São Paulo, segunda-feira, 24 de setembro de 2007

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Boom eleva preço de escritório classe A

Aluguéis de imóveis comerciais de alto padrão sobem 30% em relação a 2006 e chegam a custar até R$ 100 o metro quadrado em SP

Espaços vagos não chegam a 5% em regiões como as das avenidas Faria Lima e Berrini; preços se comparam aos de Nova York e Madri

Marcelo Ximenes/Folha Imagem
Prédios na Brigadeiro Faria Lima (SP); aluguéis subiram 30% no ano


TONI SCIARRETTA
DA REPORTAGEM LOCAL

O Brasil do dinheiro farto, da concorrência acirrada, dos salários altos, dos ganhos financeiros de escala e das taxas de retorno civilizadas tem endereço: vai da região da avenida Brigadeiro Faria Lima até a Luiz Carlos Berrini, no eixo sudoeste de São Paulo, lugar a que já chegou o chamado "grau de investimento", o selo de bom pagador que o país tanto almeja obter em até dois anos.
Na região, faltam espaços vagos para novos escritórios. Há fila de espera nos prédios mais concorridos. Imóveis vagos somam menos de 5%. Os preços dos aluguéis de novos espaços subiram até 30% em relação ao ano passado e atingiram mais de R$ 100 o metro quadrado por mês na Faria Lima. A cifra é compatível com Nova York, Cingapura e Madri, mesmo sem transporte -não há metrô no local- e infra-estrutura de serviços públicos, que fizeram daquelas cidades entrepostos do capitalismo internacional.
Novos prédios nem são entregues e já têm contratos de pré-locação que chegam a 100% da área disponível, como aconteceu recentemente com o Icon e com o Square, ambos na Faria Lima. Investidores estrangeiros de porte -como o fundo de pensão dos servidores da Califórnia, que comprou o antigo BankBoston, o Golden Tree e o poderoso Carlyle, o maior fundo do mundo- batem às portas de construtoras atrás de oportunidades de investimento na construção e locação de escritórios da região. Eles pedem retorno de cerca de 10% ao ano, inferiores aos juros brasileiros de 11,25%, mas melhores que os de seus países.
"O setor de escritórios é um termômetro que adianta o que o país vai viver daqui a alguns anos", diz Danilo Ferrari Monteiro, gerente de investimentos da consultoria CB Richard Ellis, uma espécie de imobiliária comercial de luxo.
"O setor comercial imobiliário é um bom sinalizador de que períodos positivos estão por acontecer. A procura por escritórios em São Paulo é a maior desde 2000", diz Paulo Remy Gillet, vice-presidente do Grupo WTorre.
O grupo adquiriu o antigo esqueleto da Eletropaulo na Juscelino Kubitschek por R$ 350 milhões e vai construir um shopping, um hotel e duas torres de escritórios ao lado da butique Daslu. Para se financiar, planejava abrir o capital na Bolsa, mas teve de adiar o plano devido à crise nos mercados.
Sede das principais consultorias, auditorias, escritórios de advocacia, fundos, corretoras e bancos de investimento, a Faria Lima não tem mais para onde se expandir. Na avenida, só há um grande prédio em construção, próximo da Juscelino, que será entregue em 2008, mas já tem pelo menos 30% de pré-locação. A avenida é hoje a mais cara do país, com média de R$ 85 o metro quadrado, segundo Milena Morales, gerente de pesquisa da Cushman & Wakefield, outra imobiliária e consultoria. "Estamos no melhor momento. Até 2009, o crescimento está garantido. Todos os holofotes estão na Faria Lima."
A região não comporta mais projetos grandiosos, que devem se espalhar por outras áreas da cidade, interior paulista e capitais, como Campinas, Curitiba e Belo Horizonte.
Todo esse boom imobiliário aconteceu mesmo sem financiamento, segundo Monteiro, da Richard Ellis. "Estamos apenas no começo. Quando tiver crédito, é que a coisa acontece."
Para a WTorre, as necessidades das empresas que procuram por esses espaços são cada vez mais complexas. "É preciso levar em consideração oferta de restaurantes, lojas, academias de ginástica, bancos, cinema, hotel etc.", diz Gillet.
"Quem quiser hoje um espaço classe A de mais de 10 mil metros quadrados terá de ir para o prédio do antigo BankBoston. É o único disponível na cidade", afirma Pedro Candreva, diretor de vendas da Jones Lang LaSalle, outra consultoria e imobiliária de luxo.
O prédio foi comprado por R$ 350 milhões pela incorporadora americana Hines, que tem capital do fundo de pensão dos servidores da Califórnia. Segundo Ronald Ansbach, responsável pelo projeto, o local abrigará duas novas torres e um shopping. A previsão é investir R$ 500 milhões.


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