de mais
serviços e gastam mais para ter
acesso a eles.
"Nos tempos de FHC, convivemos com crises internacionais e com uma grande crise
das metrópoles, que são as caixas de repercussão dos eventos
nacionais", diz Marcelo Neri,
coordenador do Centro de Políticas Sociais da FGV.
Segundo a FGV, a miséria nas
principais regiões metropolitanas do país saltou de 15,1% em
1995 para o pico de 21,3% em
2003. Desde então ela vem
caindo e ficou em 14,1% da população em 2006.
Já nas áreas rurais, a proporção de miseráveis se manteve
mais alta, mas o ritmo de queda
foi mais intenso. Era de 56,5%
da população em 1995, baixando até 41% no ano passado.
"O empobrecimento das metrópoles é um problema grave.
O resto do Brasil, a área rural,
foi muito bem, obrigado. Não
subiu a pobreza em nenhum
ano e a melhora foi muito grande. Nas áreas rurais, a pobreza
foi reduzida mais fortemente. E
por muitas razões: pelo desenvolvimento rural mesmo ou pelo fato de os benefícios [sociais
e previdenciários] de valores
nacionais terem mais impacto
na área rural", diz Rocha.
Diante da crise, diz Neri, o
governo federal ficou imobilizado, sem desenhar política específica para combater o problema: "Pelo governo, nada foi
feito para resolver a crise metropolitana. Há uma inércia".
Rocha concorda: "Não existe a
figura metropolitana para o governo federal. Existiu nos anos
70, mas foi perdida".
Só mais recentemente o Bolsa Família chegou aos grandes
centros urbanos, embora ainda
numa escala reduzida.
Na contramão
Em outros grandes conglomerados urbanos, a pobreza regressou aos níveis registrados
no início do Real. A exceção foi
Belém. Lá, o total de miseráveis
representava 23,2% da população em 2006 -em 2005, ficara
em 26,4%. Em 1995, o percentual era de 20,1%.
No Rio, a miséria baixou de
13,1% em 2005 para 11,5% em
2006. No primeiro ano completo do Real, havia sido de 12,7%.
A região metropolitana de
Curitiba registrou a mais baixa
taxa: 7% da população era miserável em 2006. O percentual
havia sido de 9,5% em 2005.
Em 1995, ficara em 10,2%. Recife registrou os percentuais
mais elevados -28,3% em
2006, contra 32,2% em 2005.
Em 1995, eram 32%.
(PS)
Texto Anterior: Renda na Grande SP cresce abaixo da média do Brasil Próximo Texto: Luiz Carlos Bresser-Pereira: Agronegócio, indústria e taxa de câmbio Índice
|