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China prepara envio de missão comercial bilionária ao Brasil
Entre as 60 empresas que vêm em novembro, estão gigantes do petróleo, da comunicação e da mineração
Especialistas, no entanto, dizem que missões podem ser apenas "ofensivas de charme" com o objetivo
de conquistar aliados
RAUL JUSTE LORES
DE PEQUIM
O Ministério do Comércio da
China e uma agência estatal
destinada a promover investimentos do país no exterior estão organizando uma missão de
60 grandes empresas chinesas
ao Brasil em novembro.
A missão ocorrerá simultaneamente ao encontro da Cosban (Comissão Sino-Brasileira
de Alto Nível de Concertação e
Cooperação), que reúne representantes de ministérios dos
dois países, no dia 4 de novembro, segundo fontes diplomáticas e empresariais confirmaram à Folha.
Entre as 60 empresas que
devem mandar representantes
ao Brasil, estão a petrolífera Sinopec, que assinou acordo de
US$ 10 bilhões com a Petrobras; a ZTE, de telecomunicações; as empreiteiras Shandong Wanda; a Sany, de maquinaria pesada; a Sinotrans, de
logística e transportes; a China
South Locomotive, de trens,
vagões de metrô e trilhos; e a
mineradora China Metals.
Boa parte da missão é formada por empresas estatais. A
reunião da comissão binacional será presidida pelo vice-presidente brasileiro, José
Alencar, e pelo vice-primeiro
ministro chinês, Wang Qishan,
que encabeça a delegação chinesa.
Instalada em 2006, a comissão binacional ficou adormecida até abril deste ano, quando
finalmente houve a primeira
reunião para discutir economia
e comércio entre as duas partes
em Pequim.
Com a crise em seus principais mercados (União Europeia, EUA, Japão), a China começa a dar mais atenção no
momento a mercados emergentes.
O Conselho Chinês para a
Promoção de Investimentos
Internacionais (CCIIP, sigla
em inglês), que organiza a missão empresarial, não aceitou
pedido de entrevista para comentar os objetivos da viagem.
Viagens de compras
É a primeira delegação dessa
envergadura a visitar a América
Latina. A imprensa estatal chinesa costuma chamar essas
missões de "viagens de compras" pelos investimentos possíveis graças à riqueza das estatais chinesas.
Apenas entre 2006 e 2008,
três missões do tipo foram feitas aos Estados Unidos. A primeira, em 2006, levou representantes de 202 empresas a 14
cidades americanas. Foram
anunciados US$ 16 bilhões em
investimentos, da compra de
80 Boeings a um acordo tecnológico de US$ 1,7 bilhão.
Em 2007, outra missão levou
208 companhias chinesas, que
visitaram 25 cidades americanas. Os acordos pularam para
US$ 32 bilhões.
Em fevereiro deste ano, em
pleno auge das más notícias da
crise econômica mundial, o Ministério do Comércio chinês
organizou uma missão para a
Europa, que recebeu grande divulgação na China e tapete vermelho na Alemanha, Espanha,
Reino Unido e Suíça, com cem
empresas. Negócios de US$ 13
bilhões foram anunciados, de
aviões e maquinaria até vinhos.
Desde 2004, o governo chinês anuncia promessas de investimentos bilionários no
Brasil, que começaram a se
concretizar apenas em maio
deste ano com a linha de crédito de US$ 10 bilhões da Sinopec
para a Petrobras.
Um projeto de uma siderúrgica da Baosteel no Brasil, de
US$ 4 bilhões, foi cancelado
exatamente há um ano.
Especialistas dizem que muitas vezes tais missões são apenas ofensivas de charme, nos
quais a promessa de investimentos já é suficiente para a
China conquistar aliados pelo
mundo, mesmo que eles não se
concretizem depois.
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