São Paulo, sábado, 24 de outubro de 2009

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China prepara envio de missão comercial bilionária ao Brasil

Entre as 60 empresas que vêm em novembro, estão gigantes do petróleo, da comunicação e da mineração

Especialistas, no entanto, dizem que missões podem ser apenas "ofensivas de charme" com o objetivo de conquistar aliados


RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM

O Ministério do Comércio da China e uma agência estatal destinada a promover investimentos do país no exterior estão organizando uma missão de 60 grandes empresas chinesas ao Brasil em novembro.
A missão ocorrerá simultaneamente ao encontro da Cosban (Comissão Sino-Brasileira de Alto Nível de Concertação e Cooperação), que reúne representantes de ministérios dos dois países, no dia 4 de novembro, segundo fontes diplomáticas e empresariais confirmaram à Folha.
Entre as 60 empresas que devem mandar representantes ao Brasil, estão a petrolífera Sinopec, que assinou acordo de US$ 10 bilhões com a Petrobras; a ZTE, de telecomunicações; as empreiteiras Shandong Wanda; a Sany, de maquinaria pesada; a Sinotrans, de logística e transportes; a China South Locomotive, de trens, vagões de metrô e trilhos; e a mineradora China Metals.
Boa parte da missão é formada por empresas estatais. A reunião da comissão binacional será presidida pelo vice-presidente brasileiro, José Alencar, e pelo vice-primeiro ministro chinês, Wang Qishan, que encabeça a delegação chinesa.
Instalada em 2006, a comissão binacional ficou adormecida até abril deste ano, quando finalmente houve a primeira reunião para discutir economia e comércio entre as duas partes em Pequim.
Com a crise em seus principais mercados (União Europeia, EUA, Japão), a China começa a dar mais atenção no momento a mercados emergentes.
O Conselho Chinês para a Promoção de Investimentos Internacionais (CCIIP, sigla em inglês), que organiza a missão empresarial, não aceitou pedido de entrevista para comentar os objetivos da viagem.

Viagens de compras
É a primeira delegação dessa envergadura a visitar a América Latina. A imprensa estatal chinesa costuma chamar essas missões de "viagens de compras" pelos investimentos possíveis graças à riqueza das estatais chinesas.
Apenas entre 2006 e 2008, três missões do tipo foram feitas aos Estados Unidos. A primeira, em 2006, levou representantes de 202 empresas a 14 cidades americanas. Foram anunciados US$ 16 bilhões em investimentos, da compra de 80 Boeings a um acordo tecnológico de US$ 1,7 bilhão.
Em 2007, outra missão levou 208 companhias chinesas, que visitaram 25 cidades americanas. Os acordos pularam para US$ 32 bilhões.
Em fevereiro deste ano, em pleno auge das más notícias da crise econômica mundial, o Ministério do Comércio chinês organizou uma missão para a Europa, que recebeu grande divulgação na China e tapete vermelho na Alemanha, Espanha, Reino Unido e Suíça, com cem empresas. Negócios de US$ 13 bilhões foram anunciados, de aviões e maquinaria até vinhos.
Desde 2004, o governo chinês anuncia promessas de investimentos bilionários no Brasil, que começaram a se concretizar apenas em maio deste ano com a linha de crédito de US$ 10 bilhões da Sinopec para a Petrobras.
Um projeto de uma siderúrgica da Baosteel no Brasil, de US$ 4 bilhões, foi cancelado exatamente há um ano.
Especialistas dizem que muitas vezes tais missões são apenas ofensivas de charme, nos quais a promessa de investimentos já é suficiente para a China conquistar aliados pelo mundo, mesmo que eles não se concretizem depois.


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