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LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA
Agronegócio, indústria e taxa de câmbio
É preciso um acordo que
garanta uma taxa de câmbio
mais alta e estável para os
agricultores e para a indústria
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O 4º Fórum de Economia da
Fundação Getulio Vargas,
realizado na última semana,
em São Paulo, debateu os problemas
fundamentais da economia brasileira. É impossível resumi-lo aqui, mas
creio que alguns fatos ficaram claros: há períodos na história dos países em que esses experimentam
processos extraordinários de crescimento econômico; esses períodos
estão sempre associados a uma estratégia nacional de desenvolvimento caracterizada por taxa de câmbio
competitiva, que estimula os investimentos voltados para as exportações. Enquanto países como a China, a Índia e a Argentina estão vivendo períodos como esse, o Brasil está
ficando cada vez mais para trás, porque, em vez de ter um acordo nacional, segue os princípios da ortodoxia convencional: ajuste fiscal frouxo,
juros altos e câmbio apreciado.
Por outro lado, ficou claro que o
governo não alterará a política macroeconômica que é responsável por
esse atraso crescente, porque se sente no melhor dos mundos possíveis.
Graças a um enorme crescimento
das exportações ocorrido nos últimos cinco anos, as taxas de crescimento melhoraram, a inflação está
baixa, a taxa de juros real caiu, os indicadores sociais são de redução da
pobreza e de desconcentração da
renda, a popularidade do presidente
continua elevada, e, portanto, o papel do governo é apenas deixar que a
economia "siga seu curso natural".
Ficou claro também que a sobreapreciação do câmbio resulta, de um
lado, da atração que os juros altos e
as perspectivas de lucro com o álcool
proporcionam, e, de outro, da doença holandesa -ou seja, de exportações usando recursos naturais que
pressionam a taxa de câmbio para
baixo e vão causando inexoravelmente a desindustrialização. O único participante que discordou desse
diagnóstico afirmou que não havia
doença holandesa "porque o agronegócio e o setor mineral, que dariam origem à doença holandesa,
são sofisticados tecnologicamente".
Ora, não é necessário que o setor seja de baixo valor adicionado per capita para que origine doença holandesa. Na indústria do petróleo, os salários médios pagos são muito altos,
atestando o alto valor adicionado.
Não creio, entretanto, que alguém
possa supor que o Brasil poderá empregar sua imensa população apenas com agronegócio e mineração.
Ou que esteja disposto a renunciar a
qualquer outra atividade comercializável que não sejam essas.
Por outro lado, os próprios representantes do agronegócio no fórum
deixaram claro que a atual taxa de
câmbio não é em absoluto satisfatória para eles. Com essas taxas, só são
realmente rentáveis as explorações
agrícolas próximas aos portos.
Conclui-se, portanto, que é possível estabelecer um acordo nacional
entre o agronegócio e a indústria de
transformação sobre como neutralizar a doença holandesa e retomar o
verdadeiro desenvolvimento econômico. Um acordo que garanta uma
taxa de câmbio um pouco mais alta e
mais estável para os agricultores e
que garanta uma taxa de câmbio
substancialmente maior do que a
atual para a indústria brasileira. Para isso, será necessário promover a
depreciação da moeda por meio de
forte e provisório controle de entrada de capitais, estabelecer em seguida uma contribuição sobre uma parcela da depreciação obtida e criar
um fundo de estabilização dos preços agrícolas. Ou, em outras palavras, que também o governo se volte
para o desenvolvimento.
LUIZ CARLOS BRESSER-PEREIRA , 73, professor emérito
da Fundação Getulio Vargas, ex-ministro da Fazenda, da
Reforma do Estado, e da Ciência e Tecnologia, é autor de
"As Revoluções Utópicas dos Anos 60".
Internet: www.bresserpereira.org.br
lcbresser@uol.com.br
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