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Apesar de semelhanças, crise de 29 foi mais intensa que a atual
Na década de 30, desemprego nos EUA bateu nos 25%, ante quase 10% hoje
JANAINA LAGE
DE NOVA YORK
"A tragédia real é que pessoas
que nunca especularam, mas
apenas investiram em bancos e
em títulos, estão sofrendo junto com as outras. As ruas estão
cheias de pobres, desempregados, lojas disponíveis para alugar em todo o lugar, sinais de
bancos fechados. Vai levar muito tempo para esquecer isso."
O texto poderia resumir a situação dos EUA pós-crise financeira, mas se trata na verdade de um trecho do diário de
Benjamin Rott, um advogado
de Ohio que registrou dia após
dia durante toda a década de
1930 os sinais da crise econômica que tomou o país com o
crash da Bolsa de Nova York.
Oitenta anos depois, a Grande Depressão ainda é um marco
na história econômica do país.
Mas, apesar das comparações, especialistas e pessoas
que viveram aquele período
afirmam que não há comparação entre a amplitude das crises. No auge da Grande Depressão, um em cada quatro americanos estava desempregado.
Hoje, a taxa de desemprego no
país está pouco abaixo dos 10%.
Para especialistas, duas lições da crise de 1929 evitaram a
repetição do cenário neste ano:
a rapidez com que o governo
decidiu intervir nos mercados e
as redes de programas sociais.
Na década de 1930 não havia
seguro desemprego ou seguridade social. E o governo demorou mais para agir.
"A crise atual é a maior que o
mundo já viu desde o fim da Segunda Guerra, mas não é da
mesma magnitude da crise de
1929, que afetou gravemente o
emprego e o consumo", afirma
Gary Burtless, especialista do
Brookings Institute.
No período, as famílias se divertiam com pouco e evitavam
gastos. O cinema chegou a custar US$ 0,25, um prato de sopa
custava US$ 0,01 e, ainda assim, muitos não podiam pagar.
"Minha mãe preparava comida extra sempre que podia e me
pedia para distribuir aos vizinhos. Eles tinham crianças pequenas e uma vez acabei jantando com eles. Minha mãe logo me repreendeu: disse que
eles precisavam de toda a comida que pudessem ter. Essa solidariedade não existe mais", diz
James Moore, 82, professor
aposentado em Nova York.
A rede local foi substituída
por programas federais. Dados
do Departamento de Agricultura americano mostram que o
programa de distribuição de recursos para compra de comida,
o "food stamps", nunca teve
tantos beneficiários. Em setembro de 2008 o programa
atendia 31,5 milhões de pessoas. Em julho deste ano (último dado), 35,8 milhões.
O programa lançado pelo governo para combater a crise, o
American Recovery Act, estima
que foram criados ou salvos
mais de 30 mil empregos.
As Forças Armadas também
voltaram a ser a porta de entrada para o mercado de trabalho
para boa parte dos jovens americanos. Neste ano, atingiram a
meta de recrutamento pela primeira vez desde 1973.
As semelhanças não terminam aí. Daniel Roth, 80, filho
do advogado que relatou o dia a
dia da crise, lançou as anotações do pai no livro "Grande
Depressão, um Diário", publicado em setembro de 2008.
"Lembro que meu pai me levou para ver pessoas morando
em tendas. Era gente desempregada que morava na periferia da cidade. Hoje na Califórnia surgiram novas cidades de
tendas, com gente que está desempregada há tanto tempo
que já não pode receber seguro-desemprego. É assustador."
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