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Na ONU, Lula critica mercados e Bush
Presidente defende multilateralismo para regular os mercados globais e diz que esperava mais do discurso de americano
Brasileiro ataca "anarquia especulativa" e o "fundamentalismo de mercado" na Assembléia Geral em Nova York
DANIEL BERGAMASCO
DE NOVA YORK
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu ontem, na
abertura da 63ª Assembléia Geral da ONU, maior participação
de órgãos multilaterais na regulação dos mercados financeiros. Ele fez críticas ao que chamou de "anarquia especulativa" e ao breve comentário sobre a crise feita pelo presidente
dos EUA, George W. Bush, o segundo líder a discursar.
"Eu lamentei, porque eu imaginei que o presidente Bush, na
última aparição dele nas Nações Unidas, (...) falaria um
pouco da crise econômica, ou
seja, o que o governo americano pretende fazer", disse.
"Mas ele fez a opção por voltar a falar de terrorismo e eu,
obviamente, como sou defensor da liberdade dos povos e da
soberania dos discursos dos
presidentes, eu fui obrigado,
então, a ficar quieto. Eu esperava que ele fosse falar da crise
econômica, que eu acho que era
a coisa mais importante neste
momento, que ele pudesse citar
a dificuldade que está encontrando na Rodada Doha, mas de
qualquer forma, gente, cada um
faz o seu pronunciamento."
Discursando logo após a fala
de abertura do secretário-geral
da ONU, Ban Ki-moon, Lula
criticou a desregulamentação
do mercado financeiro e pediu
mais autoridade para organismos econômicos supranacionais (como o Banco Mundial)
"para coibir a anarquia especulativa", já que, para ele, "a ausência de regras favorece aventureiros e oportunistas, em
prejuízo das verdadeiras empresas e dos trabalhadores".
"A euforia dos especuladores
transformou-se em angústia
dos povos após a sucessão de
naufrágios financeiros que
ameaçam a economia mundial.
As indispensáveis intervenções
do Estado, contrariando os fundamentalistas do mercado,
mostram que é chegada a hora
da política. Somente a ação determinada dos governantes, em
especial naqueles países que
estão no centro da crise, será
capaz de combater a desordem
nas finanças internacionais",
afirmou o presidente.
Lula usou o pedido de esforços conjuntos no combate à especulação desenfreada para defender maior cooperação entre
os países, para que se encontrem soluções para outras crises mundiais, como a energética e a ambiental. Ele também
voltou a defender a ampliação
do Conselho de Segurança da
ONU, o álcool de cana-de-açúcar, a Rodada Doha e o estreitamento entre nações do hemisfério Sul em parcerias e acordos
que não necessariamente envolvam os países desenvolvidos
do Norte.
Imigração
Suas críticas mais contundentes, entretanto, foram sobre a política mundial de imigração. O presidente não citou
nominalmente a Diretiva de
Retorno, lei aprovada pela
União Européia em junho que
estabelece punições mais rígidas a imigrantes ilegais, mas se
referia a ela.
"O Muro de Berlim caiu. Sua
queda foi entendida como a
possibilidade de construir um
mundo de paz, livre dos estigmas da Guerra Fria. Mas é triste constatar que outros muros
foram se construindo. E com
enorme velocidade. Muitos dos
que pregam a livre circulação
de mercadorias e capitais são os
mesmos que impedem a livre
circulação de homens e mulheres, com argumentos nacionalistas -e até racistas- que nos
fazem evocar -temerosos-
tempos que pensávamos superados."
Leia a íntegra do discurso
de Lula na ONU
www.folha.com.br/082671
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