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OPINIÃO ECONÔMICA
Lula versus Palocci
PAULO NOGUEIRA BATISTA JR.
Peço desculpas , leitora,
por voltar ao tema Palocci.
Já tratei do assunto na semana
passada e cheguei a lançar o apelo fervoroso: "Fica, Palocci, fica!".
Por enquanto, as minhas preces têm sido atendidas. Mas há
dificuldades. A maior delas: os
interesses do presidente da República, de um lado, e os do ministro da Fazenda, de outro, passaram a divergir como em nenhum
momento desde o início do governo.
Lula quer se reeleger. As pesquisas de intenção de voto não
são nada animadoras. O presidente parece caminhar lenta e
inexoravelmente para o cadafalso da derrota eleitoral. A essa altura, a única forma de neutralizar, pelo menos em parte, o estrago provocado pelos escândalos de
corrupção seria assegurar uma
reação expressiva da economia
em 2006.
Ainda dá tempo? Lula não entregou os pontos e gostaria provavelmente de convencer o ministro da Fazenda e o presidente
do Banco Central a flexibilizar as
políticas fiscal e monetária. Com
crescimento econômico medíocre
e taxas ainda elevadas de desemprego, as chances de reeleição serão pequenas. Se dependesse do
presidente da República, o BC
aceleraria a diminuição da taxa
básica de juro ao longo dos próximos meses e a Fazenda se contentaria com um superávit primário bem menor do que os 5,2%
do PIB registrados nos 12 meses
até setembro último. Essa combinação poderia ser coerente com a
estabilização da relação dívida
pública líquida/PIB na faixa de
50% ou um pouco mais.
No entanto, o ministro da Fazenda tem outras prioridades.
Com o flanco Ribeirão Preto escancarado, ele corre o risco de ficar tão desacreditado quanto os
outros membros do ex-núcleo
duro do governo. Sabe-se que Lula não segura ninguém. Em episódios recentes, particularmente
no caso José Dirceu, vimos que
lealdade não é, digamos, o seu
ponto forte. Dirceu para Palocci,
com uma ponta mal disfarçada
de satisfação: "Eu sou você amanhã".
O ministro da Fazenda busca
agora "uma saída pelo alto"
-pelo menos como plano B. Caso não consiga continuar no governo, quer ser vítima do "efeito
Dilma", e não do "efeito Ribeirão
Preto". Em outras palavras, quer
sair como o ministro que resistiu
até o fim a propostas "eleitoreiras", de erosão dos fundamentos
fiscais. Os jornais publicaram
que ele continua insistindo em
manter, na prática, o superávit
primário bem acima da meta oficial, que é de 4,25% do PIB, ou
até mesmo em arrancar do presidente um aumento formal da
meta.
Segundo a imprensa, Lula teria
oferecido uma solução salomônica: o superávit primário continuaria superando a meta atual,
"pero no mucho". Ficaria acima
dos 4,25% do PIB, mas abaixo
dos 5% supostamente pretendidos pela Fazenda.
Será que isso resolve o conflito?
Provavelmente, não. Uma pequena flexibilização da política
econômica não mudaria o que
interessa a Lula: as suas chances
de obter um segundo mandato
nas eleições de 2006. Por outro
lado, uma flexibilização que fosse percebida como "exagerada"
ou "eleitoreira" pelos mercados
financeiros minaria as possibilidades de uma "saída pelo alto"
para Palocci. Dependendo dos
desdobramentos das investigações da República de Ribeirão
Preto e suas ramificações petistas, Palocci talvez venha a precisar muito desse plano B.
Assim, Palocci pode estar mesmo com os dias contados.
Uma última observação: se for
para substituí-lo por outro político petista de rabo preso com caixa dois e telhados de vidro variados, a crise prosseguirá exatamente da mesma forma. Todos
os podres do substituto de Palocci
serão trazidos à baila, e o tiroteio
recomeçará com outro alvo.
Como substituir Palocci? Nelson Rodrigues escreveu uma peça de teatro: "Viúva, porém honesta". Procura-se agora um protagonista para outro espetáculo:
"Petista, porém honesto".
Paulo Nogueira Batista Jr., 50, economista e professor da FGV-EAESP, escreve
às quintas-feiras nesta coluna. É autor
do livro "O Brasil e a Economia Internacional: Recuperação e Defesa da Autonomia Nacional" (Campus/Elsevier, 2005).
E-mail -
pnbjr@attglobal.net
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