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Estrangeiros colocam US$ 40 bi no mercado
Investimentos em ações e renda fixa somados já superam em quase o dobro a previsão do Banco Central para o ano inteiro
Aumento no fluxo de
dólares para o país foi o
argumento utilizado pelo
governo para taxar com IOF operações de estrangeiros
EDUARDO CUCOLO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O investimento estrangeiro
em ações de empresas brasileiras atingiu em outubro o maior
valor em mais de 60 anos. Faltando uma semana para o fim
do mês, o Banco Central já registrou transações de mais de
US$ 13 bilhões. Isso representa
mais de 40% do dinheiro direcionado para esse mercado em
todo este ano. O valor está influenciado pelo lançamento de
ações do Santander Brasil, a
maior operação desse tipo realizada neste ano em todo o
mundo.
Cerca de um terço desse dinheiro não chegou a entrar no
país, pois se refere às compras
de papéis de empresas nacionais negociadas na Bolsa de
Nova York, onde a filial do banco espanhol também vendeu
ações na operação realizada no
começo do mês.
Se forem considerados ainda
os investimentos estrangeiros
em renda fixa, principalmente
títulos públicos, a entrada de
capital estrangeiro nesses mercados já chega a quase US$ 40
bilhões, bem acima da previsão
feita há cerca de um mês pelo
BC para este ano, de US$ 22 bilhões até o final de 2009.
O aumento no fluxo de dólares para esses investimentos no
Brasil foi o argumento utilizado
pelo governo para taxar as operações de estrangeiros com
ações e títulos, que começaram
a pagar 2% de IOF (Imposto sobre Operações Financeiras)
desde a última terça-feira.
Além do Santander, outras
ofertas de ações podem trazer
mais US$ 20 bilhões ao país até
o fim do ano e pressionar o dólar ainda mais para baixo.
Em entrevista à Folha, ontem, o ministro Guido Mantega
(Fazenda) afirmou que os dirigentes do mercado de capitais
estão "chorando de barriga
cheia" ao criticar a taxação dos
estrangeiros, pois "nunca na
história de um governo a Bolsa
de Valores teve uma expansão
tão fantástica". O ministro disse que, se o governo não fizesse
nada, o dólar já estaria abaixo
de R$ 1,50. Ontem, fechou cotado a R$ 1,713.
Os dados do BC mostram
que, até o momento, não houve
reversão desse fluxo. Nas três
primeiras semanas deste mês,
as operações comerciais e financeiras com o exterior já
trouxeram para o país US$ 13,7
bilhões, segundo maior valor
da série histórica oficial, iniciada em 1947.
O BC comprou cerca de metade desse valor para reforçar
as reservas internacionais e
evitar uma desvalorização ainda maior da moeda norte-americana em relação ao real, o que
preocupa, principalmente, a
indústria exportadora.
Somente nos três primeiros
dias desta semana, entraram
US$ 3 bilhões no país. O BC
disse que não é possível afirmar se os dados já refletem a
taxação, já que grande parte
desse dinheiro se refere a operações contratadas na semana
anterior.
Para o economista Carlos
Thadeu de Freitas, ex-diretor
do BC, o capital estrangeiro
continuará vendo no Brasil
uma das melhores oportunidades de investimento, mesmo
com a taxação pelo IOF.
Para ele, as previsões feitas
pelo BC para a entrada de dólares no país neste ano devem ser
superadas até dezembro.
"Há um excesso de liquidez
no mundo, com taxas de juros
negativas em muitos países. Os
investidores estão buscando alternativas, e o Brasil é a melhor
opção", afirmou.
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